Dijair Brilhantes & Bruno Lima Rocha
Em meio às festas do Rei Momo…abundam as dúvidas na Beira do Rio
Em meio às festas do Rei Momo, o assunto que esquenta as ruas de Porto Alegre-RS não trata de samba. As reformas do estádio Beira Rio tornaram-se a preocupação dos colorados neste primeiro trimestre de 2011. Tudo parecia acertado desde os últimos meses de 2010, até a nova direção assumir. Direção esta que venceu a oposição no último pleito. Nas eleições para presidente do Internacional, já se notava que um possível “racha” estava por acontecer. Uma briga de egos, (semelhante a que levou o clube a ficar mais de 20 anos sem títulos de expressão) fez com que a atual diretoria entrasse em litígio. Enquanto o ex-presidente Vitorio Piffero defende que a obra possa ser feita com recursos próprios, assim como Pedro Affatato e Emídio Ferreira, a atual gestão do presidente Giovanni Luigi prega o contrato com a construtora Andrade Gutierrez
A empreiteira bancaria toda a obra e ainda entregaria ao Inter um centro de treinamentos. Em troca, exploraria durante 20 anos ativos que o clube ainda não dispõe, como por exemplo, um shopping, um edifício garagem para três mil veículos, novas suítes e cadeiras. Quem sustenta esse segundo modelo de negócios é o ex-secretário da Fazenda Aod Cunha, um dos artífices do primeiro empréstimo do Rio Grande junto ao Banco Mundial. Especialista em impor regime de caixa e bônus para executivos, Aod entra com a lenga-lenga da modernização conservadora. Alienar receitas futuras é parte de sua expertise, assim como a abertura de capital para ações preferenciais do Banrisul, dentre outras “jogadas de risco”.
Voltando ao clube da Beira do Rio, bastou surgir um parceiro para o orçamento inicial de R$ 150 milhões, passar para R$ 250 milhões. O Internacional vendeu o antigo estádio dos Eucaliptos por cerca de R$ 30 milhões (números não confirmados pela direção) e com esta verba o clube deu início a obras de fundação para cobertura do estádio. Na prática o Internacional deixará o Beira Rio nas mãos de terceiros, tudo para sediar a Copa. E a pergunta que fica, onde está Fernando Carvalho? Onde está a liderança que com sua varinha mágica garantira a vitória de Giovanni Luigi na peleia interna do Conselho e nas eleições de sócios votantes? Será que com essa parceria modernizante o Internacional S.C, caminhará para a via crucis de Hicks & Muse, MSI, ISL e outras falcatruas do gênero? E agora, onde está a Guarda Colorada, o calor da popular, onde está a massa de sócios pagantes e contribuintes a opinar? Porque os cartolas dissidentes não tentam modificar o estatuto propondo consulta pública para obras de alienação de patrimônio, mesmo que seja de patrimônio ainda a ser constituído?
A volta de Aod Cunha e porque a Andrade Gutierrez?
Bastou Aod Cunha chegar nas bandas da Padre Cacique, para o terrorismo começar. O super-executivo, após “criar” o ilusório déficit zero do governo Yeda (contabilidade fantástica onde não se paga quem se deve, algo tão surreal como o chamado superávit primário), no Rio Grande do Sul, chegou ao Internacional prometendo tirar o colorado do vermelho (com perdão do trocadilho). Segundo dados da atual direção, o déficit de 2010 ficou em torno de R$ 20 milhões, a maior parte deste rombo proveniente de endividamento bancário. O clube teria gasto R$ 650 mil somente com os juros do cheque especial do Banrrisul. É por isso que Aod afirma: o Internacional não tem condições de realizar a obra sozinho, e a construtora Andrade Gutierrez seria a solução! Há controvérsias. A construtora Engevix teria se oferecido para fazer a obra pela metade do valor cobrado pela AG, sendo isto desmentido pela direção colorada. O fato é que por motivos que para os autores desta coluna parecem óbvios, a construtora do agrado de parte dos conselheiros colorados chama-se Andrade Gutierrez. Já a ex-direção composta por engenheiros civis expôs em planilhas e projeções um projeto quase fechado, com valor menor e sem alienação de patrimônio. No final da reunião do Conselho, o debate da mídia local (haja província!) era se Piffero pilheriou ou não a Luigi quando disse que se a obra fosse em uma rodoviária (o atual presidente é administrador deste ramo) ele não se meteria, mas em construção civil quem manja é o próprio ex-presidente abençoado pelo mago e desaparecido Fernando Carvalho.
O Internacional está proximo de criar uma dívida astronômica para fazer um estádio nos padrões da mãe FIFA, e assim sediar a Copa de 2014. Deveria usar o exemplo do São Paulo, que bradara: ou se aceita as condições do clube, ou levam a Copa para o raio que o parta, afinal o nem Blater nem Teixeira investem um centavo no clube. É opinião editorial desta coluna que a decisão deve ser soberana dos torcedores contribuintes e não da cartolagem “brilhante” que resolvera repatriar não a um craque de futebol, mas sim ao economista neoliberal e neoclássico Aod Cunha! Quanto absurdo.
Quando a bola rola
Mas o futebol tem seu lado bom. Quando a bola rola a alegria volta ao menos para grande parte do povo brasileiro. Na copa “Santander” Libertadores (é outra miséria da Conmebol, dar o nome de um banco espanhol ao torneio que homenageia aqueles que pelearam contra este Império), o Fluminense parece estar perto de uma participação vexatória; foi ao México e perdeu para o América por 1X0 e soma apenas dois pontos em três jogos. O Internacional fez o que se espera do atual campeão da América e aplicou 4×0 no Jaguares do México. O Santos após demitir o técnico Adilson Batista, empatou em casa com o Cerro Porteño em 1×1. Já o Cruzeiro segue firme na caminhada rumo ao título e empatou em 0x0 com o Deportes Tolima (carrasco corintiano). Na Copa do Brasil alguns sustos, mas sem surpresas. O Botafogo fez um jogo dramático com cara de tragédia (típico do alvinegro carioca), mas após vencer o River Plate por 1X0 no tempo normal, eliminou os sergipanos nos pênaltis. O Palmeiras fez 5×1 no Comercial do PI. O destaque ficou por conta do Atlético-MG, que aplicou 8X1 no IAPE-MA.
Já a maior lição boleira pós-carnaval vem da final da Taça Piratini, o 1º turno do Gauchão. O SER Caxias após fazer um primeiro tempo exemplar, quando virou ganhando de 2×1 do Grêmio de Renato Portaluppi, voltou do vestiário com o complexo de time pequeno, retranqueiro e fiasquento. O cai-cai do final do 2º tempo acabou dando sobrevida ao tricolor da Azenha (de mudança conturbada para a zona do Humaitá, devido aos enormes problemas trazidos pela Construtora OAS dentro do canteiro de obras), que empatou nos acréscimos e valeu-se da imortalidade na hora dos pênaltis. Em campo é 11 contra 11, mas tem horas (muitas horas, quase todas por sinal) que falta mesmo é auxílio psicológico para os clubes do interior, mesmo se tratando de um time de Caxias do Sul, município potência da Serra Gaúcha. O Grêmio tomou o sufoco, sobreviveu e soube se impôs.
Dijair Brilhantes é estudante de jornalismo & Bruno Lima Rocha é editor de Estratégia & Análise