Dijair Brilhantes & Bruno Lima Rocha
A janela mais famosa
Todo ano a história se repete, chega o mês de junho e os presidentes dos clubes do futebol brasileiro, começam a discutir a abertura da chamada janela de transferência de jogadores que querem retornar do exterior ao Brasil. Com o fim dos campeonatos europeus, se dá a abertura do chamado mercado da bola. Este ano, devido ao Mundial da África do Sul, houve uma pausa no Campeonato Brasileiro e na Copa “Santander” Libertadores. Em função desse calendário alterado, alguns clubes, dentre eles Internacional e Atlético–MG, solicitaram junto a CBF a antecipação da abertura da janela. Durante o período de Copa do Mundo o Rei Ricardo Teixeira chegou a confirmar que seria concedida a antecipação das inscrições da mesma, mas conforme uma regra da FIFA (o poderoso chefão parece desconhecer tal norma) os pedidos de antecipação devem ocorrer um ano antes. Agora, liberou geral outra vez, aparecendo o jeitinho e a antecipação dantes negada, veio a ocorrer.
Para que existem as regras? Quem dirige os dirigentes? Até quando a cartolagem reinárá?
No futebol brasileiro o mau uso do poder prevalece, presidentes de clubes sempre tentam de alguma forma o favorecimento próprio ou das entidades que dirigem. Burlar regras é algo comum por estes lados, não nos causando mais nenhuma estranheza.
A janela de transferência de jogadores que retornam do exterior para o Brasil estava marcada para o dia 3 de agosto, mas as manobras que vinham sendo estão feitas para a antecipação da mesma, surtira efeitos. Clubes que estão repatriando atletas fizeram um pedido formal a CBF. O Internacional mandou um representante até à África do Sul durante os jogos do Mundial para convencer O Imperador Teixeira, já que tenta inscrever três jogadores para a disputa das semi-finais da copa Libertadores contra o São Paulo.
Do lado da garoa a coisa anda feia também. Juvenal Juvêncio (outro que não é flor que se cheire) presidente são-paulino é inimigo declarado do manda-chuva do nosso futebol. Se supõe – através de ilação – estar o ex-genro de Havelange (por sinal garoto propaganda da Adidas nos anos ’70) pensando em usar este artifício como forma de vingança, devido as eleições do Clube dos 13 realizadas em abril do corrente ano, vencidas por Fábio Koff (ex-presidente do Grêmio). Teixeira apoiava o derrotado ex-presidente falimentar do C.R. Flamengo, Kleber Leite. Leite por sinal, é ex-funcionário da Rádio Globo AM do Rio, empregado-associado do outro poderoso chefão do futebol nacional, o empresário também ex-jornalista, J. Hawilla, dono da Traffic, empresa esta de nome inspirador. A trama da cartolagem é sabida. Juvêncio votou em Koff, em mais uma desavença entre as partes de dirigentes e auto proclamados executivos da bola.
Os cartolas parecem subestimar a inteligência do povo brasileiro. Quem não lembra das farpas entre Fernando carvalho e Andrés Sanchez nas finais da copa do Brasil em 2009? Ou então das diversas discussões em rede nacional entre representantes de Corinthians e Internacional no controvertido e afanado campeonato brasileiro de 2005? Sanchez e Carvalho agora estão unidos, o colorado tentando fortalecer seu grupo de jogadores para a decisão da competição mais importante da América do Sul e o corintiano com o intuito de prejudicar o São Paulo, já que teme ver o rival conquistando o quarto título da Libertadores no ano do centenário do chamado Timão.
Em reuniões sobre o Campeonato Brasileiro durante a Copa do Mundo, Sanchez (cartola corintiano herdeiro da tradição de Vicente Mateus, que é menos pior do que a Era Kira-Dualib do time-empresa fantasma e laranja de todo tipo de capital podre e circulante no mundo), como o chefe da delegação brasileira, incorporara outro cartola que ocupou o posto no ano de 1989 e 1990. Sim, nos referimos a Eurico Miranda, operador de traquinagens como a contratação de Bebeto para C. R. Vasco da Gama, retirando o bom baiano do arqui-rival rubro-negro, em uma fria madrugada de inverno, em plena Granja Comary, concentração da CBF na cidade serrana de Teresópolis, estado do Rio. Na África do Sul, o presidente do S. C. Corinthians Paulista passou horas tentando convencer o presidente da CBF a prejudicar o rival São Paulo F. C.; desviando o foco deixa da conquista do hexa mundial. Nossa delegação vivia entre pressões; uma vinha da cartolagem e seu pragmatismo de 5ª categoria; outra da promiscuidade entre o Imperador Ricardo “Havelange” Teixeira e a Rede Globo; por fim, a última passava pelos delírios de Dunga e Jorginho, tentando criar um clima organizacional “fechado”, uma mescla entre quartel de terceiro mundo e terapia de auto-ajuda gerencial dotada de baixa cognição. Deu no que deu. Quando falta talento aos jogadores e a organização ou é inexistente, ou está voltada para fins outros que não a conquista dentro de campo, o resultado nós todos sabemos.
Enquanto o “jeitinho” não funcionou
Nós desta coluna, ficamos de certa forma realizados quando vemos que mesmo com muitas tentativas (entenda-se por manobras, maracutaias ) o chamado “jeitinho brasileiro” não funcionou. Se há uma regra, ela tem de valer para todos. Hoje é a janela de transferência e negócios, antes foi a famosa virada de mesa, como no vexame do Brasileirão de 2005. Na ocasião, Fernando Carvalho cedeu para o Imperador. E os cronistas esportivos o chamaram de “lúcido”. Agora, o elogio é ao inverso. Nossa postura é oposta ao de outros veículos que durante a semana anterior exaltaram a força política colorada “quem diria o Internacional está mais forte politicamente que o São Paulo” disse um comentarista esportivo gaúcho. Se fosse ao contrário estariam batendo no peito, exaltando o chauvinismo, querendo talvez fazer uma nova quase Revolução Farroupilha, julgando se tratar de uma conspiração contra a cartolagem a comandar o futebol dos Pampas. No final, cederiam de novo, como fizeram os traíras em Ponche Verde antes precedida da covardia de os Porongos. Em 2010, os briosos dirigentes – insuflados pelas emissoras que do futebol sobrevivem – que amam Internacional e Grêmio, mas amam ainda mais a exposição que sua paixão lhes dá. Se assim não fosse, não haveria tanta polititica atravessando o meio da bola.
Nós amantes do esporte outrora bretão não queremos ver a força dos profissionais da política (ou aspirantes a) em meio ao esporte. Preferiríamos não ter que escrever nada além das quatro linhas e discutir apenas o futebol na sua essência. Como o dever de oficio nos convoca, a taquara vai rachar sempre que preciso for.