Bruno Lima Rocha, 04 de dezembro de 2012
A Operação Porto Seguro consegue transpor barreiras simbólicas e cognitivas, trazendo para a superfície aquilo que constava em alto e bom som no impagável e inesquecível depoimento de Duda Mendonça no auge do escândalo do Mensalão. Pena que o debate não ocorra, porque quem acusa é a ala direita que está fora do governo (que também é de direita) e os críticos com lucidez se colocam de forma tímida, tentando não fazer coro com o PIG. Trago uma má notícia (velha e requentada por sinal); o buraco é bem mais embaixo, vem do andar térreo ou do subsolo e atinge às coberturas dos Jardins Suspensos de São Paulo de Piratininga e arredores. Arrivismo dá nisso.
Entendo haver chegado a hora de arriscar a analisar em português brasileiro e sem subterfúgios. Ninguém deve ser condenado pelo que faz em sua vida privada. Assim, o caso ou não de Lula com Rosemary Noronha é problema dele e de seu núcleo familiar. Mas, se as denúncias forem corretas (e não me refiro a Veja ou Época, mas sim a PF de São Paulo), espero que não acabe em anulação pelo STJ como foi o caso das operações Satiagraha, Chacal e Castelo de Areia. Sabe-se da proatividade destas assessorias de comunicação (eu mesmo já senti esta eficiência), mas apenas repito aqui o que já fora dito esta semana mesmo, em rede nacional de rádios do tipo notícias 24 horas. Para quem não faz parte do tecnicismo jurídico e não é operador de direito com alto gabarito, as anulações por parte do Superior Tribunal de Justiça são no mínimo polêmicas. Se levadas às últimas conseqüências, teríamos profundas transformações nos negócios privados para com o Estado e as compras de governo. Mas, engavetamentos, anulações e pizzas anunciadas a parte, desta vez a bomba cai no colo do mais popular líder político da história do Brasil. E, ao contrário de Vargas, a Esfinge, este não sai da vida para entrar na História mas, quando muito, cairá em ostracismo, abandonando as ganas de voltar para a carreira política profissional.
O problema é o comportamento público, e o fato de que supostamente um ex-partido de "esquerda" não consegue controlar coletivamente sua liderança. Repito este conceito como ladainha há pelo menos uma década e meia. Lula, assim como outros capas-preta da legenda, tem poder de veto e indicação próprios. Esses super-poderes somados com a capacidade de indicar e traficar influência levam a um grau de exposição e autoritarismo que faz as Dachas soviéticas e os tristes episódios pela caderneta de Mary Jeane Corner e a Mansão do Lago Sul (no Caseirogate, sendo estes casos distintos embora com a mesma motivação) reaparecerem como fantasmas muito carnais.
Não se trata de moralismo e menos ainda de falso moralismo. O problema é político (no sentido de controle) e ideológico, por reproduzir no que um dia já foi um partido reformista (e não mais do que isso, embora massivo e com reivindicações estruturais) a mesma relação de mando, privilégio e subordinação para fins inconfessáveis (embora passíveis de profundo desfrute) diante de supostos chefes políticos ou lideranças um dia legítimas e hoje vivendo de um passado outrora heróico. Na Argentina diz-se que “nada é mais perigoso do que um burocrata heróico”; abrasileirando o termo, “nada mais perigoso do que um burocrata, corrupto e com um passado aparentemente heróico!”.
Cansei de falar a respeito do pragmatismo e da existência de chefes políticos em agrupamentos que seriam coletivistas. Se toda estrutura é estruturante e Luiz Inácio é portador do pior do senso comum das classes trabalhadoras (o pior do senso comum das classes dominantes a gente vê de forma caricatural em Mulheres Ricas e outros programas "pedagógicos"), tinha de dar nisso. A redenção midiática viria numa capa de Carta Capital ou de outras mídias caracterizadas como PIG2 (Partido da Imprensa Governista). Insisto com a pergunta cabal:
– E se não for mentira do PIG? E ao que parece não é.