20 de julho de 2011, da Praça Sintagma (Atenas), Bruno Lima Rocha
A fronte do Parlamento grego volta-se para a Avenida Amalias, Centro de Atenas. Logo abaixo se localiza a Praça Sintagma. Este local foi o foco das manifestações de 28 e 29 de junho último, quando os legisladores acataram o pacote de medidas traçados pelo Banco Central Europeu (BCE) em conjunto com o Fundo Monetário Internacional (FMI). Não por acaso, é onde se deram a maioria das batalhas de rua quase insurrecionais, contra as divisões de polícia municipal (azul) e anti-motim (verde).
Passados menos de um mês da fatídica data, ninguém se esquece do ocorrido e a tensão é visível, literalmente. Na mesma calçada de fronte ao Poder Legislativo estão duas faixas verticais gigantes, ambas imitando os prêmios de “funcionário em destaque”, comuns em estabelecimentos comerciais. À esquerda, a faixa comemora o “prêmio de funcionário do ano” do FMI, e o laureado é o Primeiro-Ministro George Papandreu. À direita, o premiado como “funcionário da década” da Goldman Sachs (GS) é Mario Draghi, futuro presidente do BCE, ex vice-presidente da GS Europa e ex-presidente da Banca d’Italia no governo do contestado Silvio Berlusconi.
Para além do simbólico, a resposta dos setores organizados (nesta marcha se juntaram mais de 200 mil pessoas) logo após a aprovação do pacote do BCE/FMI foi tomar a Praça Sintagma. Segundo quem está acampado (cerca de 200 pessoas permanentes e umas mil flutuantes), a idéia é reconstruir o espaço público, ocupando-o por barracas e debates permanentes, diretamente inspirados pela Porta do Sol de Madri, acampamento pela Democracia Direta, na atividade também conhecida como 15 de maio (15-M). Mesmo agora, em pleno verão grego (com temperaturas diurnas oscilando entre 35º e 41º) e férias escolares, as atividades não param. Todas as noites há um debate central, com cerca de cem participantes, além da exibição de filmes, a maioria documentários políticos.
As marcas da fratura societária são outras, bem visíveis e nada simpáticas. No entorno da região de concentração turística, ficam estacionados – no mínimo – um ônibus inteiro de policiais de verde e capacete branco, mais duas dezenas dos policiais azuis, sem contar com um pelotão de motocicletas em alerta permanente. Surpreende o aparato, pois a capital da república helênica é muito segura, quase sem criminalidade, sendo comum inclusive ver mulheres sozinhas caminhando despreocupadamente de madrugada. Portanto, a conclusão é óbvia. A presença das forças de ordem é para contenção do protesto social.
Este artigo foi originalmente publicado no blog de Ricardo Noblat