José Serra, Dilma Roussef, Ciro Gomes, Marina Silva; nenhum deles se apresenta, em tese, como de direita; como tampouco são de 	ESQUERDA, personificariam o pragmatismo possível na polititica brasileira. É apenas isso a disputa de poder no Brasil?  - Foto:R7
José Serra, Dilma Roussef, Ciro Gomes, Marina Silva; nenhum deles se apresenta, em tese, como de direita; como tampouco são de ESQUERDA, personificariam o pragmatismo possível na polititica brasileira. É apenas isso a disputa de poder no Brasil?
Foto:R7

28 de abril de 2010 , da Vila Setembrina dos caídos em Porongos, Bruno Lima Rocha

Venho argumentando, em seguidos debates no rádio ou na TV, a idéia básica de que as alianças pautadas por interesses de curtíssimo prazo aumentam a confusão eleitoral, e operam anestesiando ainda mais a cabeça do eleitor mediano. Já fazem mais de quatro anos que defendo a verticalização de alianças, entendendo ser necessária repetir a composição para o governo central nos estados. Minha preocupação é prevalecer a noção de política como um jogo de posições a partir de idéias basilares, sendo que, quando se trata dos valores para a promoção do bem comum, estas posturas podem ser inconciliáveis. Mesmo sabendo que as regras do pleito de 2010 já não mudam mais, explico o porquê de fundamentar a validade desta tese.

Não por acaso, quando aplico cursos de comunicação e política para graduandos e formados, muitos deles já na lida da política profissional, começo com um singelo exercício. Peço que os estudantes me apontem o posicionamento das legendas com presença nas duas casas do Congresso. Por descrer no relativismo, no “fim da história” e noutras mazelas do pensamento, aplico um parâmetro. Desenho uma linha reta utilizando todo o quadro sendo que em cada ponta está um pólo. A partir daí, sugiro que cada aluno vá indicando qual partido está mais à esquerda ou à direita do outro. Quando há controvérsia na posição, faço uma rápida votação e a sigla contestada ganha duas ou mais designações. Após esta polêmica, apresento o factual irrefutável. Usando de cores diferentes, circundo os partidos que compõem o governo de Luiz Inácio e os que compuseram os oito anos de Fernando Henrique. Como é sabido, há uma enorme coincidência, tanto de partidos como de operadores políticos na ocupação de postos-chave.

Após um breve e estarrecedor silêncio constitutivo do momento posterior a profusão da verdade já sabida, dá-se um debate alucinado. Uma maioria, já iniciada na lida da “fábrica de salsichas”, busca justificar o vale-tudo na política repetindo o chavão de que “sem maioria não se governa”, ou de que “o governo começa a ser loteado já no segundo turno”. Sigo o argumento desta maioria e pergunto como seriam os palanques se as alianças fossem proibidas já neste momento da disputa? Como formar governo sem necessariamente dividir parcelas de poder e orçamentos? Pior é constatar que a identificação partidária, no sentido de uma definição de programa, bases ideológico-doutrinárias e o conseqüente comportamento político, perde-se no meio da ânsia desenfreada por aumento do quociente eleitoral. Desse modo é impossível compor uma base de governo sem negociar a própria plataforma para a qual supostamente o candidato fora eleito. Eis o porquê das campanhas serem estéticas e não políticas.

Se não há distinção alguma para além das imagens e do marketing político, aí sim que todos serão considerados vulgarmente iguais. Para os ainda crentes no processo eleitoral como a forma de excelência do exercício da democracia – o que discordo – a regra de não ter regras nas alianças estaduais é maléfica. Quem avisa amigo é.

Este artigo foi originalmente publicado no blog de Ricardo Noblat

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