O país vem regulando os preços internos através de sua moeda forte e na aquisição sem precedente de bens de consumo importados. Embora satisfaça e melhore o nível de vida da população, endivida a massa assalariada e tira o foco no desenvolvimento científico brasileiro.  - Foto:brazilplanet
O país vem regulando os preços internos através de sua moeda forte e na aquisição sem precedente de bens de consumo importados. Embora satisfaça e melhore o nível de vida da população, endivida a massa assalariada e tira o foco no desenvolvimento científico brasileiro.
Foto:brazilplanet

10 de janeiro de 2011, Bruno Lima Rocha

No último artigo do ano, dei início a uma análise transversal do momento econômico vivido pelo Brasil, desenvolvendo o argumento através das bases da economia política crítica. Seguindo no mesmo tema, antes de nada é preciso constatar. Não dá para negar que hoje vivemos bem se comparando dez anos atrás e também que a primeira década do século XXI foi muito melhor para os latino-americanos e os brasileiros do que a seqüência de duas décadas perdidas.

A de ’80, teve como marca a crise da dívida acompanhada de estagflação galopante, chegando o Brasil à beira da hiperinflação. Naquele período construiu-se um consenso em torno do Estado Burocrático Autoritário, associando tudo o que era estatal a atraso e abismo cultural dos latino-americanos para com os países de capitalismo central. A conseqüência veio nos anos ’90, quando se dilapidam os patrimônios nacionais, liquidando tudo (ou quase tudo). Ainda assim nos mantivemos estagnados economicamente, embora já sem o fantasma inflacionário.

Não negar o óbvio está longe de implicar em adesão incondicional para a política econômica do governo e menos ainda em produzir discurso chapa branca e ufanista. Se na comparação com a história recente melhoramos, ainda estamos longe de termos uma estrutura produtiva a permitir vôos mais altos. Estamos séculos de ter um desenvolvimento regionalizado. Os níveis de investimento diretos ainda são baixos e o volume de impostos não corresponde à qualidade dos serviços prestados. Frear a sanha privatista foi importante, mas agora caberia um debate profundo a respeito do(s) modelo(s) de desenvolvimento e distribuição de renda no longo prazo.

Hoje o país vive o fruto da expansão do emprego direto (positiva), mas também do acesso ao crédito através da presença cada vez maior do sistema financeiro em nossas vidas cotidianas (duvidosa). O consumo suntuoso é incentivado por governo e mídia (a exemplo da cobertura das compras natalinas), pregando um keynesianismo capenga onde o mercado interno (antes patinho feio) é a galinha dos ovos de ouro. Dois problemas decorrem da expansão consumista desenfreada. O primeiro é o endividamento crescente dos brasileiros; já o segundo é a enxurrada de produtos importados, aumentando o abismo científico nacional.

Antes do flagelo da “fraude com nome de crise” promovida pela jogatina dos banqueiros, o Velho Continente era a utopia do capitalismo na Terra. Ainda cabe um longo caminho para vivermos em uma sociedade com nível de vida comparado com o europeu.

Este artigo foi originalmente publicado no blog do jornalista Ricardo Noblat

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