Dijair Brilhantes & Bruno Lima Rocha
Por que voltou?
A grande contratação deste campeonato brasileiro foi feita pelo Palmeiras. Ao contrário de outros clubes que tentaram se reforçar dentro de campo, o Palestra paulistano (o outro é o Cruzeiro) optou pela fortaleza além das quatro linhas. Estamos falando de Luiz Felipe Scolari, que após 9 anos retorna ao Brasil com status de estrela. Com um currículo de causar inveja aos profissionais do ramo, o Felipão não parece ser mais o mesmo. A derrota na Copa Sul Americana na quarta-feira 24 de novembro deixou isso muito claro. Está certo que o alviverde paulista está longe de ter um grande time. Mas o velho Scolari já obteve feitos com equipes muito mais limitadas no passado. Basta lembrar o time do Criciúma campeão da Copa do Brasil de 91. No Grêmio dos anos ‘90 Felipão fez de jogadores renegados no sudeste do país, um time vencedor e temido por todo Brasil. Na sua primeira passagem pela Academia, o gaúcho de Passo Fundo fez história conquistando títulos importantes, entre eles a primeira e única Copa Libertadores do clube.
Já no Cruzeiro, Luis Felipe ganhou apenas a extinta Copa Sul-Minas em 2001, assumindo logo após a seleção brasileira e sagrou-se pentacampeão mundial na copa do Japão e da Coréia do Sul. O gaúcho deixou a seleção no auge da glória, tendo longa passagem pela seleção de Portugal onde atingiu bons resultados, como o quarto lugar na Copa do Mundo da Alemanha, e o vice-campeonato da Eurocopa de 2004 (onde os lusos eram locais), perdendo a final para a inexpressiva seleção da Grécia.
Na Inglaterra, o idioma truncado e macarrônico foi um dos fatores a impedir o desenvolvimento do super-técnico. No Chelsea, clube londrino do magnata russo Roman Abramovich, sua passagem durou apenas sete meses. A seqüência de maus resultados e desentendimentos com as estrelas do time, como o marfinês Drogba, encurtaram sua passagem pelo clube inglês. Em 2009, partiu para a aventura milionária na Ásia Central, transferindo-se para o Uzbequistão através de um contrato nababesco. Lá “no fim do novo velho mundo” ressurgido após o colapso da extinta União Soviética, atrasos nos salários levaram o rompimento do mesmo.
Scolari retornou ao Brasil reclamando de tudo, incluindo os problemas de calendário e as eternas carências da organização. Ao disparar a metralhadora giratória, o alvo principal passou a ser a imprensa (mídia empresarial voltada para a cobertura e promoção de info-entretenimento esportivo), chegando a chamar – em uma entrevista coletiva – os jornalistas de palhaços, apenas por não gostar da pergunta. É fato, tem vezes que os coleguinhas são chatos, inconvenientes, repetindo a mesma pergunta um milhão de vezes. Mas daí a “esculachar” o repórter e não peitar os donos de emissoras, aí é demais. Se Felipão acha tudo tão ruim por que optou por retornar? Certamente não foi só por dinheiro, pois o técnico palmeirense é sem dúvida um dos treinadores mais ricos do futebol mundial, mesmo sem ganhar nada expressivo a mais de oito anos.
Fica a pergunta, por que voltou?
Será que desta vez acaba o reinado? Ou o Imperador Teixeira caminha a passos largos rumo ao domínio mundial da bola?
Nesta segunda-feira um jornal suíço (o Tages-Anzeiquer, da cidade de Zurique), com a nota replicada pela BBC, acusa Ricardo Teixeira de ter aproveitado benefícios financeiros (dentre outras supostas irregularidades) da extinta ISL. Falida em 2001, a ISL era uma empresa suíça de marketing – parceira da FIFA – que ficou conhecida no Brasil por formar “parcerias” mal explicadas com Flamengo e Grêmio. No caso brasileiro, a mega-empresa de marketing esportivo deixou rombos, processos, dívidas e desconfianças sem fim.
Conforme o jornal suíço, Teixeira fazia parte de uma lista de depósitos feitos por diretores da empresa falida, e teria recebido propina de cerca de 16 milhões de reais ao longo de sete anos. Será que as denúncias atrapalham os planos do Imperador do Brasil e ex-genro de sua altera real João Havelange?
O possível candidato à presidência da FIFA em 2015 teve seu nome divulgado (de forma negativa, queimando o filme) nas vésperas da escolha da sede da copa de 2018. Nesta semana a entidade máxima do futebol recebeu reis, chefes de estado, de países que pretendem organizar o mundial. Deu o inesperado. Após o Brasil em 2014, a Rússia e sua máfia de oligarcas ex-espiões receberão a Copa do Mundo de 2018. E, quatro anos mais tarde, em 2022, se ainda houver petróleo no mundo, o emir de turno do país receberá a festa da FIFA.
Justiça seja feita, não é apenas o Imperador que supostamente cometeu tal tipo de irregularidade. Seis cartolas já haviam sido afastados por receber dinheiro em troca do voto na escolha das sedes. Nicolás Leoz, presidente da Conmebol e Issa Hayatou, ex-presidente da Confederação Africana e atual vice-presidente da FIFA, também constam na lista dos acusados pela BBC inglesa de haver recebido propina da empresa ISL da Suíça. Se os fatos procederem, a banda podre da cartolagem internacional tem procedimentos “criativos” de causar inveja aos protagonistas do premiado filme Gomorra (Itália, 2008, do diretor Matteo Garrone), baseado no livro do valente e brilhante jornalista napolitano Roberto Saviano.
Caso a mídia desportiva tivesse a linha editorial da investigação jornalística o esporte mais popular do planeta já estaria de pernas para o ar, constando seus mui nobres e valorosos dirigentes na mesma lista da Interpol onde consta o deputado federal pelo PP-SP, Paulo Salim Maluf.
Vamos sentir falta
Poucas atividades nos deixam mais contentes do que desenvolver este espaço para escrever sobre futebol. Mas, reconhecemos, seria melhor ressuscitar a cobertura do rachão verdadeiro, aquele que começa nos campos de várzea. Não é o que fazemos. O campeonato brasileiro por hora nos faz esquecer tudo o que gira em torno do futebol. Fora de campo sobras suspeitas de transportes de valores não declarados – sem origem ou rubrica – em malas brancas pretas.
Nos gramados profissionais a briga é feia fora de campo e emocionante no sistema de pontos corridos desde que não exista entrega e combinação de resultados. A semana que encerra o campeonato mais disputado do mundo começou sem surpresas. Os quatro primeiros venceram e continuam em busca de seus objetivos. O 5º colocado, o Botafogo, também venceu e chega vivo na disputa pela possível quarta vaga brasileira na Copa “Santander” Libertadores.
Na parte de baixo da tabela o Guarani deu adeus a primeira divisão após a derrota para o Grêmio. Vitoria e Atlético-GO jogam no Barradão, e o ganhador permanece na primeira divisão. Em caso de empate o Vitória vai visitar o inferno em 2011. No domingo dia 05 de dezembro, a partir das 17 horas, o país pára assistindo e torcendo por várias decisões simultâneas.
Dijair Brilhantes é estudante de jornalismo, Bruno Lima Rocha é editor do portal Estratégia & Análise