23 de novembro de 2012, Bruno Lima Rocha
Entrar na complexidade do conflito árabe-israelense e a libertação da Palestina implicam em confrontar o senso comum. Como sempre, as verdades factuais incomodam. Os bombardeios de Israel contra a Faixa de Gaza, longe de ser “somente” uma resposta contra a ação do Hamas, são também uma demonstração de força para os países da região, sacudidos pela Primavera Árabe. Isto reflete a situação de interdependência dos EUA para o Estado sionista e vice-versa.
Em termos de realismo político, trata-se de uma situação de duplo veto. Os Estados Unidos, além de terem poder de veto no Conselho de Segurança da ONU, dão o suporte da defesa israelense, o que implica a própria condição de existência do país. Em contrapartida, o maior lobby do mundo opera em Washington e tem como atividade-fim a subordinação da política externa do Império para com os interesses da elite dirigente de Israel. É inimaginável para o estadunidense médio algo diferente do apoio incondicional de seu país para com os aliados ocidentais no Oriente Médio. Neste sentido, por mais que o Ocidente tenha uma dívida histórica com o povo judeu, o Estado criado em 1948 opera como cabeça de ponte tal e como atuava a África do Sul do apartheid. Assim, as resoluções das Nações Unidas a respeito da criação de um Estado Palestino tornam-se inócuas, e pela via dos fatos, o novo país está cada vez mais distante de ser criado.
O discurso que corre no Ocidente responsabiliza o Hamas pelo não andamento dos Acordos de Paz de Oslo. Por mais que o partido-armado integrista de credo sunita seja o oposto de qualquer democracia, seu rival secular, o Fatah, tampouco é democrático ou legalista. Em 2006 o Hamas vence as eleições parlamentares da Autoridade Nacional Palestina e, um ano depois, sofre na Cisjordânia um golpe de Estado dos correligionários de Mahmoud Abbas. Desde então os integristas controlam Gaza e, desta região, fazem simultaneamente a resistência contra Israel e rivalizam politicamente com a Fatah. Do lado israelense, qualquer resposta militar contra os vizinhos implica em apoio eleitoral e facilidades na composição de maioria parlamentar.
O impasse traz duas constatações. Se o Estado Palestino for criado através do conflito, isto levaria a uma guerra de proporções regionais, contando com a intervenção dos EUA como medida extrema. A balança pende para a política interna israelense, onde uma pulsante sociedade civil tenta revitalizar as tradições do humanismo judaico de inspiração pacifista e universal.
Este artigo foi originalmente publicado no blog de Ricardo Noblat