Por Bruno Lima Rocha
Na tarde de 16 de dezembro, enquanto o ministro relator Luiz Edson Fachin proferia seu voto contrariando a tese da ADPF impetrada pelo PC do B, a base de centro-esquerda (ou ex-esquerda como prefiro) iam à forra contra a UDN e ocupavam simbolicamente as ruas do país. Foi um ato com alguma pujança e grande parte desta reviravolta se deve ao processo de impeachment, iniciado como forma de chantagem através do ainda presidente da Câmara Eduardo Cunha (PMDB-RJ). Sinceramente, vejo como positiva toda e qualquer ação a ocupar os espaços públicos, ainda que opere como correia de transmissão de um governo de centro-direita. Ou seja, aqui a crítica não é terem ido para a rua contra o impeachment, mas sim fazer coro com a direita que governa e jogar para a torcida, dizendo-se “contra o ajuste fiscal” e nada fazendo a este respeito.
Dentro da crise instaurada este ano, a maior força política a crescer é sem dúvida é o PC do B e suas entidades hoje satélites – CTB, Unegro, incluo a UNE e a UBES (para a tristeza de quem militou nestas entidades que hoje padecem do oficialismo). O stalinismo pós-moderno e pós-classista, alinhado internacionalmente com a China da Era Deng e com a Rússia de Putin, defende sem pudor a aliança de classes com os oligarcas nacionais e os respectivos oligopólios líderes. Logo, defender de toda e qualquer maneira e por todos os meios necessários – desde que não classistas – a tal da governabilidade é um imperativo para o bote de 2018. Ciro Gomes, caso este governo sobreviva e Lula de fato se aposente, entra como o elo perdido do trabalhismo com o stalinismo e se aponta como pré-candidato de 2018. Defenderia o mesmo projeto de governo, sendo ele próprio, um oligarca com trajetória heterodoxa e com inclinações nacional-desenvolvimentistas a partir do capitalismo periférico brasileiro.
Este é o projeto real que está em jogo agora em 2015. Esta é a inflexão estratégica, em maior ou menor vigor. No curto prazo, entendo que não podemos hipotecar uma decisão majoritária em função de um golpe paraguaio tramada com puxada de tapete palaciana. Ao mesmo tempo, não há solução popular ou saída dos debaixo se a pauta da governabilidade e a tese absurda de “governo em disputa” seguir sendo reproduzida e vista sempre como “mal menor”.
Em última instância, com o lulismo a tese stalinista prevalece de novo, e a proposta de Frente Ampla com o MDB, a mesma defendida pelo Comitê Central do PC do B após o Massacre da Lapa em 16 de dezembro de 1976 – já no período de autocrítica e revisão da postura na guerrilha do Araguaia – faz-se valer no presente momento. A CTB cresce também, nas rebarbas do que resta da CUT governista e que por quase dez anos governou ao lado da Força Sindical, antes que a pelegagem corrupta comandada por Paulinho da Força fundasse o Solidariedade (SDD – esta sigla tem uma evidente alusão ao Sindicato Solidariedade, uma frente em disputa entre operários de orientação trotsquista e anarquistas X católicos opositores ao regime stalinista do general Wojciech Jaruzelski, o Pinochet da Cortina de Ferro). É preciso lembrar porque esta conta tem de ser paga pela direção da CUT e da CTB, pois foi essa camada de burocratas que co-governou ao lado da Força Sindical, cujo fundador – Luiz Antônio Medeiros hoje ainda ocupa cargo de 2o escalão no governo de Fernando Haddad (PT) na prefeitura de São Paulo capital.
Infelizmente, a etapa não permite outros acúmulos e a verticalidade e a presença de lideranças carismáticas à frente do MST e MTST impede a democracia interna e consolida uma dominação de um governismo já insustentável tanto no plano tático como na mínima coesão ideológica. Falta força acumulada, mas o melhor – entendo eu e modestamente como uma reflexão própria embora orientada pelo pensamento da CAB – seria uma data de luta unificada distinta da UDN de domingo 13 de dezembro (a nova direita às ruas no dia do AI-5!) e também distinta do blocão governista, com ou sem linha auxiliar (que acaba se tornando, pois fortalece a tese de frente única).
Lula e os lulistas devem estar contentes. Transformaram um movimento popular legítimo em uma versão contemporânea do peleguismo trabalhista de Vargas. É preciso correr atrás do prejuízo em termos de condições de força social concreta, a exemplo de 2013 e do levante estudantil de São Paulo. Na cancha do adversário, todo jogo é perdido.