11 de janeiro de 2016 – Bruno Lima Rocha
Existe um mito contemporâneo afirmando que tanto a direção do MST como do MTST estariam mais à esquerda e forçariam o governo a tomar atitudes mais compensatórias, assim como redistribuir o poder interno no pacto de classes do lulismo. Desde 2003, ano após ano este mito foi retomado, com a ajuda da direita midiática.
Para reforçar esta ideia, há uma linha hierárquica de transferência de posição e campo de alianças organizado pelos militantes de confiança de Stédile e se organizam no Levante Popular da Juventude e na Consulta Popular. É uma espécie de modelo híbrido de frente política com esquerda social, com hierarquia pouco visível e um trabalho mais fluido como era o da Ação Popular quando a AP se desvincula da Igreja Católica em 1962. Não tenhamos nenhuma ilusão. A aparente democracia interna é linha baixada do “grupo de estudo” ou outro círculo de confiança. Na medida em que as decepções se acumulam, mais gente não sai de casa e o recrutamento e a mobilização ficam em cima da necessidade material urgente e da inflexível hierarquia interna. Mais combustível para a direita que não é governo e a perseguição midiática anti-povo.
Agora, com o “novo governo” Dilma dando recado para Nelson Barbosa liberar o Banco Central a operar com “autonomia”, na verdade, estamos vendo outro jogo de cena. O PT finge que pressiona o governo, que finge ser pressionado e finge estar fazendo um giro para a confiança dos mercados; enquanto isso a “esquerda social” finge estar propondo uma ou duas articulações de tipo frente popular e as mesmas não têm deliberação alguma e não passa de um acórdão de capa-preta e burocracia sindical.
É por isso que a posição de quem não quer aderir a uma frente em que nada está em jogo e quem banca a infra impõe a pauta está correta. Quem quebra a unidade das forças sociais em defesa da maioria é quem faz composição com a direita. O declínio da hegemonia petista (dos petismos, mas com o controle interno do antigo Campo Majoritário e externo da Via Campesina-MST-Grupo do Stédile) vai demorar a ser consolidado e arrancará em carne viva pedaços ainda maiores de nosso tecido social a cada dia mais fragilizado. Esta ferida estanca é com luta, demora, mas passa.