A senadora Kátia Abreu (PSD-TO) representa os interesses  dos produtores do agro, com ênfase nos grandes proprietários, sistemistas de fato da grande cadeia do Agro, esta com posições ainda mais confortáveis dentro do governo de coalizão.  - Foto:agromundo
A senadora Kátia Abreu (PSD-TO) representa os interesses dos produtores do agro, com ênfase nos grandes proprietários, sistemistas de fato da grande cadeia do Agro, esta com posições ainda mais confortáveis dentro do governo de coalizão.
Foto:agromundo

21 de março de 2013, Bruno Lima Rocha

 

O Brasil vive um momento de avanço conservador e isso é inegável. O abismo ideológico é notado em uma aliança de direita de novo tipo, gestada no interior do governo de coalizão.

 

Logo que o pastor e deputado federal Marco Feliciano (PSC-SP) foi indicado para assumir a presidência da Comissão de Direitos Humanos da Câmara, li certos comentários que me pareceram pertinentes. Para além da crítica aos neopentecostais, alguns colegas docentes elaboravam a idéia de uma rearticulação conservadora, mais ideológica do que política, mas muito aguerrida em pautas específicas.

 

A aliança teria dois alicerces. Um deles é o conservadorismo popular, explorado ao máximo pela legião de pregadores da teologia da prosperidade metidos em política profissional. Outro alicerce é o do latifúndio, setor econômico fundamental para a balança comercial brasileira e sempre vitorioso quando disputa uma pauta contra os defensores do meio ambiente e agricultura de pequena escala.

A evidência para a aliança conservadora em nível ideológico apareceu em artigo da senadora Kátia Abreu (PSD-TO), publicado na Folha de São Paulo de sábado, 16 de março. A também presidente da Confederação Nacional da Agricultura (CNA, equivalente ao sindicato nacional de produtores rurais) escreve um libelo relacionando o pensamento do italiano Antonio Gramsci com a proposta de redação do artigo 159 do Código Civil. Neste, segundo Abreu, estaria o intento de reviver o 3º Plano Nacional de Direitos Humanos, elaborado no final de 2009 e de pronto descartado por Lula.

 

No texto proposto para o código civil, seria criado um novo paradigma quanto à posse da terra, superando o senso comum ao menos nos temas dos conflitos agrários. Para Abreu, a redação proposta, ao não aplicar a retirada imediata dos ocupantes (chamados pela senadora de invasores), retira os poderes de pronta-resposta da polícia para “tornar nulo o estatuto da reintegração de posse. E, junto com a anulação, o direito de propriedade”.

 

Ultrapassa o espaço deste artigo, responder palavra por palavra do texto, mas vale destacar que Kátia Abreu usa os termos “infiltração nos meios de comunicação” e “quebra gradual dos valores cristãos”. Trata-se de linguagem perigosa e terminologia alarmista, parecendo saudosa da Guerra Fria e da ditadura. Como o latifúndio não brinca e nem faz de si mesmo uma caricatura, é preciso tratar o embate com a gravidade necessária. O país passa por uma rearticulação conservadora e é isso tem de ser levado em consideração. 

 

Este artigo foi originalmente publicado no blog do jornalista Ricardo Noblat

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