Barack Hussein dá um espetáculo de simpatia bem ao estilo da cultura das celebridades que temos hoje. O presidente dos EUA jogava confete na elite brasileira e no melting pot étnico nacional enquanto comandava um “bombardeio humanitário” para conter tanto as tropas kadafistas como a luta dos insurgentes líbios.  - Foto:uol
Barack Hussein dá um espetáculo de simpatia bem ao estilo da cultura das celebridades que temos hoje. O presidente dos EUA jogava confete na elite brasileira e no melting pot étnico nacional enquanto comandava um “bombardeio humanitário” para conter tanto as tropas kadafistas como a luta dos insurgentes líbios.
Foto:uol

24 de março de 2011, da Vila Setembrina, Bruno Lima Rocha

Pela primeira vez desde John F. Kennedy os EUA tem um líder carismático ao ponto de ser popular, tornando-se referência para os eleitorados de distintos países. E, por sua trajetória e etnia, Obama tem óbvia penetração através de sua imagem na opinião pública brasileira.

Os estrategistas da diplomacia estadunidense operam com esta certeza e estão usufruindo dessa projeção simbólica de acordo com seus interesses a partir de duas máximas da política. Uma delas é “dividir para reinar” e a outra é a “capilaridade da imagem de um político”, acentuando sua representação imaginária e não real factual.

No ato de dividir para reinar, o foco do Departamento de Estado é a reaproximação do Ocidente para com o Brasil; o que implica no afastamento paulatino das teses latino-americanistas. É por isso que nosso país é bajulado pelos EUA nos atos discursivos no que diz respeito à América Latina, e ao mesmo tempo, os Estados Unidos tem uma posição tímida quanto à nossa presença permanente no Conselho de Segurança da ONU.

Já a penetração imaginária de Barack Obama no Brasil faz jus à sua trajetória como cientista político, advogado com boa oratória e organizador de base em guetos da Grande Chicago. Enquanto encantava os brasileiros no Rio, a coalizão atacava alvos leais a Muammar El-Khadafi em território líbio. É possível tornar um personagem capilar em sociedade alheia (no caso, a nossa) sem passar por intermediários ou mediações. Eis o porquê da pouca ou nenhuma atenção para a mídia latino-americana e a ênfase no aparato de propaganda da Casa Branca, a começar pela transmissão ao vivo pela internet de uma boa parte da agenda pública do mandatário estadunidense.

Uma caracterização possível da passagem de Obama pelo Brasil é o exercício da diplomacia através da ênfase nos aspectos de usos e costumes de povos com alguma similitude em sua formação multi-étnica embora ocidental. Esta é simpática e reforça a auto-estima dos brasileiros, em especial da maioria afro-descendente. Já a segunda caracterização analisa Obama como o grande relações públicas da potência, atraindo as atenções por este viés. Trata-se de manobra diversionista, criando um jogo de espelhos entre aquilo que estamos vendo – um presidente dos EUA simpático e culto – e o acionar de tipo imperialista, atacando um ditador outrora tolerado.

Na era de Bush Jr. as oposições e posturas anti-imperialistas se davam de forma mais simples. O filho do ex-vice de Reagan é menos capacitado e pior operador político. Quando esteve em São Paulo na companhia do ex-presidente Lula, em novembro de 2005, foi o caos. Parou a cidade em um dia útil de semana e teve de suportar um ato de grandes proporções contra a sua presença na metrópole. Já o ex-aluno de Columbia e Harvard é o oposto. Foi da Cidade de Deus ao Theatro Municipal e termina discursando para uma platéia VIP, ao estilo da cultura das celebridades.

Obama é capaz de muitos feitos. Um deles é de executar uma típica operação de corações e mentes, encantando platéias ao ponto de quase ninguém no Brasil bradar a este respeito.

Este artigo foi originalmente publicado no blog de Ricardo Noblat

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