26 de novembro de 2011, da Vila Setembrina, Bruno Lima Rocha
Trago para esta página a pauta do Rio Grande por entender que este caso se generaliza e permite uma análise política ampliada. O sindicato dos professores estaduais (Cpers-sindicato) tem uma direção colegiada, cuja espinha dorsal fora reeleita no Congresso de 2010.
A instância tem grande representatividade, ultrapassando os limites da própria organização da categoria. Por lá passaram todos os candidatos com algum verniz mais à esquerda e os grupos de discussão refletiam entusiasmo e certo grau de adesão da maioria dos delegados para a chapa de Tarso Genro (PT) e Beto Grill(PSB) rumo ao Piratini.
Passado pouco mais de um ano, a direção que apanhara algumas vezes do governo Yeda (literalmente), se divorcia (ao menos temporariamente) do ex-ministro da Educação. Na sexta 18 de novembro o Cpers declarara a greve do magistério, em pleno final de ano.
Várias são as razões da greve, embora a grande motivação seja o ainda não pagamento do Piso Nacional da Educação, por sinal uma Lei Federal ratificada pelo Supremo.
Tarso disse que pagaria ao longo de quatro anos, se predispondo a adiantar o possível dentro do arranjo de poder e projeto.
Pragmaticamente, desde que não modificasse a distribuição básica de recursos do estado, aceitaria cumprir a Lei.
Os limites seriam os típicos de governo de coalizão, como não auditar a bola de neve da dívida com a União, não suspender os benefícios fiscais e nem descontentar a direita que o apóia.
Resultado. Nas maiores cidades do Rio Grande foram colados cartazes onde Tarso aparecia com nariz de Pinóquio e se preparara o clima da greve.
A mesma foi votada em assembléia com cerca de 4000 delegados e imediatamente se vira uma aliança explícita entre os grupos de mídia e o Executivo, saindo editoriais sem fim a respeito da justeza da luta do magistério e os equívocos da greve no final de ano.
Moral da história, Tarso se vê na obrigação de tentar quebrar a legitimidade política da greve e joga todas as suas cartas ideológicas, jurídicas e políticas.
De sua parte, a direção eleita da entidade espinha dorsal do sindicalismo gaúcho se defronta contra a legenda de centro-esquerda que galvaniza os votos da categoria.
Os efeitos de médio prazo desta greve são interessantes, dos quais destaco dois. Um implica na mudança à esquerda da correlação de forças nos sindicatos do RS. Outro, no reposicionamento quanto ao adesismo costumeiro de dirigentes sindicais, que costumam ser mais leais ao seu partido do que a categoria que os elegem.
Este artigo foi originalmente publicado no blog do jornalista Ricardo Noblat.