Bruno Lima Rocha, 11 de setembro de 2018
Às vésperas do sete de setembro de 2018 houve um atentado contra Jair Messias Bolsonaro, candidato do PSL, deputado federal no sétimo mandato e aquele que encarna a “grande esperança branca” da Casa Grande do país governado por um baronato rentista e seus aliados dentro e fora de nossas fronteiras. Desde então abundam teorias especulativas e uma evidência: tal fato tem relação total com o contexto vivido pelo Brasil desde o início do terceiro turno de 2014.
Lado a lado com a violência simbólica dos discursos de ódio, galvanizados pelo atingido em Juiz de Fora (MG), temos a negação do direito ao reconhecimento e, concomitantemente, a perda progressiva dos direitos coletivos que vinham num crescendo desde 1932 e se consolidaram como política pública permanente na Constituição de 1988. Trata-se de restauração burguesa e liquidação da soberania popular e, por tabela, a soberania nacional.
O fim da proteção ao mundo do trabalho é o velório da Nova República?
Vale alguma reflexão. O STF autorizara a terceirização para atividades fim em todas as empresas. Ou seja, entendo que eu na maioria das Pessoas Jurídicas, a classe trabalhadora do Brasil está diante de uma “Pejotização” galopante. Óbvio que a direita afirma que isso é “da nova economia”, ou que “a terceirização já existe, logo é preciso autorizar ou regular”. Me recorda o debate sobre transgênicos, que acabou sendo liberada a circulação de sementes assim no primeiro governo Lula utilizando um pouco da política do fato consumado. “As sementes vêm de contrabando da Argentina e assim fica impossível ilegalizar todo um setor e blablabla e cumpra-se”. Não custa lembrar. Sementes não são animados com mobilidade própria, logo, foram trazidas e o contrabando – a prática centenária de chibeiros – seria bastante controlável nas barrancas do rio Uruguai. Enfim, tal como o fato consumado das sementes, o mesmo se dá com a desagregação social que avança no país.
Em parte, essa é a dimensão substantiva do golpe em andamento e agora, especificamente, rastejando pelas sarjetas da pior política possível. Era esperado e os discursos literalmente se repetem em toda América Latina. Durante o auge dos escândalos do governo Priista de Enrique Peña Nieto, no México, “colonistas de economia” repetiam a ladainha de que o salário mínimo (ou seja, o salário social) é uma “ilusão econômica”, pois “primeiro é preciso fazer o bolo crescer para depois dividi-lo”. A ladainha perfeitamente falsificável era a mesma. Não exagero, as analogias eram idênticas do guru da modernização conservadora da ditadura, agora travestido de parlamentarista, Antônio Delfim Netto.
Uma observação vinda do nosso campo, pode afirmar que sempre houve desagregação social no período republicano, “desde que o povo bestializado assistiu a tal proclamação”. Não há contestação possível desta afirmação. A “tal da república” nunca foi inclusiva e incorporou um governo nacional com reconhecimento para os trabalhadores urbanos somente no varguismo, isso após completarem o trabalho sujo de Arthur Bernardes e Washington Luís, dizimando a liderança sindical de orientação anarquista no Brasil. Em termos de maioria afro-brasileira, a repressão sempre se fez presente, e se faz, na distribuição espacial da mesma, cortando na ausência de direitos civis e sociais da maior parte de nossa população.
Logo, se nada disso é “novidade” (infelizmente), quais as características prevalentes de nosso momento histórico? Ou, falando em termos mais diretos, como liquidaram com a Nova República e quais suas consequências?!
Que tipo de crise é essa? Quando os setores não se protegem do entreguismo visceral
Sabemos a dificuldade de qualquer tipo de tabelamento de preços ter algum fôlego; o próprio Plano Cruzado e o congelamento de preços básicos levou a um aumento da sonegação e do crime contra a economia popular. Mas, isso é diferente de afirmar em termos de “modelo” que as “regras da economia” – ou seja, da balela neoclássica – vai ajeitar o excesso de oferta pelo crédito do BNDES durante o período lulista diretamente implicado no consequente aumento da frota de caminhões. Resumindo: ou o setor de transporte de carga tem alguma forma de proteção para os caminhoneiros autônomos, ou cerca de 500 mil caminhoneiros – e pelas contas, dois milhões de pessoas – serão atingidos. As empresas de agroindústria que têm crédito agrícola vão se defender do jeito que dá, incluindo o protelamento da execução de suas dívidas e quem vive no trecho vai engrossar o desemprego nas cidades.
Como pano de fundo, o que a laia quer fazer crer ao povo brasileiro? Que devemos quebrar o monopólio fático da Petrobrás, pois esta foi quebrada em função da “artificialidade” dos preços praticados anteriormente e também pelo modelo de partilha do Pré-Sal. Sobre a perda de causa e o seguido acordo com a Justiça dos EUA na defesa dos especuladores aglutinados como acionistas minoritários, óbvio que os “consultores” não dizem. Logo, a “solução” apresentada é liberar a importação de diesel, gasolina e demais derivados por todas as transnacionais do setor de óleo e gás. E, também para a obviedade, a cambada nunca diz que existem 16 traders mundiais forçando os contratos futuros e incidindo diretamente na cotação do barril Brent. Logo, desejam expor ainda mais a sociedade brasileira às oscilações forçosas dos especuladores. Como se chama isso em português? Em castelhano os países Hermanos denominam “vende pátria”. Concordo com o conceito.