13 de janeiro de 2010, da Vila Setembrina dos Farrapos traídos por latifundiários escravagistas, Bruno Lima Rocha
Anunciam-se ventos privatizantes no governo de centro-esquerda que recém assume. Para executar tal manobra, Dilma Rousseff e sua equipe aconômica terão de livrar batalhas – assim como toda gestão que se inicia – de modo a submeter ou derrotar forças sociais com algum nível de autonomia organizativa. Tal o foi com Margareth Thatcher, quando enfrentou uma enorme greve de mineiros, iniciada em 1984 e com doze meses de duração; o mesmo ocorrera na greve dos controladores aéreos contra a política aplicada para o setor pelo governo de Ronald Reagan (em 1981) e se sucedera tal qual no Brasil quando FHC enfrenta uma grande greve de petroleiros (em 1995), que já haviam “empatado” com Collor e Itamar, e consegue – em função das decisões da Justiça – acabar com um movimento de ocupação de refinarias e até plataformas de extração.
Agora, os avisos de “caos aéreo” e a pressão para alcançar o plano de metas de infra-estrutura da FIFA para a Copa do Mundo, abrem margem de consentimentos das pessoas para que uma operação privatizante seja posta em marcha. Nunca é demais lembrar que a aviação brasileira já era das mais rentáveis do mundo (ver o link) quando do acidente com o avião da TAM – operando no limite da prudência – no Aeroporto de Congonhas em 17 de julho de 2007. Vem havendo, de fato, o encontro da demanda reprimida, com a expansão do crédito individual (permitindo parcelamento de bilhetes), diminuição de custos e um relativo barateamento das passagens. Mas, não termina aqui a fórmula de “sucesso” que faz crescer no país a um setor em crise mundial.
A rentabilidade alcançada passa também pela super-exploração da mão de obra. Aeroviários, aeronautas e pessoal especializado de aeroporto (como os controladores aéreos) estão trabalhando visivelmente muito acima do permitido e também do tolerável. Não é por acaso que tivemos paralisações, greves parciais em aeroportos-chave estando – como é sabido – a maior parte dos trabalhadores na aviação comercial têm um nível de estresse laboral muito elevado.
Derrotar dois sindicatos nacionais e bem estruturados como aeroviários e aeronautas não é pouca coisa. É uma “necessária” prova de lealdade de projeto desenvolvimentista, indo contra todo e qualquer acirramento ou tensão social. Esta “quebra de coluna” de categorias organizadas, fortalece ideologicamente a proposta de expansão do setor através de privatização de terminais, alas e novos aeroportos. Eis um desafio real – e contraditório – para a presidenta do Brasil.
Obs: para os leitores desavisados, este analista e este portal é totalmente solidário às reivindicações das categorias de trabalhadores na aviação civil e obviamente contrários a qualquer forma de privatização aberta ou velada (tipo PPP) de aeroportos, alas ou terminais.
Este artigo foi originalmente publicado no portal de Ricardo Noblat