Ligação de Marin com o assassinato de Herzog. Mais uma para Romário - Foto:Mário Alberto/Lance!
Ligação de Marin com o assassinato de Herzog. Mais uma para Romário
Foto:Mário Alberto/Lance!

19 de março, Anderson Santos (editor) & Dijair Brilhantes

O octogenário presidente da CBF José Maria Marin fez ao longo da vida muitos amigos. Entre eles os militares que espalharam tanques de guerra pelo país em 1964. Assim, Marin podia exercer tranquilamente seus direitos civis, já que optou em ficar no lado dos poderosos generais do “bem”. Filiado à Arena, partido de sustentação do regime, a sua forte ligação com os militares talvez explique o fascínio dele por medalhas.

O presidente da CBF vem sendo acusado pela Comissão da Verdade de ter criticado duramente no dia 9 de outubro de 1975, no plenário da Assembleia Legislativa de São Paulo, o jornalismo da TV Cultura, então chefiado por Vladimir Herzog. 15 dias depois, o jornalista seria pego na sede da TV, preso, torturado e assassinado, sendo apresentada ao público uma foto de seu corpo como se tivesse cometido o suicídio – algo que não ocorreu e que, neste mês, foi modificado no atestado de óbito.

No discurso, disponível aqui e aqui, Marin disse que deveria se averiguar a denúncia de presença comunista na emissora, de forma que o prefeito e o governador deveriam agir com firmeza na sua fiscalização.

Recorda-se que a presença de Vlado Herzog no comando do telejornalismo da emissora representou um dos poucos momentos em que a Cultura foi dirigida sobre princípios avançados, entendendo que, enquanto meio de comunicação bancado pelos impostos pagos pela população, a comunicação deveria se voltar a ela. Antes e depois disso, viu-se muito do que costuma-se criticar em órgãos estatais, o atrelamento à gestão de então, evitando certos tipos de assuntos e uma maior diferenciação na produção audiovisual.

Cerca de duas semanas após o discurso do mandatário da CBF, Herzog foi preso pelo DOI-CODI. Em outubro do mesmo ano, o jornalista seria morto nas dependências da Operação Bandeirante.

Autohackear

Um dos blogs gaúchos de maior repercussão, o Impedimento, tuitou esta semana que José Maria Marin havia hackeado o site da CBF para publicar sua defesa quanto à sua participação, ainda que indireta, no assassinato de Vladimir Herzog pela ditadura militar. É bem por aí.

Ao acessar o sítio, o internauta se deparava com os seguintes dizeres: “Desmascarando uma falsidade”. O título com todas as letras em maiúsculo vinha com fundo preto também como imagem. A assessoria de imprensa da entidade redigiu um texto inocentando o presidente de qualquer associação com o caso, alegando que as acusações são para conturbar as atividades do futebol brasileiro num momento de notória importância e delicadeza, quando se avizinha a realização, no Brasil, da Copa do Mundo FIFA 2014.

A crítica veio também porque numa das passagens do secretário-geral da FIFA, Jérôme Valcke, para as vistorias nos estádios brasileiros, um jornalista perguntou sobre como era realizar um evento num país cuja confederação era dirigida pro alguém com ligações com a ditadura militar. Marin respondeu de forma áspera à pergunta e ainda mais na nota publicada no site da CBF.

Ele diz no texto estranhar que o assunto só tenha vindo à tona agora, 38 anos depois, após ele ter passado pelo Governo de São Paulo, presidência da Federação Paulista de Futebol e ter sido vice-presidente da CBF para a Região Sudeste por tantos anos.

É simples. Realmente o foco não estava nele e, o mais grave, o Brasil ainda não olhou para este momento sinistro do seu passado como deveria e como já fizeram países vizinhos. O assassinato de Vlado voltou à tona recentemente, desmascarando oficialmente a construção de seu suicídio. Inclusive, é o filho dele que criou uma petição pública pedindo a saída de Marin da presidência da CBF.

Além disso, trata-se da gerência do futebol brasileiro. Como se fosse preciso criar factoides para conturbá-lo por denúncias envolvendo quem comando o esporte, e este em especial, no país.

Será que saberemos algum dia se Marin está desmascarando uma falsidade ou mascarando a verdade, ou deixarão para julgá-lo após sua morte, quando não poderá mais sofrer nenhum tipo de punição?

A CBF fazendo caridade

Qualquer ato que possa parecer uma caridade vinda da Confederação Brasileira de Futebol é no mínimo suspeito. Na semana passada, a CBF e a Federação Boliviana de Futebol acertaram um amistoso para o mês de abril. A renda do jogo será destinada à família do jovem Kevin Espada, torcedor do San José que foi morto após ser atingido por um sinalizador arremessado por um torcedor do Corinthians.

Para o presidente da CBF, a partida se trata de um ato de caridade, como se a entidade soubesse o que isso significa, e que um simples amistoso poderá resolver os problemas causados pelos torcedores corintianos na Bolívia.

Ah, lembra-se que a Conmebol, que já faturou mais de R$ 1 milhão só em punições em dois meses de Copa Bridgestone Libertadores, flexibilizou a pena para o Corinthians, que voltou a atuar no Pacaembu com torcedores e só não poderá ter seus aficionados em partidas fora de casa.

Uma partida de portões fechados também foi a punição para o Velez Sarsfield, por conta de briga entre torcedores do clube e do Peñarol na partida realizada no Uruguai. Igualaram o fato, também lamentável, ao peso de uma morte.

Ah, quem acompanhou a derrota do Grêmio para o Caracas na Venezuela, naquilo que nem sei se podemos chamar de campo, também deve ter ficado surpreso ao ver lança-chamas com torcedores venezuelanos. Realmente, pouco se aprendeu com o que ocorreu na Bolívia há tão pouco tempo.

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