Diante do comportamento das elites políticas brasileiras e os custos de montagem de maioria, é difícil condenar apenas o absurdo das direções partidárias ao colocarem puxadores de voto a qualquer preço  - Foto:tvcinemaemúsica
Diante do comportamento das elites políticas brasileiras e os custos de montagem de maioria, é difícil condenar apenas o absurdo das direções partidárias ao colocarem puxadores de voto a qualquer preço
Foto:tvcinemaemúsica

06 de maio de 2010, da Província de São Pedro que destinou os campos para a ampliação do Deserto Verde, Bruno Lima Rocha

Aproxima-se o período das convenções partidárias e uma série de legendas busca duvidosas celebridades para puxar votos. Para além do caricato e do grotesco, é fato que ter presença midiática assegura uma vaga para as proporcionais. Não é de hoje que a política profissional brasileira se aproxima do espetáculo. O que me causa certo espanto é o fato do recurso ser “ecumênico”, atravessando a maioria das siglas partidárias. Esta prática de controle das Executivas, guiadas pelo senso de oportunidade, expõe as vísceras de um critério de seleção que certamente não passa pela aprovação da base de afiliados. A associação direta que faço é a visibilidade de quase-famosos (ou mesmo de muito famosos) com a exposição de uma legenda como se fosse uma logomarca da indústria de vestuário ou calçado. Entendo que os exemplos abaixo, apenas alguns dos muitos em evidência, comprovam meu argumento de maneira irrefutável.

Vejamos alguns dos novos entrantes na política brasileira. A funkeira original (por ser oriunda de comunidade de favela) e recém convertida ao neopentecostalismo Tati Quebra Barraco vai concorrer à deputada federal pelo Partido Trabalhista Cristão (PTC), mesma legenda de Clodovil Hernandes, um dos campeões de voto na passada legislatura no colégio eleitoral de São Paulo. Já a dançarina Renata Frisson, cuja personagem artística é conhecida como a Mulher Melão, tem grandes chances de se lançar para a Assembléia Legislativa do Rio de Janeiro (Alerj) pelo Partido Humanista da Solidariedade (PHS). Os oriundos de reality shows também estarão representados. O vencedor da primeira edição do Big Brother Brasil 01, o animador Kleber Bambam, hoje líder da “banda” composta por ele, e as personagens Múmia e Cleópatra, irá concorrer para uma vaga na Assembléia de São Paulo pelo mesmo PTB de Frank Aguiar, deputado federal eleito e vice-prefeito de São Bernardo do Campo. Nem mesmo a nova esquerda reformista surgida após uma defecção republicana resistiu à adesão da cultura das celebridades. Jean Wyllys, vencedor do BBB 05, jornalista e professor universitário, concorrerá pelo PSOL baiano por uma vaga na mui nobre e ilibada Câmara de Deputados. Como se nota, a exposição midiática prévia, não importando de que teor é fator de capital político na corrida eleitoral.

Justiça seja feita, se tomamos como parâmetro o comportamento de cardeais e do baixo clero de ambas as casas do Congresso, dificilmente esses novos personagens irão agregar alguma nova prática condenável. A crítica aqui não é de teor elitista, mesmo que reconheça o despreparo da maioria destes indivíduos para sequer compreender a babel legal de uma república com no mínimo quatro poderes. Tampouco se trata de novidade. Este fenômeno “pitoresco” é um clássico da política, quando a renovação assegura a perpetuação das práticas anteriores. O problema maior que noto é o desrespeito das executivas estaduais para com a militância. Ainda que famosas, as chamadas “personalidades” não fazem propaganda partidária e menos ainda realizam trabalho de formiga em anos não eleitorais. Empurradas goela abaixo por caciques profissionais aconselhados por marqueteiros, são mais legítimas em um programa de auditório do que nas bases partidárias.

Este artigo foi originalmente publicado no blog de Ricardo Noblat

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