16 de dezembro de 2011, da Vila Setembrina, Bruno Lima Rocha
A política também é feita por lealdades. Quando alguém se filia a um partido ou organização, carrega em sua prática os ônus e bônus dos seus. Isto implica em ser portador de um discurso, seja de governo, de bancada ou oposição. O mesmo se dá em distintas arenas, de acordo com as clivagens de correntes de pensamento.
Em geral, as esquerdas políticas dialogam com a base da pirâmide social e com abstrações de sujeitos coletivos, como classe, povo e cidadãos. Já as direitas políticas elegem como arena principal, para além da representação com mandato e do aparelho de Estado, estruturas associativas patronais e federações de setores da economia.
Nas últimas décadas, as direitas se renovam numa mescla de linguagem publicitária com grupos de pesquisa acadêmica na forma de lobby, os chamados think tanks.
Já as esquerdas latino-americanas, uma vez que suas versões mais brandas assumem governos no continente, se vêem a volta com o dilema de lealdade programática ou pacto de governabilidade.
O olho do furacão da quebra de lealdade se dá quando algum filiado ao partido de governo (centro-esquerda) se vê emparedado entre os compromissos de gestão e a representação sindical.
Na última década, o que se viu foi uma camada de dirigentes sindicais fazerem da política profissional uma fábrica de traidores de classe, no sentido estrito do termo. Já quando a opção é pela identidade classista, paga-se um preço alto por sua lealdade programática.
Isto levara, por exemplo, ao racha do partido majoritário, ou a processos de expulsão concomitantes, logo no primeiro ano do governo Lula.
Desta vez, daqui da Província de São Pedro, vem uma aula de teoria política, dando carne aos conceitos acima.
A presidenta do Sindicato Estadual de Professores (Cpers-sindicato), a professora Rejane de Oliveira, está sofrendo uma representação formal do presidente do PT porto-alegrense, vereador Adeli Sell, por haver participado de um protesto contra as alterações no ensino médio propostas pela Secretaria Estadual de Educação.
Detalhe, tanto Rejane como o secretário José Clóvis de Azevedo pertencem à corrente Democracia Socialista (DS).
A gota d’água seria a presidenta do sindicato da educação haver tomado parte na queima das cartilhas de governo, na 5ª 08 de dezembro, em ato após o fim da greve do magistério.
Adeli quer levar Rejane à comissão de ética por isso. Já a dirigente sindical diz que defende os interesses da categoria acima de partidos e governos. Eis o dilema das lealdades políticas.
Este artigo foi originalmente publicado no blog do jornalista Ricardo Noblat.