Anderson Santos, Dijair Brilhantes e Bruno Lima Rocha
Eles fazem a festa com o seu dinheiro
O pequeno hiato nesta coluna não fez com que esquecêssemos de comentar sobre a farra dos R$ 30 milhões de reais gastos no dia 30 de julho deste ano. A Marina da Glória, no Rio de Janeiro, foi sede do sorteio das Eliminatórias da Copa do Mundo de 2014, o primeiro evento oficial da competição, e que já traz as perspectivas de futuro.
Cerca de duas mil pessoas estiverem presentes, entre atletas, ex- jogadores, técnicos e dirigentes. O governador do Rio, Sérgio Cabral, e o prefeito da cidade, Eduardo Paes, tiraram cerca de R$ 30 milhões de reais dos cofres públicos para a realização do evento. Em detrimento aos US$ 2 milhões gastos pela África do Sul há 4 anos. Que inflação! Ou, diante do espelho, algum ladino pode se perguntar num arroubo de sinceridade: quantas bocas para morderem o mesmo sanduíche!
A Rede Globo transmitiu toda a cerimônia, com direito a dois nomes de seu elenco apresentando – e, com Tadeu Schmidt, cometendo a garfe de trocar o nome de Ronaldo por Romário, novo desafeto de Ricardo Teixeira. Deve ser a norma do “baixinho”, porque sua excelência eleito pelos distritos simbólicos da Barra e da Penha, quando foi assinar ficha de filiação no PSB fluminense, confundiu a sigla com o PSDB, do ex-tucano Sérgio Cabral Filho!
Voltando à cerimônia, ou ao papelão inflacionado, a Band, parceira da nave mãe na transmissão televisiva de futebol parou para mostrar um jogo da Série B. Afinal, alguém poderia nos dizer quando se transmitiu sorteio de eliminatórias, ainda mais quando a da Conmebol é por pontos corridos e, além disso, o Brasil já está garantido enquanto sede da Copa?
Enfim, a Geo Eventos, empresa de eventos das Organizações Globo em sociedade com o Grupo RBS – com suas afiliadas do Plim-Plim em Santa Catarina e Rio Grande do Sul –, foi contratada em regime de exclusividade pelo Comitê Organizador Local (COL) para captar patrocinadores para a organização do evento. E, como se sabe, a mordida da cota das agências e captadoras de patrocínio gira na ordem de 20%. Legal essa equação. Mas, se a Globo e a Band compram direitos de transmissão, cabe a elas vender o “produto” (argh! Como dói dizer esse jargão neoliberal) e não ser contratadas pelo Comitê Organizador Local para vender o pacote do evento…..Depois os caras se enroscam e dizem não saberem porque!
Para provar nossa tese resumida acima, estranhamente, ou não quando se trata de Brasil, os dois únicos patrocinadores que a empresa de eventos fechou contrato foram a prefeitura do Rio de Janeiro e o governo do Estado. Cada contrato, segundo os diários oficiais respectivos, custou R$ 15 milhões. Em troca… O que mesmo teve de resultados para a população do Rio?
Os absurdos não param por aí. O que vocês (leitores e leitoras aguerridos, do tipo corneteiro de cartola e crítico dos críticos jabazeiros) pensam de quatro horas de interrupção nas chegadas e partidas no Aeroporto Santos Dumont para não “atrapalhar” a transmissão midiática internacional? Afinal, o que é mais importante: atender às exigências de Blatter, Teixeira e cia. ou manter o, já problemático, sistema aéreo nacional na normalidade em pleno final de semana? Entidades privadas, “mister Teixeira”, consumindo dinheiro público e atrapalhando as pessoas.
Ah não, car@ leitor (a), isso não é ponto positivo. Quem sabe esse dinheiro todo tenha sido gasto para surpreender Joseph Blatter com um “Rio de Janeiro; a capital da Copa”, em meio às assinaturas para a construção do centro de imprensa na cidade, algo que não existiu em lugar algum. Velha “malandragem” brasileira, que tenta surpreender aos especialistas sênior neste quesito…
Precisa dizer que a promessa de nossos governantes de não usar dinheiro público vem descendo morros e ladeiras abaixo, com o primeiro evento oficial do Mundial de 2014 trazendo um exemplo primordial?
Socorro! Chamem o Andrew Jennings!!!
Rede Globo censura protesto
A Vênus Platinada evita ao máximo falar de Ricardo Teixeira – mas não no sentido da presidenta Dilma Rousseff, que até lugar separado pediu para não ter imagem ligada ao dono presidente da CBF. Tratado por funcionários da empresa como Doutor, ele foi alvo de inúmeros protestos via redes sociais. No dia do evento, houve protestos do lado de fora da Marina da Glória – após uma grande repercussão via Twitter e noticiosos da Campanha #foraricardoteixeira e derivadas.
Porém, os jornais televisivos da emissora fizeram breves comentários sobre o assunto. No seu site de notícias esportivas, as primeiras informações eram de que “apenas” 50 pessoas. Depois, acrescentou bem mais aos números, entretanto, “justificando” que houve acréscimo de manifestantes de outras áreas – que protestam contra o governador Sérgio Cabral Filho. Como se as lutas pudessem ser separadas…
É visível a proteção da emissora para com Ricardo Teixeira, o próprio já admitiu publicamente que a sua única preocupação é não “aparecer no Jornal Nacional”. Ambos parecem terem ganhado um adversário que aos poucos tende a despertar do berço esplêndido. Alguns movimentos sociais, e uma crescente parcela da população nacional, começam a protestar contra a cartolagem e o futebol como negócio (e do tipo escuso), como a criação de uma Frente Nacional de Torcedores.
Que a Globo e o presidente da CBF são aliados há anos não chega a ser novidade, mas com a aproximação do maior evento esportivo do mundo ocorrendo no Brasil, a afinidade aumentou, ou pelo menos ficou mais exposta. A Rede Record nunca falou tão mal da CBF e com tantas pautas em seqüência como agora. A TV do “bispo” Macedo se soma aos já “tradicionais” críticos, como Lance!, Estadão, Juca Kfouri e Jorge Kajuru.
“A experiência da Euro foi desastrosa”
Aproveitando de um contato com um comunicólogo com proximidade à política portuguesa, que trabalhou numa campanha de promoção da imagem da cidade do Porto, questionamos sobre o “saldo” da Euro 2004 – o campeonato europeu de seleções – para Portugal, anfitriã do evento. A resposta foi: “A experiência da Euro foi desastrosa”.
Segundo ele, foram desnecessariamente construídos dez estádios, em que só o de Lisboa, por conta do Benfica e do Sporting, e o da cidade do Porto, por conta do Porto, estão sendo bem utilizados. Cogita-se a hipótese de até implodir alguns estádios por conta do alto custo de manutenção. Obs: na África do Sul ocorre o mesmo.
Aproveitamos para lembrar que Portugal vive uma crise econômica (derivada de uma fraude financeira) de tanta proporção que o ex-primeiro-ministro antecipou as eleições para o seu substituto. Além disso, a Grécia também sente “falta” do dinheiro gasto com as Olimpíadas de 2004. Isso porque estamos falando de lugares em que, imagina-se, há um planejamento melhor que o nosso – por mais que tenham entrado na “onda” do mercado de derivativos, conduzida esta última pelo ex-braço direito financeiro do dono do Milan (Mario Draghi, ex-presidente da Banca d’Italia no governo de Silvio Bunga Bunga Berlusconi), que gerou a atual tsunami nos mercados capitalistas mundiais.
O que fazer com estádios em Brasília, Mato Grosso e Amazonas, cujas médias de público dos regionais representam cerca de 10% da capacidade desses monumentos? E em Recife, com cada clube tendo seu estádio – por mais gritante que seja a diferença entre o Arruda e os demais –, quem utilizará a Arena Recife?
Esta fonte de Portugal muito bem definiu tal situação: “a paixão do futebol faz com que os políticos cedam facilmente, mas na prática não há resultados já que o público que vai a uma Copa do Mundo é o que já consome os produtos daí derivados”. Apesar que, assim como quando discutimos e comparamos os mercados comunicacionais dos dois países, percebemos que a ex-colônia ainda tem mais justificativas que a simples “cessão à paixão pelo futebol”.
Uma dívida celeste
Esta coluna ainda deve uma análise e homenagem para a conquista da Copa América pela seleção da República Oriental do Uruguai e o ressuscitar de um futebol apesar de Paco Casal, Eugenio Figueredo, Juan Figger, Pablo Betancourt e companhia. Devemos essa homenagem e vai sair en buen castilla, criollo y villero.