O ex-governador fluminense se arvora de liderança independente, tentando manter a pressão sobre o Planalto, empurrando o PMDB governista para demandar mais cargos, emendas e posicionamentos.  - Foto:vindodospampas
O ex-governador fluminense se arvora de liderança independente, tentando manter a pressão sobre o Planalto, empurrando o PMDB governista para demandar mais cargos, emendas e posicionamentos.
Foto:vindodospampas

18 de agosto de 2011, da Vila Setembrina dos Farrapos, Bruno Lima Rocha

Até o momento, os seguidos escândalos de corrupção e as decorrentes frituras derivadas de geração de fato midiático, seguidas de fato político e muitas vezes antecedidos por investigação policial, não abalaram o apoio popular para a presidente Dilma. A ex-chefe da Casa Civil de Luiz Inácio segue, segundo a última pesquisa CNT/Sensus (deveras difundida por sinal), com 70,2% de confiança dos eleitores. Se na relação indireta com esse mistério conceitual chamado “opinião” pública a ex-ministra de Minas e Energia vai bem, o problema está justamente da porteira para dentro.

Como todas e todos sabem, o Partido da República viu-se como a “Geni” do atual governo, abandonou a base esta semana e, pasmem, abriu mão de cargos (e orçamentos). Esta postura, ao mesmo tempo em que reforça a liderança pública de Anthony Garotinho (PR-RJ, deputado federal), deixa de cabelo em pé o aliado maior. O PMDB, uma legenda a representar um guarda-chuva de interesses e oligarquias estaduais, carrega em seu ventre o germe do “pacto de governabilidade”. Mas, como é sabido, o presidencialismo de coalizão brasileiro cobra seu preço, e este, se bem transacionado, vem por dentro e com rubrica, na forma de emendas, postos, cargos e orçamentos. Assim, governar em conjunto é compartilhar recursos e não necessariamente projetos. Em sendo o parceiro de empreitada a personificação da cultura política a qual o Executivo quer pactuar uma cruzada em contra, como assegurar uma base sólida?

Dilma assumira uma composição de aliança montada pelo governo que a antecedera (e do qual fez parte todo o tempo); esta mesma montagem hoje atende pela alcunha de “herança maldita”. Trata-se de artefato político-policial de efeito retardado e contínuo. Havendo aliança fisiológica, existirá munição noticiosa para alimentar tanto a oposição – com o intento até agora frustrado de CPI da Corrupção – como para elevar a tensão na interna do governo. Outros “problemas” virão.

Nestes oito meses à frente do Planalto, Dilma Vana Rousseff demonstrou que vê limites no pragmatismo político, não estando disposta a bancar situações como na campanha Fora Sarney (do Senado), quando Lula não poupou esforços para garantir o apoio ao aliado. O perfil político da presidente dá certeza de sua não tolerância com tais práticas. Diante disso, uma dúvida é desconcertante. Se a presidente estremecer sua aliança, ao mesmo tempo em que não convoca as forças sociais para combater os fisiológicos e sustentá-la, Dilma vai governar com quem?

Este artigo foi originalmente publicado no blog de Ricardo Noblat

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