Bruno Beaklini (@blimarocha) – 31/10/2022
Com 100% das urnas apuradas, Luiz Inácio Lula da Silva recebe 50,90% dos votos, vencendo ao atual presidente, Jair Messias Bolsonaro, que recebera 49,10%. O total de votos para o ex-presidente foi de 60.345.999 milhões, contra 58.206.254 milhões para a chapa da extrema direita coligada com as oligarquias de sempre, o famigerado “Centrão”.
No domingo 30 de outubro o segundo turno das eleições presidenciais terminava com a vitória de uma ampla coalizão liderada pela social democracia, em um leque vai de banqueiros neoliberais, direita e centro-direita liberal democrática, passando pela centro-esquerda e esquerda reformista. Além da disputa eleitoral, há uma ampla camada de organizações sociais e ativistas midiático-digitais, engajados na luta antifascista e enfrentando de forma desigual uma operação de guerra psicológica promovida pelo governo Bolsonaro.
Jair Messias tentava a reeleição, e usou o conjunto de recursos do Poder Executivo da União para isso. Apenas de “rombo fiscal”, os gastos não previstos em 2022 geram um problema de receita de R$ 185 bilhões de reais, quase dez vezes maior que o orçament secreto, cujo eufemismo e a cretinice chamam de “emendas de relator”.
A guerra eleitoral e os crimes subsequentes
A tensão social é fruto do leque de manobras de tipo sabotagem e crimes eleitorais, tentações golpistas (como a de adiamento da votação) e operações de fake news de ordem gigantesca. Apenas na plataforma Telegram seis canais com mais de 500 mil membros foram derrubados nas 48 horas anteriores ao pleito. Centenas de contas em outras plataformas foram derrubadas pela corte eleitoral. Também tivemos um recorde absoluto de denúncias de assédios patronais, sendo que o Ministério Público do Trabalho (MPT) registrou a 2333 denúncias, dez por cento antes na véspera das eleições.
Uma semana antes das eleições, o país ficou paralisado em frenesi acompanhando o papel de Roberto Jefferson, atraindo a atenção do Supremo Tribunal Federal (STF) e do Tribunal Superior Eleitoral (TSE). O ex-deputado federal pelo PTB/RJ, aliado incondicional de Bolsonaro e antes parte da base oligárquica de todos os governos, recebeu a tiros de fuzil e com lançamentos de granadas de fragmentação contra um delegado e uma agente da Polícia Federal (PF). No dia 19 de outubro, em reunião no Palácio da Alvorada (residência oficial do presidente), uma reunião acordava com a operação rodoviária para estrangular o fluxo que iria das capitais e regiões metropolitanas nordestinas rumo ao interior. 560 postos de controle da Polícia Rodoviária Federal (PRF) desobedeceram a orientação do TSE e atrasaram – e muito – a chegada de um eleitorado de maioria pró-Lula. Mais da metade do controle em estradas estava na região Nordeste, onde residem menos de 30% da população brasileira.
Ainda na semana anterior, a acusação infundada através do ministro das Comunicações Fábio Faria e do coordenador de campanha, o sionista Fábio Wajngarten, possibilitaria ao líder da extrema direita pedir o adiamento das eleições. Ao chamar uma reunião de emergência, os comandos militares não aceitaram a jogada ousada de Bolsonaro, fazendo com que seu discurso fosse mais brando, com reclamações apenas no STF. Que roeu a corda e desistiu da manobra falsa foi o dublê de deputado federal, muito ligado ao bilionário Elon Musk e genro de Silvio Abravanel – o sionista que atende pela alcunha de Silvio Santos e é dono do SBT, segunda maior rede de TV do Brasil.
As operações de guerra de nervos continuaram com a perseguição perpetrada pela deputada federal Carla Zambelli a um jornalista e membro da Democracia Corintiana, na tarde de sábado 29 de outubro, em plena Avenida Lorena, dentre os metros quadrados mais caros do país. A agitadora de extrema direita, acompanhada de seus capangas, puxou arma (armas), seu guarda-costas deu tiro para o alto e rendeu o “homem negro que a ameaçou”, segundo a controversa parlamentar.
O contexto eleitoral foi esse e mais, incluindo um assassinato em Paraisópolis, supostamente executado por um espião licenciado a serviço do candidato bolsonarista ao Palácio dos Bandeirantes, sede do governo de São Paulo.
O início do ocaso
Se incluirmos todas as manobras e quebras de regras, o apoio direto de Bolsonaro e do bolsonarismo junto ao pior da extrema direita ocidental, o que houve no país foi uma guerra eleitoral – ainda em andamento – a consequência direta de um processo de ruptura por direita que se inicia no segundo turno de 2014, passa pela hegemonia da Lava Jato, depois o Partido Militar e agora chega ao início do fim através da derrota eleitoral.
Como se fosse pouco, a primeira dama Michelle Bolsonaro foi votar domingo de manhã usando uma camiseta azul clara conclamanto “apoio ao Estado de Israel”. Também proferiu uma palavra de ordem fascista, aliás, o lema de seu marido. Na noite da derrota, bolsonaristas histéricos com a bandeira sionista que ocupa a Palestina era o pano de chão onde a ladainha fascista era entoada.
O país ainda está em transe e pode não se recuperar no curto prazo. A importância neste momento é reconhecer que o fascismo foi derrotado assim como o trumpismo e o sionismo, seu aliado estratégico. Uma análise de maior fôlego é necessária, mas como um retrato do momento, acompanhando o ocaso do protofascismo, a sensação societária é de alívio.
As manobras fascistas não vão parar assim como não pode cessar a resistência, Vamos em frente.