Romário até tentou, mas despedida do Fenômeno tirou o foco das acusações contra Ricardo Teixeira - Foto:turkforum.net
Romário até tentou, mas despedida do Fenômeno tirou o foco das acusações contra Ricardo Teixeira
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Dijair Brilhantes & Anderson Santos

Fenomenal desvio de foco com despedida de R9

Justo quando mais uma maré de fortes denúncias contra o monar… (Ops!) presidente da CBF Ricardo Teixeira aparece, com direito à devolução de dinheiro de propina, resolvem fazer uma despedida oficial pela Seleção brasileira de um dos maiores jogadores de futebol do mundo. Não é mera coincidência a utilização do midiático e mercadológico Ronaldo Fenômeno no mesmo período que outro craque, o agora deputado-federal Romário (PSB-RJ), convocava Teixeira para esclarecimentos no Congresso.

O ex- jogador conseguiu aprovar junto aos seus colegas um requerimento convidando Ricardo Teixeira a dar explicações sobre as denúncias de corrupção na FIFA. Em seu requerimento, Romário citou que o Brasil enfrenta problemas para os preparativos para a Copa do Mundo de 2014 e que este suposto escândalo poderia agravar ainda mais a situação.

Na semana em que o “Baixinho” estava buscando contra si um forte inimigo, o poderoso chefão do futebol brasileiro presenteou Ronaldo com um relógio de ouro personalizado, e ainda disse que o R9 foi o melhor jogador que passou pela seleção brasileira na sua duradoura gestão de 22 anos, com, pelo menos, mais três pelas frente.

Ronaldo e Teixeira haviam se estranhado em 2009 após o “fenômeno” ter declarado ao jornal O Globo que o mandatário da CBF tem duplo caráter (referindo as críticas feitas por Ricardo Teixeira sobre seu peso na Copa de 2006). O presidente da entidade máxima do futebol brasileiro disse depois que a culpa do mal entendido era da imprensa.

Em maio, no aniversário da empresa de marketing esportivo Traffic, os dois já haviam conversado. Agora, após o presente e a despedida em amistoso com o time principal da Seleção, a paz parece estar selada.

Por que só ele?

O próprio Romário foi o protagonista do até então último jogo do Brasil no Estádio Paulo Machado de Carvalho. Em 2005, o Pacaembu recebia apenas uma seleção de jogadores que só atuavam no Brasil para enfrentar a Guatemala, na despedida do atacante com a maior quantidade de gols marcados na era moderna (cerca de 900, nas contagens oficiais, em que tiramos os amistosos com times juvenis da segunda divisão…).

Outros jogadores, talvez com menos pompa midiática que o Fenômeno, mas com uma participação importante na história do futebol brasileiro ficaram de fora. Jogadores como Cafu, o único a jogar três finais de Copas do Mundo (1994, 1998 e 2002), Roberto Carlos e Rivaldo (este sim, o grande jogador do pentacampeonato), contemporâneos de R9, sequer foram convidados.

Rivaldo, inclusive, deu uma declaração ao longo da semana que caso tivesse nascido no Rio de Janeiro talvez tivesse uma despedida da seleção. Vale lembrar que, por mais que tenha brilhado no Barcelona no final da década de 1990, com direito a título de melhor jogador do mundo, o pernambucano nunca apostou na sua imagem para conquistar mais seguidores.

O queridinho da Vênus Platinada

Ronaldo Nazário de Lima representa bem a derradeira transição para a era do marketing vivida pelo futebol mundial. Astro muito cedo, com milhões de dólares envolvidos em transação, um craque da bola, inegavelmente.

Além disso, o histórico de lesões e de recuperações, quando quase ninguém acreditava, o transformou no personagem ideal para as histórias de “lutando se consegue”, que tanto vemos cotidianamente nos meios de comunicação e que tanto apagam os diferentes níveis e objetivos de “lutas” que os sujeitos de diferentes classes têm.

Desde que chegou ao Corinthians, Ronaldo deixou ainda mais clara sua “simpatia” pela Rede Globo de Televisão. Muito se questionou ao longo destes dois anos, a quantidade de entrevistas dadas pelo agora ex-craque aos profissionais da Vênus Platinada, em detrimento aos outros veículos de comunicação.

Cabe lembrar, que no dia em que foi divulgada sua contratação, ele deu sua primeira entrevista com a camisa 9 corintiana unicamente para o Jornal Nacional.
Não bastasse isso, o R9 participou de inúmeros programas das emissoras dos Marinho: Globo Esporte, Bem Amigos, Altas Horas, Domingão do Faustão, e até café da manhã com a Ana Maria Braga!

No mês de maio, Ronaldo estreou como comentarista no jogo Real Madrid X Barcelona válido pelas semifinais da Ligas dos Campeões, sem a presença de Galvão Bueno, fã número um do ex-atleta, que depois teria o privilégio de entrevistar o agora empresário na 9ine, no quadro “Na Estrada com Galvão” do dominical Esporte Espetacular.

Após envolver-se em escândalo, Ronaldo fala ao Fantástico

Galvão chegou até a tocar nas “besteiras” que Ronaldo fez, mas que todo mundo passou a mão na cabeça depois, mas não prosseguiu no assunto. Nós lembramos…

Em 2008, ocorreu um dos maiores escândalos envolvendo sua carreira, quando foi parar na delegacia após discutir com três travestis, que o acusaram de ter mandado que trouxessem drogas.

Ronaldo concedeu entrevista exclusiva à repórter Patrícia Poeta, do Fantástico. O até então jogador em tratamento na Gávea, disse que estava arrependido, apesar de ter negado o assunto drogas. Apenas teria se “confundido” com a escuridão fluminense.

O assunto para a Rede Globo “morreu” ali. A emissora não estava disposta a destruir a reputação do ídolo.

Sucesso fora de campo

Ronaldo se despediu dos gramados e já se apresenta como um grande empresário. Gerencia a carreiras de duas grandes revelações do futebol brasileiro, quiçá mundial, o santista Neymar e o são-paulino Lucas, além de duas estrelas do esporte mundial, o jogador de futsal Falcão e o lutador de MMA Anderson Silva.

Mas os negócios andam muito prósperos. A 9ine acaba de fechar contrato com os supermercados Extra, do Grupo Pão de Açúcar, para cuidar de todas as ações de ativação do patrocínio da marca Extra à seleção brasileira. Além de ter fechado na véspera de sua despedida, com as pilhas Duracell, do grupo Procter & Gamble; com a empresa do dilatador nasal que o Fenômeno utilizou durante os minutos de sua despedida; e de manter um contrato com a Ambev, que já o patrocinava enquanto jogador e que foi a primeira empresa da carteira da 9ine, que gerencia ações de empresas no esporte.

Ufa!

Agora o silêncio?

Ronaldo se aposentou, aparenta que vai ter um grande sucesso enquanto empresário, da mesma forma que o teve enquanto jogador de futebol, mas e como fica a crise do futebol brasileiro?

Ricardo Teixeira passou ileso na líder do oligopólio midiático nacional, sua parceira de muito tempo, mas a Rede Record parece querer ser o seu calcanhar de Áquiles. Após matéria no seu dominical, é a vez do seu principal telejornal repercutir as denúncias a Teixeira numa série ao longo desta semana.

Será o suficiente para derrubar o homem que saiu ileso até de uma CPI e detém o controle do Comitê Organizador da próxima Copa do Mundo, e de seus bilhões em investimentos?

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