O senso de oportunidade política por cima das  convicções ideológicas já se manifestava no longínquo ano de 1978,  quando Luiz  Inácio apóia o ex-professor da USP para o senado, correndo pelo  MDB. - Foto:prof.guilherme
O senso de oportunidade política por cima das convicções ideológicas já se manifestava no longínquo ano de 1978, quando Luiz Inácio apóia o ex-professor da USP para o senado, correndo pelo MDB.
Foto:prof.guilherme

06 de dezembro de 2012, Bruno Lima Rocha

A Operação Porto Seguro vem expondo, ainda como suposição e caminhando a passos largos para a convicção absoluta, uma possível relação privada do ex-presidente Luiz Inácio Lula da Silva. Como por sorte não somos um país moralista e puritano como os EUA, a natureza das relações entre Lula e Rosemary Noronha importa pouco ou nada. Urgente é analisar a tipologia de controle político permissível ao ponto de impor a vontade de seu líder sobre um coletivo enorme. Obviamente, tal vontade seria a de Lula, impondo Rosemary como chefe de gabinete do Escritório de Representação da Presidência da República no estado responsável por 40% do PIB da sexta economia do mundo. É sobre o critério desta indicação, e suas desastrosas conseqüências ideológicas, que versa este artigo.

Há muito venho criticando os critérios autoritários de escolha dos cargos em comissão e como estas indicações corroem a interna dos grupos mais à esquerda e dos restos de sentido militante no partido de governo. Ao que se sabe Rosemary não foi indicada por critérios políticos e tampouco por sua capacidade técnica. É costume na política brasileira haver certo número de cargos da cota pessoal do titular do Poder Executivo ou mandato. Para estas funções espera-se que tais pessoas tenham alguma capacitação de tipo político-técnico. No caso, se há algo que justifique tal indicação, só pode ser uma relação de confiança privada, além de comungar do mesmo senso comum do presidente incluindo um sentido de oportunidade a todo custo.

Temos no mínimo dois absurdos. O primeiro é a indicação de alguém não capacitado para a função. Outro é o fato de não haver reação enérgica por parte do diretório nacional do partido de governo, tentando enquadrar as indicações de terceiro e quarto escalão em algum critério minimamente político. Quando não há este tipo de controle, temos uma relação autoritária, motivada por temas particulares. Neste quesito, não há diferença substantiva alguma com os governos anteriores e menos ainda com os aliados da base pela tal da governabilidade.

As esquerdas insurgentes latino-americanas caracterizavam o senso comum como condensação das idéias dominantes. É neste senso comum onde se localiza o horizonte ideológico do ex-presidente, reproduzindo o pior da cultura política brasileira somada com anseios do brasileiro médio. A conseqüência para a trajetória dos sindicalistas autênticos aparece como grotesca caricatura daquilo que este ex-líder metalúrgico já representou para o Brasil.

Este artigo foi originalmente publicado no blog de Ricardo Noblat

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