Dois meses separam o jogar para cima do jogar o Felipão para fora - Foto:esporte.uol.com.br
Dois meses separam o jogar para cima do jogar o Felipão para fora
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15 de setembro, Anderson Santos (editor) & Dijair Brilhantes

Dois meses e dois dias, mais sete pontos de distância da saída da zona do rebaixamento, foi o tempo que durou a nova lua-de-mel de Luiz Felipe Scolari com a Sociedade Esportiva Palmeiras. O Felipão vencedor havia voltado com o título da Copa do Brasil deste ano, mas a péssima campanha no Brasileirão não o segurou.

O tema desta coluna era outro técnico, o da seleção brasileira de futebol, mas a demissão de alguém com o histórico de Felipão, último campeão mundial com esta mesma seleção, é marcante. Não é o primeiro caso e nem será o último de um ídolo sendo "expulso" de um clube brasileiro, mas até que ponto os números são mais importantes? Respeito ou resultado?

A segunda passagem

Luiz Felipe é o segundo técnico com mais jogos no comando do Palmeiras (407), atrás apenas de Oswaldo Brandão. Sua segunda passagem pelo Palestra Itália, começou em junho de 2010.

Bateu o saudosismo na época. Por mais que o técnico não tenha vencido nenhum título importante (apenas uma liga uzbeque) desde 2002, ainda que com grande passagem pela seleção de Portugal, a torcida e a diretoria esperavam resgatar o Palmeiras vencedor da parceria Palmeiras-Parmalat. Só esqueceram que para isso era necessário ter um bom elenco.

Mesmo com os reforços de Kleber (com quem Felipão teve problemas no final do ano passado quando o atacante deixou o clube) e Valdivia, o time não conseguiu boa campanha no Brasileirão daquele ano. Na Copa Sul-Americana, foi eliminado dentro de casa pelo Goiás após vencer o primeiro jogo das semifinais em Goiânia, gerando as primeiras dúvidas sobre o trabalho do treinador, visto como "antiquado".

Em meio a novas eleições do clube, o técnico gaúcho era visto como muito caro pela oposição. Porém, apesar de ter seu nome eleito, Arnaldo Tirone optou por não enfrentar a torcida e manteve o treinador.

Em 2011, os comandados de Scolari foram duramente eliminados do Campeonato Paulista, nos pênaltis para o rival Corinthians, após uma semifinal que jogou melhor ainda que com um atleta a menos.

O pior mesmo veio da Copa do Brasil, com nova eliminação nas quartas-de-final, mas com um vexatório 6×0 para o Coritiba no Couto Pereira. Foi a partir desta eliminação que as críticas, inclusive de torcedores, passaram a ser cada vez mais frequentes. A briga com importantes diretores do clube, como Roberto Frizzo (vice de futebol) eram públicas.

No Brasileiro, após uma campanha razoável no primeiro turno, o time se distanciou da zona de classificação à Libertadores e, rodeado de problemas internos, quase se aproximou da zona de rebaixamento, com uma grande sequência de empates.

Neste ano uma reação era necessária, o clube investia alto na comissão técnica, mas pouco no time. Luiz Felipe Scolari pedia publicamente reforços à diretoria palmeirense, mas quase nunca era bem atendido.

O técnico dizia que o time precisava de experiência, contentando-se com atletas que o dinheiro do clube podia pagar naquele momento, o que também gerou críticas do próprio elenco, que era desprestigiado pelo seu comandante.

A chegada do argentino Hérnan Barcos este ano amenizou a situação, ainda que os outros jogadores pedidos não tenham chegado por falta de recursos – para piorar, o caro volante Wesley se machucou na sua quarta partida pelo clube. Com as bolas paradas de Assunção seguindo como arma, o atacante virou outra, sendo um dos principais nomes na campanha da conquista da Copa do Brasil.

 

Título não acabou com a crise

Eliminado pelo Guarani nas quartas-de-final do Paulistão, com uma clara queda de rendimento, a Copa do Brasil parecia ser o único torneio que poderia segurar a paciência dos conselheiros e torcedores palmeirenses.

A classificação para as semifinais contra o Grêmio colocavam em campo um confronto entre técnicos que brilharam nos outros clubes, com forte favoritismo de Luxemburgo. Mudando o esquema de jogo, com o zagueiro Henrique como volante, e contando com a entrada de Mazinho no final do jogo para marcar o primeiro gol da vitória por 2 a 0, Felipão voltou às graças do torcedor.

Nas finais contra o Coritiba, o estilo "copeiro" do técnico suportou até mesmo os inúmeros desfalques, como o do atacante Hernán Barcos, no dia do primeiro confronto, por conta de uma apendicite (!).

Depois um logo jejum de títulos, o Palmeiras comandado por Felipão, foi campeão da Copa do Brasil a pouco mais de dois meses. Mesmo com um time limitado – com gol de Betinho e com Luan mancando por meia hora até o final do jogo -, o trunfo foi conquistado de forma invicta.

Mesmo na zona de rebaixamento do Brasileiro, o título nacional voltava após 12 anos, e ninguém acreditava que o time ficaria se arrastando no Z4 por muito tempo. Uma breve saída próximo ao final do primeiro turno (duas rodadas) até que chegou a dar alguma tranquilidade, mas derrotas atrás de derrotas acenderam o sinal vermelho.

Mudança de discurso

O bom momento vivido com a conquista da Copa do Brasil durou pouco. As más atuações no Campeonato Brasileiro voltaram, com um time que jogava bem, mas perdia por erros bobos. Mesmo com a classificação para a fase internacional da Copa Sul-Americana, que poderia servir de laboratório para a Libertadores do ano que vem, o agora ex-técnico palmeirense lutava para manter-se no comando.

É importante lembrar que, apesar das promessas, a diretoria alviverde começou a desmontar o time. O lateral-direito Cicinho foi vendido, deixando só Arthur para a posição. Sem conseguir fechar com alguém por falta de dinheiro, a diretoria resolveu ir ao passado, trazendo Obina, Correa e Leandro (lateral-esquerdo com passagem pelo clube em 2008).

Para piorar, a série de lesões no elenco seguiam, como a de Marcos Assunção, que o deixou mais de um mês fora, e a de Fernandinho, grata surpresa dentre os "baratos" contratados. O lateral-esquerdo vinha se firmando como alternativa a Valdívia e Daniel Carvalho no meio-campo, mas só voltará aos campos no ano que vem.

Apesar da derrota para o Atlético-MG, na segunda-feira, 10 de setembro, o discurso era de apoio ao técnico pentacampeão mundial. Em entrevista coletiva, o gerente de futebol remunerado Cesar Sampaio garantiu a permanência do treinador, dizendo que o clube não tinha intenção de mudar o comando técnico e nem Felipão queria sair. Três dias depois da entrevista, Luiz Felipe Scolari foi demitido.

As constantes derrotas acabaram com o apoio que Felipão recebia de parte do Conselho Deliberativo do Palmeiras. Como o alviverde vive um ano de eleição, e o Palmeiras corre um grande risco de ser rebaixado para a Série B do Brasileirão, o Conselho tenta dar sua última cartada para salvar a terrível gestão de Arnaldo Tirone de mais um fracasso.

Indicado e apoiado por Mustafá Contursi, Tirone sempre foi visto como marionete, dada a sua falta de atiitudes nestes dois anos como presidente do clube.

Erro de gestão

O Palmeiras vive uma crise política sem precedentes, e há muito tempo. Situação e oposição travam batalhas ferrenhas nos bastidores, respingando no trabalho dos jogadores dentro de campo – com direito a vazamento de informações sobre falhas de jogadores.

Pouco dinheiro é investido no futebol, principalmente dentro de campo. Na casamata, nos últimos anos o clube contratou três dos maiores técnicos do Brasil,(Wanderley Luxemburgo, Muricy Ramalho e Luiz Felipe Scolari), demitindo todos eles.

Enquanto a política do clube não se acerta, o Palmeiras corre sérios riscos de jogar pela segunda vez na sua gloriosa história a segunda divisão do Brasil, isso num no período de dez anos.

A sete pontos do primeiro que não é rebaixado, algo teria que mudar, principalmente com jogadores sendo afastados e com várias crises internas voltando. A história construída por Felipão, com o respeito dos milhões de torcedores do Palmeiras, continua e ficará gravada nas memórias dos palmeirenses.

A preocupação imediata tem de ser a de livrar um time com tamanha história de disputar a Série B novamente. Para depois, aí sim, expor os conflitos internos no processo eleitoral de janeiro de 2013, tentando achar alguém que possa jogar para o mar os ratos que seguem no barco alviverde.

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