Que foi de mão nem Barcos duvida, mas interferência externa no apito? - Foto:Amorim
Que foi de mão nem Barcos duvida, mas interferência externa no apito?
Foto:Amorim

06 de novembro, Anderson Santos, Dijair Brilhantes & Bruno Lima Rocha

O argentino Hernán Barcos bem que tentou repetir a proeza de seu conterrâneo, Diego Maradona, mas tudo que ele conseguiu foi arrumar uma confusão no jogo e uma discussão que já se arrasta por uma semana e não deve terminar tão cedo. Representa também a volta do debate sobre a utilização ou não da tecnologia para decisões da arbitragem.

No sábado, dia 27 de outubro, o Palmeiras veio a Porto Alegre para jogar contra o Internacional. O alviverde paulistano que luta para fugir do calvário do rebaixamento, até que fez boa partida. Um bom primeiro tempo, criando mais oportunidades e até conseguiu sair ganhando, mas levou o empate logo em seguida.
Na segunda etapa é que veio o lance mais polêmico dos… ao menos das rodadas mais recentes de um Campeonato Brasileiro recheados de erros da arbitragem. Após cobrança de escanteio da equipe palmeirense, o bom centroavante (achado de Felipão) Barcos empurrou a bola com a mão para o fundo das redes. Até aí “tudo bem”. Não é necessário falar que a jogada não é válida, mas o sexteto de arbitragem não viu o lance.

Sexteto? Por mais incrível que possa parecer, seis homens que atualmente compõem a arbitragem não viram o lance. O juiz principal Francisco Carlos Nascimento apontou para o centro do gramado, o seu auxiliar fez o mesmo. Jogadores colorados cercaram o árbitro, enquanto os palmeirenses comemoravam o gol, que poderia ajudar na ressurreição. Após muita discussão o gol foi anulado.

Anulado por que, se ninguém viu?

Se o sexteto de arbitragem não viu, como anularam o gol? Essa questão foi muito discutida. Que o gol de Barcos foi com a mão não resta dúvidas, mesmo que alguns palmeirenses enxerguem pênalti do zagueiro Índio no mesmo lance – que puxaria o atacante argentino por trás, impedindo que ela possa subir para cabecear. Mas a informação crucial viria do delegado da partida, o senhor Gerson Baluta, que teria consultado a repórter da TV Bandeirantes, Tainá Espinosa e informado ao quarto árbitro, o gaúcho Márcio Coruja.

Além disso, se realmente Barcos tentou ludibriar a arbitragem, merecia ter levado um cartão amarelo, que o suspenderia da partida seguinte do Palmeiras, contra o Botafogo. Mais um argumento para crermos que realmente ninguém viu o lance.

Se isso for confirmado, o que duvidamos muito, já que está sendo negado por tudo e por todos; o sexteto ignorou uma regra fundamental imposta pela FIFA. A entidade máxima do futebol proíbe o uso de recursos eletrônicos para decidir lances de jogo, restringindo isto para lances disciplinares por parte dos respectivos juizados desportivos, ou seja, depois dos jogos.

A súmula

Todos aguardavam ansiosamente pela súmula do arbitro da partida. O que nela deveria conter de “anormal”, como está descrito neste documento. Afinal, aconteceram fatos totalmente fora de contexto de uma partida de futebol, com direito à paralisação de quase cinco minutos.

Para nossa surpresa, Francisco Carlos preencheu-a normalmente, sem observações, relatando que o jogo ocorreu dentro da normalidade, algo que foi repetido por seus auxiliares de arbitragem.

Gostaríamos muito de saber o que se passou pela cabeça do árbitro alagoano FIFA no momento do preenchimento da súmula do jogo. Afinal, relatar que tudo ocorreu dentro da normalidade é, no mínimo, um total disparate.

Consequências

Os 3 pontos ganhos pelo Internacional na partida deveriam ser retirados da tabela até o julgamento, que deve ocorrer ainda nesta semana. Porém, a CBF optou por colocar apenas um asterisco na tabela informando que o jogo está sob juízo.

Dificilmente a partida será anulada, como já falou muitas vezes o presidente do STJD Flávio Zveiter, mas a comissão de arbitragem deve ser julgada e punida – lembrando que esta foi totalmente alterada no meio do ano após um erro contra o Corinthians em partida contra o Santos.

Errar lances de jogo é coisa que ocorre em quase todas as partidas, claro que alguns “equívocos” tendem a prejudicar mais certos times em detrimento de outros. Mas usar um recurso não permitido pela regra é cometer um “crime” contra o futebol. E quanto à denúncia do Internacional contra o centroavante Barcos, o STJD não deveria nem aceitar. Fazer um gol ilegal não é algo a ser julgado fora das quatro linhas. Ficar cobrando ética do jogador por causa desse lance é outra coisa inaceitável. Ninguém pediu isso ao Luis Fabiano na Copa de 2010 – quando fez um golaço após matar a bola com o braço em partida contra a Costa do Marfim. Já Don Diego Armando Maradona é louvado em prosa e verso em função do golaço, con La Mano de Dios (já que dieguito pôs a cabeça), contra a Inglaterra. O jogaço foi na Copa do Mundo do México de 1986, Copa esta que seria na Colômbia e não foi realizada em função da insurgência do narcotráfico na terra de García Márquez. O tempo regride também no Brasil, e os sentimentos não são de nostalgia.

O fato mais triste, é que outra vez uma partida do Campeonato Brasileiro será decidida nos tribunais pelo STJD. O Sport Club Internacional sabe muito bem o que é isso, afinal em 2005 o Campeonato Brasileiro foi parar no Parque São Jorge graças à impugnação de onze partidas pela “Máfia do Apito”, escândalo que teve como protagonista Edilson Pereira de Carvalho sob o controle do inesquecível Nagib Fayad (popular Gibão). A repetição beneficiou o Corinthians, já que mesmo as partidas que ele deveria ter sido ajudado por Edilson e, ainda assim perdeu, foram realizadas novamente.

TECNOLOGIA

A International Board, que define as regras do football association tem oito membros, sendo quatro da FIFA e um de cada país que conforma a Grã-Bretanha (Inglaterra, Escócia, Irlanda do Norte e País de Gales). Os “velhinhos da IB” sempre tentam segurar qualquer modificação que implique a utilização da tecnologia nas decisões da arbitragem – algo que ocorre em torneios importantes de tênis e futebol americano. O argumento é que os erros também fazem parte do jogo.

Por conta disso, já tivemos testes com dois árbitros em campo e agora com dois auxiliares no fundo do gol. Ainda assim, continua-se a ter discussões sobre determinados lances. Por conta de constantes erros sobre se a bola entrou ou não, caso do gol da Inglaterra contra a Alemanha na Copa de 2010, a FIFA já começará a testar o chip dentro da bola.

Relembramos que dentro de campo os mais pressionados são justamente aqueles que, equivocadamente, não são profissionais: os árbitros.

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