22 de julho de 2010, da Vila Setembrina do Continente de São Sepé, Bruno Lima Rocha
Parece que agora começou. Saindo da apatia, antecipando a chegada da política televisionada através do horário eleitoral gratuito, as declarações do deputado federal pelo DEM/RJ, Antônio Pedro de Siqueira Índio da Costa, pôs gasolina sobre a fogueira da campanha. Ao acusar o PT de ter ligações com a insurgência colombiana, citando as FARC como tendo relações ao partido de governo, e também com o narcotráfico, o candidato a vice de Serra recorrera, no meu entender, a seus ancestrais políticos para dar a têmpera da disputa. Talvez seja a saída para conseguir um novo equilíbrio na aliança. Quando Marco Maciel foi vice de FHC, a soma da elegância tucana com a discrição do pernambucano passou longe de polêmicas, mesmo quando o país estava em polvorosa quando do pleito de 1998. Agora, o espírito da UDN voltou, compartilhando a companhia do ex-ministro do Planejamento e da Saúde de Fernando Henrique, e que justo por esta trajetória nos oito anos de tucanato, não escapará de uma eleição plebiscitária com a ex-ministra da Minas e Energia e da Casa Civil de Lula.
Nunca é demais recordar que o estado de espírito ao qual me refiro, causa nostalgia aos lacerdistas. Após a ditadura do Estado Novo, a ala liberal com raízes mineiras entendeu que o governo poderia ser conquistado na base da força. A União Democrática Nacional (UDN) era o puro sangue da direita com envergadura nacional, compartindo o cenário político de envergadura nacional com o Partido Social Democrata (PSD) e o Partido Trabalhista Brasileiro (PTB), sendo estas legendas herdeiras do varguismo. Índio da Costa, político com trajetória na badalada zona sul carioca, ocupara a tribuna simbólica do ex-comunista Carlos Lacerda e sentou o verbo, esperando a reação dos contrários.
Talvez se equivoque no tom moralista, porque em 2010, a alegoria do “mar de lama” não pode ser acionada. Isto porque tanto PSDB, PT e DEM, nesta ordem cronológica, são acusados de serem cabeças de supostos esquemas de compra de voto na conformação de maiorias parlamentares. Se há diferença na acusação, esta se dá em escala, uma vez que o hipotético Mensalão de tucanos e “demos” foi estadual (distrital no caso de Arruda) e o operado pelos petistas fora nacional. Não há resultado conclusivo na Justiça, mas pela acusatória entre os rivais políticos, está dado um empate.
A própria UDN está rachada na atualidade. Se o tema for ter ou não ligações com a ditadura, através de acordos de ex-opositores com herdeiros e viúvas da Aliança Renovadora Nacional (Arena, braço político do regime militar), temos outro empate. O Partido Progressista (PP), assim como o DEM (ex-PFL), fiel depositário dos udenistas apoiadores do regime inaugurado em 1º de abril de 1964, é governo com Lula, e sofrera uma corrosão interna no intuito de apoiar Dilma. A minoria mais ideológica fecha com Serra, já a ampla maioria dos diretórios estaduais, alinha com a chapa que tem Michel Temer como vice.
Como no quesito moralismo as retaguardas são frágeis, entendo que o ataque do deputado carioca contra a legenda de Dilma Rousseff apimenta a campanha, mas pode ser um tiro no pé. Se a comparação entre os dois períodos de governo, FHC e Lula, for reforçada, as frases bombásticas do correligionário de César e Rodrigo Maia terminam por posicionar a sua aliança em um aspecto bastante desfavorável.
Este artigo foi originalmente publicado no blog de Ricardo Noblat