30 de julho de 2009, do Rio Grande, Bruno Lima Rocha
A nota escrita pelo senador Aloizio Mercadante, líder do governo no Senado, pedindo o afastamento de José Sarney da presidência da “mui leal e valorosa” câmara alta da república, fez recordar ao país que existe uma queda de braço na interna do PT. A presidência explicitamente desautorizou seu líder mantendo o apoio ao senador pelo Amapá. Duas moedas estão em jogo. Uma é de ordem tática, visando garantir a “blindagem” do governo perante a CPI da Petrobrás. Outra, estratégica, mira no projeto eleitoral de 2010 e a complexa rede de alianças com as diversas facetas do PMDB que ocupam parcelas importantes de controle do Estado brasileiro. No final das contas, o presidente mais popular da história do país se atira nos braços dos ex-inimigos políticos e isola qualquer voz discordante.
Uma mensagem é explícita. Não importa o motivo da discrepância entre políticos petistas e seu símbolo maior, para Lula e seu núcleo duro, nada pode estar acima das lealdades do governo para com quem o sustenta. Este é um dilema clássico da política, ocorrendo quando um operador político paira acima de qualquer organicidade partidária. Por fazer cálculos próprios, este líder tende a preferir bases de apoio para a chamada governabilidade e a projeção de continuidade do mandato pelo sucessor. Embora soe estranho, é como abrir mão das metas originais para manter uma parcela do poder do Estado, concentrado no Brasil no caixa da União e nas prerrogativas do Executivo.
Nada disso é novidade na trajetória recente de Luiz Inácio. Este processo já se faz notar desde, pelo menos, a difusão da Carta ao Povo Brasileiro e a aliança com José Alencar para vice em 2002. Naquele momento, o pouco que restara do projeto político da década de ‘80 se perdeu na planície. Restaria então a aliança orgânica com as correntes internas do PT e os partidos de esquerda eleitoral. Como meta de governo, Lula e sua equipe tentariam ao menos a execução dos planos setoriais, sendo a reforma agrária e a retomada do poder de compra do salário mínimo as bandeiras históricas. Fez-se apenas um arremedo de ambas, mas Lula provou ser duro na queda, superando a dissidência que formara o PSOL e posteriormente, sobrevivendo à crise do Mensalão.
Faltando exatos doze meses do início da campanha presidencial de 2010, o Planalto não vai arriscar nada. Isto implica em pagar o preço necessário para evitar que José Sarney, Renan Calheiros, Romero Jucá e cia. não venham a se tornar uma versão peemedebista do irado Roberto Jefferson de 2005. Para evitar esse risco e manter altas as chances de Dilma Roussef, Lula vai pagar o preço que for preciso.