5ª feira, 19 de agosto de 2010, da Vila Setembrina de Farrapos equivocados por seguirem aos latifundiários escravocratas, do Continente de São Sepé e Valientes de Artigas, Bruno Lima Rocha
Como era esperado, o início do horário eleitoral gratuito nesta 3ª 17 de agosto marca também a procura por suas caracterizações e análises. Pautados pela mídia local, eu e alguns colegas fomos convocados a opinar a respeito desta relação onde a publicidade atravessa a política, agindo com maior ênfase no veículo televisão. Reconheço ser este um daqueles temas já deveras explorado, onde é difícil (senão quase impossível), destacar alguma novidade ou ângulo distinto. Justo por isso, ao contrário da linha hegemônica na academia, desenvolvo a análise das três disputas simultâneas, buscando o que existe de estratégico para o país e de estruturante para a sociedade nesta campanha.
Esta relação entre estratégia e estrutura obriga o analista a ver para além da “marketização” das candidaturas. Marketizar é o neologismo a representar o avanço dos espaços e visões de mercado por sobre a res publica, da coisa pública, tal é o caso da política em uma democracia de massas. É a partir dessa crítica que vejo o horário eleitoral gratuito como uma disputa de força de três níveis. A primeira é a obviedade da busca pela aproximação da imagem e discurso do candidato com os anseios e identidades das faixas do eleitorado. Resumindo, os candidatos com os tempos apertados, aproximam-se da linguagem da publicidade através do marketing político e tentam atingir o eleitor em cheio. O senso comum transita pelas pautas pré-agendadas nos últimos anos, além das necessidades básicas e visíveis. Assim, quem não prometer aquilo que é sua obrigação, como prover saúde, segurança e educação, estará com um discurso fora da compreensão mediana.
A segunda relação de força parece fora de uso neste início de campanha pautado pelo “bom mocismo” e apelos emocionais. Trata-se do âmbito da concorrência, onde a propaganda brasileira já evidenciou episódios ultrajantes como na campanha presidencial de 1989. Neste caso, mesmo que o horário eleitoral não ganhe sozinho, pode ser um fator de perda da eleição. Imaginemos uma gafe proferida pelo candidato A e devidamente registrada pelo candidato B. De posse do registro da “barbeiragem” ou “escorregão” (uma vez que estamos na era dos eufemismos), o concorrente pode utilizá-la nos horários de rádio e TV, complementando pela veiculação na internet, midiatizando um aspecto negativo do adversário através de seus próprios equívocos. A história política brasileira costuma ser cruel com quem erra, deixando aflorar um discurso impensado num momento de disputa. O pleito de 2002 comprova este conceito.
Por fim, a terceira situação de força é a que eu me dedico a ressaltar semanalmente neste blog e em outros espaços. Na busca do que existe de estratégico na campanha, entendo que a relação de disputa deveria vir do eleitor para com os candidatos, tentando interpretar as propostas de governo para além da apresentação do político profissional como um produto. No caso da União, o que está em jogo junto com a Presidência é o comando do orçamento equivalente a quase a metade do PIB brasileiro, podendo influenciar todos os aspectos da sociedade e com projeção em escala mundial. Infelizmente, as maiores clivagens do eleitorado em uma sociedade de multidões compreendem pouco ou nada das decisões-chave do moderno Estado capitalista, tal como a definição de seu modelo de financiamento, de política industrial ou do perfil agro-exportados. Convenhamos, esta terceira disputa, é a mais desigual de todas.
Este artigo foi originalmente publicado no blog de Ricardo Noblat