A repulbicana SarahPalin publicou um mapa dos Estados Unidos no site de seu comitê de ação política no ano passado, que incluía uma lista de 20 assentos do Congresso ocupados por democratas, que, segundo ela, “estavam na sua mira” durante as eleições de 2010 - Foto:coastcontact
A repulbicana SarahPalin publicou um mapa dos Estados Unidos no site de seu comitê de ação política no ano passado, que incluía uma lista de 20 assentos do Congresso ocupados por democratas, que, segundo ela, “estavam na sua mira” durante as eleições de 2010
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A história de dois comissários

O massacre de Tucson, que deixou um saldo de seis mortos e catorze feridos, entre eles a congressista Gabrielle Giffords, concentrou repentinamente a atenção pública na figura do xerife local Clarence Dupnik. Dupnik tem sido o comissário do Condado de Pima, que inclui Tucson, a segunda maior cidade do Arizona, durante trinta anos. Antes disso, Dupnik foi policial durante vinte anos. Ele se transformou no centro das atenções nesta semana por vincular a matança de Tucson com o clima político violento em que se encontra os Estados Unidos, em particular o Arizona.

Imediatamente após a matança, o comissário Dupnik realizou uma coletiva de imprensa: “A raiva, o ódio e o fanatismo que se passa neste país está alcançando um nível horroroso. E lamentavelmente acho que Arizona se converteu na sua capital. Nós nos tornamos a meca do preconceito e da intolerância”.

Arizona é um dos três estados do país onde a população pode portar armas ocultas sem permissão. Quando lhe perguntaram a respeito da lei, o comissário foi categórico: “Bom, acho que somos a Lápida dos Estados Unidos da América. (…) Nunca fui a favor de que qualquer um possa portar armas neste estado em qualquer circunstância que deseje. E já estamos quase neste ponto. A legislação, neste momento, permite que estudantes e professores portem armas nas escolas e na universidade. A universidade deve ser administrada pelos reitores, não pela legislação do Arizona. Por isso, chegamos a esta situação absurda.”

O suposto assassino, Jared Loughner, de 22 anos de idade, claramente sofre de algum tipo de doença mental. No entanto, Loughner conseguiu comprar uma pistola semi-automática junto com compartimentos de capacidade estendida para carregar mais balas. Ele comprou as balas na mesma manhã do atentado.

Quando entrevistei o Comissário Dupnik, ele chamou as leis de porte de armas do Arizona de “insanas” e voltou a mencionar o vínculo entre o discurso político e a matança: “Acho que há muitas pessoas na indústria da rádio, especialmente, e algumas na indústria da televisão, que ganham milhões de dólares inflamando o público, alimentando o ódio contra o governo e a desconfiança. E em alguns casos temos candidatos políticos que dizem: “Se não podemos resolver estes problemas, devemos considerar a Segunda Emenda como a solução”. Ou temos gente em posição de poder que diz: “’Temos que ter pessoas como Gabrielle Giffords sob mira”. E na minha avaliação, estes tipos de declarações são totalmente irresponsáveis e trazem consequências.”

Uma das pessoas cujo discurso tem chamado a atenção é Sarah Palin. Palin publicou um mapa dos Estados Unidos no site de seu comitê de ação política no ano passado, que incluía uma lista de 20 assentos do Congresso ocupados por democratas, que, segundo ela, “estavam na sua mira” durante as eleições de 2010. Entre os alvos, Gabrielle Giffords. O mapa marcava cada distrito com uma mira de uma pistola. Para aumentar a polêmica, Palin vinculou as ditas miras no mapa a uma mensagem de twitter que dizia: “Não se retirem, RECARREGUEM!”.

A congressista Giffords falou diretamente a respeito do uso que Palin fazia das miras de pistola quando apareceram pela primeira vez. Disse em uma entrevista na emissora MSNBC:

(Gifford): “Temos recebido centenas e centenas de manifestantes nos últimos meses. Nosso escritório converteu-se em uma zona de congregação para todo o movimento do ’tea party’, e a discussão está muito acalorada: não somente temos recebido telefonemas, senão também correios eletrônicos, insultos. A situação tem piorado. Quero dizer que há que o pensar. Nossa democracia é uma luz, um farol para todo mundo, porque provocamos mudanças nas urnas, e não devido a estes estalos de violência, em alguns casos, e aos gritos. A mudança é importante, é parte de nosso processo. Mas é realmente importante que nos centremos no fato de que temos um processo democrático”.

(Jornalista): “Você considera que os deputados republicanos, os líderes republicanos, deveriam ter denunciados mais fortemente essa violência, ou está de acordo com o que disseram? Por exemplo, o Líder da Minoria John Baynor, que denunciou a violência na Fox News.”

(Gifford): “Acho que é importante para todos os líderes, não só os líderes do Partido Republicano e do Partido Democrata. Certamente há muitos independentes que seque não têm ressonância. Mas os líderes comunitários, as figuras de nossa comunidade devem dizer: ‘Não podemos suportar isto’. É uma situação em que a gente deve se dar conta do discurso e do ataque às pessoas, e inclusive coisas, por exemplo, como estar na mira de Sarah Palin. O problema foi a forma como ela mostrou, há uma mira de pistola sobre nosso distrito. Quando alguém faz isso, tem que se dar conta de que há consequências”.

O rival de Giffords nas eleições parlamentares, o veterano do Iraque Jesse Kelly, que conta com o apoio do movimento conservador ’tea party’, realizou um evento cuja publicidade dizia “Ajustem o alvo para a vitória em novembro. Ajudem a tirar Gabrielle Giffords do Congresso. Disparem uma M16 automática com Jesse Kelly”.

Quando o pai de Gifford correu no sábado para vê-la no hospital, perguntaram-lhe se ela tinha inimigos. “Sim”, disse, “Todo o tea party”.

Se por um lado a campanha de Palin foi direta e agressiva, a mesma corresponde apenas a uma pequena porção da violência política que consumiu o Arizona nos últimos anos. A governadora republicana Jan Brewer ganhou má reputação a nível nacional ao promulgar o polêmico projeto de lei de imigração S.B. 1070, ao que Dupnik se opôs firmemente: “Cada latino deste país, especialmente os do Arizona, deve ter acordado. Falei pessoalmente com muitos no dia seguinte, sentindo que lhes tinham dado um soco na boca, sentindo que agora eram cidadãos de segunda classe, que tinham uma mira de pistola nas costas, porque quando saírem de suas casas terão que levar seus documentos e se preparar para que os parem e interroguem. E isto, da noite para o dia, converteu os latinos em cidadãos de segunda classe”.

Comparemos o Comissário Dupnik ao comissário do condado vizinho de Maricopa, Joe Arpaio: “Se um oficial da polícia vê alguém em atitude suspeita ou assustado, ou o que seja, ou preocupado, e se essa pessoa fala e demonstra, de certa forma, que veio de outro país, podemos nos encarregar da situação”. Arpaio é conhecido pelas más condições no tratamento de presos, que são alojados em barracas de lona sob o intenso calor do verão. Ele prometeu ampliar sua ’cidade acampamento’ para se adaptar ao fluxo previsto de imigrantes detentos. Arpaio está sendo investigado por um processo federal de direitos civis ante o Departamento de Justiça dos Estados Unidos pelo trato a prisioneiros e imigrantes e por abuso de poder.

A República de Arizona informa que em condições normais, teria decretado a prisão preventiva de Jared Loughner, acusado num tribunal federal pelos assassinatos e atentados, a efetivar-se na prisão do condado de Maricopa. Mas “considerando a gravidade do caso e a inclinação do comissário do condado de Maricopa, Joe Arpaio, a sair na mída, Loughner foi transferido a um estabelecimento federal”.

Enquanto o país une-se contra o terror em Tucson, deixemos de apontar civis inocentes e esperemos que a sensibilidade do comissário Dupnik prevaleça sobre a violência cruel de Arpaio e todos aqueles de sua classe.

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Denis Moynihan colaborou na produção jornalística desta coluna.
@2010 Amy Goodman

Texto en inglês traducido por Mercedes Camps, editado por Gabriela Díaz Cortez y Democracy Now! en español, spanish@democracynow.org

Texto em espanhol traduzido por Rafael Cavalcanti Barreto, revisado por Bruno Lima Rocha.

Amy Goodman é âncora do Democracy Now!, um noticiário internacional que emite conteúdo diário para mais de 650 emissoras de rádio e televisão em inglês, e mais de 250 em espanhol. É co-autora do livro “Os que lutam contram o sistema: Heróis ordinários em tempos extraordinários nos Estados Unidos”, editado pelo Le Monde Diplomatique do Cone Sul.

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