Cercados no brete, os direitos de participação política ficam cerceados ao imediatismo e ao controle dos chefes de aparelho manipulando recursos coletivos. Para alegria da direita, essa prática no Brasil é multipartidária  - Foto:pe-az
Cercados no brete, os direitos de participação política ficam cerceados ao imediatismo e ao controle dos chefes de aparelho manipulando recursos coletivos. Para alegria da direita, essa prática no Brasil é multipartidária
Foto:pe-az

25 de março de 2010, da Vila Setembrina metropolitana da Província do Eucalipto, Bruno Lima Rocha

A nota emitida pelo deputado federal Geraldo Magela (PT-DF), na 2ª feira 22/03, a respeito do chamado uso do poder econômico para influenciar as prévias de seu partido no Distrito Federal, chama a atenção para algo de uma gravidade absurda. Vejo que a derrota de derrota de Magela para o ex-ministro dos Esportes Agnelo Queiroz, por sinal, novato na sigla de José Dirceu, ele próprio vindo de uma longa trajetória no Partido Comunista do Brasil (PC do B), ainda carece de conseqüência jurídica e política. Para além da denúncia, a contenda na interna do Partido dos Trabalhadores serve aqui de base para a análise de como este modus operandi corrói a viabilidade política de um projeto participativo mais à esquerda.

Não é de hoje que as esquerdas eleitorais brasileiras se vêem embrenhadas na reprodução de práticas políticas historicamente vinculadas aos seus adversários. No chamado voto de cabresto, cabia ao coronel da região arregimentar e deslocar seus votantes, nem que fosse a pau e corda. Na contemporaneidade, algo se assemelha ao escutarmos na gíria militante, que tal base ou determinada delegação, apesar de serem muitos, é uma maioria que não passa de “boiada”, ou massa de manobra. A definição plausível do conceito de “boiada” é composta de de pessoas com baixo nível de formação política, pouco informada das atividades para a qual está sendo convocada e que estabelece uma relação de clientela com o aparelho que a mobiliza. Aqui, mobilizar é no sentido literal, implicando transporte coletivo, algum tipo de uniformização (com boné, camiseta, bandeira ou faixa), alimento rápido (lanche) e participação de tipo obediente (por vezes através de coreografia) numa intervenção pública.

É óbvio que nem todo modelo é absoluto. Os custos de informação são altos e pode haver diferença cognitiva para compreender as motivações e ainda assim haver adesão a causas coletivas. Isto porque, ao contrário do pensamento conservador vulgar, a maioria das vitórias políticas se dá (para qualquer lado), quando os que estão mobilizados sabem o porquê de estarem lutando. Se tudo é resumido a uma situação pontual, desvinculada de metas de longo prazo, está aberto o caminho para a reprodução de práticas de manipulação pouco ou nada sofisticadas, ainda que de eficiência inegável. Em arenas políticas onde a concepção não passa de puro imediatismo, entra-se tanto na seara da publicidade como substituta da propaganda ideológica e do embate de idéias, como no vale tudo eleitoral. Como já disse em artigos anteriores, a ausência de democracia na interna partidária é fruto de uma concepção utilitarista. No momento em que as bases afiliadas tornam-se “boiada” de seus próprios líderes, estão dadas as condições para qualquer tipo de aliança de ocasião.

Voltando ao episódio brasiliense, não se trata de simplesmente condenar todo o processo das prévias do PT no DF ou generalizar a conduta da legenda por esse episódio. O problema é de fundo e não se resume apenas aos correligionários de Delúbio Soares. Quando a “esquerda” majoritária assume para si as práticas históricas da direita, a vitória é dos mestres no ofício de fazer política profissional e fisiológica.

Este artigo foi originalmente publicado no blog de Ricardo Noblat

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