Dijair Brilhantes & Anderson Santos
Copa das surpresas, não das zebras
A Copa América 2011 na Argentina nos reservou algumas surpresas, mas não zebras. As duas seleções, com atletas dos mais visados no futebol mundial, que decidiram as últimas duas edições do torneio sulamericano caíram. O Brasil, que não começou bem a “era Mano Menezes”, perdeu nos pênaltis para o Paraguai. Algo semelhante ao ocorrido com a anfitriã Argentina, que perdeu para a mística seleção uruguaia.
A badalada seleção de Mano Menezes chegou à Argentina com pompas de campeã, com os nomes que “todos” queriam no ataque: Ganso, Neymar e Pato. Na prática, não se viu grandes atuações dos jovens jogadores. A evolução da tão criticada “era Dunga” e o sonho do tricampeonato foi para o limbo – mesmo local dos penais de Elano e André Santos.
Após um péssimo início no torneio, onde o time brasileiro empatou com Venezuela e Paraguai e venceu o Equador, com direito a duas falhas de Júlio César – e uma preocupação iminente de sequer ficar em terceiro lugar no grupo –, a Seleção escalada por Mano Menezes voltava a enfrentar o Paraguai, agora pelas quartas-de-final.
No tempo normal, sejamos justos, foi a partida com maior criação de oportunidades, mas todas foram desperdiçadas por Pato, Robinho e cia., que ainda contaram com boas defesas do goleiro Villar.
O empate em 0 a 0 pareceu ter desmotivado os jogadores na prorrogação, que pouco criaram de efetivo para quebrar a retranca paraguaia. Faltou aquilo que todos imaginavam que Neymar e Ganso, por exemplo, seriam capazes: assumir a responsabilidade em momentos decisivos, como já fizeram no Santos.
Curiosamente, o gaúcho Mano tirou o trio de frente durante o jogo e, ao menos, poupou-os de mais críticas caso fossem eles os perdedores dos pênaltis. Pois é, nem precisaríamos falar o que Elano, Thiago Silva, André Santos e Fred fizeram. Eles surpreenderam o mundo com a perda de quatro pênaltis em quatro batidos. O Paraguai só precisou acertar dois!
Tal fato não é inédito no futebol mundial, quer dizer, perder quatro em quatro é difícil de lembrar… A Suíça foi eliminada nas oitavas-de-final da Copa de 2006 sem sofrer gols e, ao mesmo tempo, sem ter feito na cobrança de pênaltis contra a Ucrânia, mas só bateu três. O Palmeiras, nas quartas-de-final da Copa do Brasil do ano passado, até perdeu quatro, mas fez um contra o Atlético-GO.
Chamem as vuvuzelas!
Na chamada “era Dunga”, a imprensa brasileira, de um modo geral, fazia duras críticas ao técnico brasileiro. Por mais que o time chegasse credenciado ao Mundial por conta dos títulos da Copa América e da Copa das Confederações. O fim das regalias à Rede Globo foi o ápice para a guerra generalizada, com direito a recado em coletiva de imprensa. Com a derrota, ele virou de vez o vilão.
Na opinião popular, o Brasil havia perdido a Copa da África do Sul devido à ausência de Paulo Henrique Ganso e Neymar. Hoje, os mesmos que pediam pela dupla santista questionam suas escalações e se os mesmos estão prontos para vestir a amarelinha. Se um ano depois do Mundial eles ainda mostram falta de maturidade, o ex-treinador da seleção estava errado?
Isso já não podemos dizer, por mais que os resultados da Copa América 2011 possa indicar o contrário. O fato é que Dunga deve ter pulado de alegria, enquanto membros da imprensa brasileira sentiam falta de suas rabugices.
Garantido no cargo
O dono da CBF – se a entidade é privada, como Ele diz, então… – Ricardo Teixeira garantiu Mano Menezes. Vai ver que a intenção é evitar algo que aconteceu há 20 anos, quando Paulo Roberto Falcão – mandado embora neste final de semana pelo Internacional – fora demitido por fazer o que Teixeira lhe mandara, o mesmo de agora: renovar.
Embora pareça ser difícil ver acertos na gestão do “Mister Teixeira”, mudar de técnico pode significar um retrocesso. Ainda assim, o trabalho precisa ser acelerado, pois a eliminação no torneio sulamericano só demonstra uma grave preocupação em relação ao fato de o Brasil estar automaticamente classificado, enquanto sede, para a Copa de 2014: a falta de jogos oficiais.
Mesmo em amistosos, neste um ano pós África do Sul, o time não conseguiu vencer nenhuma grande seleção. Em agosto virá mais um teste, contra a Alemanha.
Só não vá o técnico acreditar nas palavras do imperador da CBF, que já foi capaz até de demitir técnico com ligação quando o mesmo estava no aeroporto.
A pressão por nomes como Muricy Ramalho e Luiz Felipe Scolari já começou a aparecer na imprensa esportiva nacional.
O melhor jogo até aqui
No início da noite de sábado, Argentina e Uruguai proporcionaram o melhor jogo desta Copa América. Em disputa, uma rivalidade histórica, que decidiu a primeira edição da Copa do Mundo, no Estádio Centenário, em 1930.
A seleção argentina demorou a “engrenar” na competição. Após dois maus jogos na primeira fase, com direito à pressão sobre Lionel Messi – três vezes melhor jogador do Mundo –, a Argentina começou a demonstrar sua força contra a Costa Rica ainda na primeira fase, com Messi mostrando sua qualidade.
Contra os uruguaios, prevaleceu a rivalidade, num jogo que qualquer um dos times poderia sair vencedor. O Uruguai abriu o placar logo no início do jogo, mas a Argentina empatou e ainda ficou com um a mais já na primeira etapa, com a expulsão de Pérez, autor do gol celeste.
No segundo tempo, após muitas tentativas paradas nas defesas de Muslera, o resultado se manteve, com a igualdade se estabelecendo no número de jogadores em campo, com a expulsão de Mascherano.
Na prorrogação, nada feito. Nos pênaltis, Tevez, o jogador “queridinho” da torcida, parou em Muslera.
No mesmo 16 de julho em que calara um Maracanã com mais de 200 mil pessoas em 1950, o Uruguai calava a Argentina no “Cemitério dos Elefantes”, em La Plata. Esta é a Celeste!
Maradona faz falta?
Em campo não teríamos dúvida que sim, pelo extraordinário jogador que foi. Mas como técnico, “El Pibe D’Oro” foi tão questionado pela imprensa argentina quanto Dunga pela brasileira, com direito a xingamento na coletiva de imprensa após o jogo que garantiu a alviceleste na Copa do ano passado.
Dieguito, na pior das hipóteses, defendia o grupo de jogadores e se colocava como alvo preferencial das críticas. Os problemas com o presidente da AFA, Júlio Grondona – outro dos homens “fortes” da América do Sul –, fizeram-no não continuar, ao menos fisicamente, já que sua sombra parece ser permanente, ainda mais com uma seleção deste porte estando 18 anos sem ganhar um título oficial. Na melhor das hipóteses – ou na pior, para nós –, esse número para em 21, já que a próxima competição será a Copa de 2014.
Assim como Mano Menezes, Sergio Batista deve permanecer no cargo de uma seleção que, curiosamente, não soube aproveitar, até agora, o melhor dos seus últimos grandes craques, Riquelme e Messi. A este parece que faltam a estrutura tática dentro de campo e o apoio que sobram no Barcelona.
Os grandes caíram? Não!
A seleção uruguaia é a única das seleções ditas grandes que segue viva na Copa América. Uma demonstração do ressurgimento do futebol uruguaio, que após o “maracanazzo” pouco havia feito.
O quarto lugar na última Copa do Mundo, a vaga nas Olimpíadas de 2012, em Londres, e o vice campeonato da Libertadores de 2011, com o Peñarol, marcam o ressurgimento da Celeste Olímpica, duas vezes campeã mundial e olímpica. Daí a dizer que o título já é deles é não acreditar no melhor do futebol: o “Sobrenatural de Almeida” rodriguiano.
“Sobrenatural de Almeida” percorre a Argentina
Os surpreendentes Peru e Venezuela entram em campo pelas semifinais da Copa América contra Uruguai e Paraguai, representantes frequentes da América do Sul nas últimas Copas, com a chance de se configurar como as grandes surpresas do ano.
Não se surpreendam caso, por exemplo, Hugo Chávez tuíte de algum lugar de Cuba vibrando com o título inédito da “Vinotintto”. Brasil, Argentina e os Estados Unidos, que perdeu a Copa do Mundo feminina no domingo para o Japão, que o digam.