Bruno Lima Rocha Beaklini (@estanalise)

De 22 de fevereiro a 27 de fevereiro de 2022: do Reconhecimento das Repúblicas de Donbass até a mobilização de forças nucleares russas

Segunda, 21/02/2022

O SONHO DO PENTÁGONO

Agora vai diminuir o espaço para o Trumpismo na AmeriKKKa. O Biden vai arrumar uma guerra, faturar um monte pro Complexo industrial militar, triplicar o orçamento emergencial e, sem ter de enterrar ninguém ou sair correndo de instalação diplomática, como na Líbia. Ainda por cima, os mortos são brancos e de olhos claros, ou seja, vai ter comoção na base dos “white trash”. Imaginem: neonazistas ucranianos matando duginistas russos, usando armas gringas e recursos de inteligência de Israel. É o sonho macabro do Pentágono!

Terça, 22/02/2022

UMA REFLEXÃO SOBRE A FALA AO VIVO DO PUTIN

Não sei quem mais assistiu, mas ainda estou sem fôlego. Sendo da área de Relações Internacionais e Ciência Política, brigando no campo há  uns 20 anos – especificamente no meio, entre a academia e o jornalismo –  nunca vi nada igual. Semelhante na nitidez de conceitos só o discurso do general Qassem Soleimani, quando disse que o Trump não passava de um gerente de cassinos. Putin falou por quase uma hora, sem ler, sem recorrer a teleprompter, como se estivesse na sala de casa. Convenhamos que, para um presidente estadunidense fazer isso, precisaria de uns 15 assessores. Foi uma aula, mas muito perigosa. Reconheceu e dobrou a aposta, com Kiev, União Europeia, OTAN e os patrões gringos.

INDIGNAÇÃO SELETIVA

Blinken e o chanceler da Ucrânia, ao vivo, aumentaram a aposta. O Departamento de Estado cancelou a reunião com a chancelaria russa. Hipocrisia plena. Os tais Acordos de Minsky nunca foram cumpridos.

Já imaginaram essa indignação toda diante da ocupação da Palestina e de Golan?

ALEMANHA RECUADA

Olaf Scholz, do SPD, social-democrata, se mostrou muito, mas muito mais recuado do que a chanceler Angela Merkel, da CDU. Sob seu governo, a Alemanha anunciou que vai parar o Nord Stream 2. Já Merkel sempre agiu diferente. Criada no Leste Europeu, ela jamais buscou contenciosos com os “amigos russos”. Já Scholz poderia reproduzir a sua questão “humanitária” aliviando a pressão da Troika, na Grécia.

A EUROPA É UMA CORJA DE HIPÓCRITAS

A entidade sionista ataca a Síria todos os dias, ameaça o Líbano e massacra o povo palestino. Só de verba declarada vinda dos EUA, passam de 5 bilhões ano para a “defesa”. Ocupam a Cisjordânia e Golan desde 1967, isso sem falar na Nakba de 1948. E a Europa não faz nada! A Rússia instala e ajuda a treinar as baterias antiaéreas sírias e compartilha as bases de Latakia a Tartuz. Sinceramente, eu desejo que os sionistas, os gringos e seus aliados europeus se danem!

Quarta, 23/02/2022

CORJA RACISTA

O problema dessa corja é uma “guerra na Europa”. Fazer guerra no Iraque, Afeganistão, Síria e em países africanos tudo bem – OTAN, EUA e UE nem reclamam.

Quinta, 24/02/2022

OTAN “JENIAL”

Os “jênios” da OTAN imaginaram, em seus delírios, que a inteligência russa não perceberia a existência de bases anglo-saxãs, bases de armas biológicas e bases com controles de satélites estacionários coordenando, de fato, uma Operação Guerra nas Estrelas contra a Rússia? Difícil acreditar.

SABOTAGEM ESTADUNIDENSE

A porta-voz da chancelaria russa acusou os EUA de se negarem a negociar com a  Rússia e OTAN. A OTAN não vai negociar, apesar de uma tentativa de contato entre o governo Zelensky com Donetsk e Lugansk para buscar um acordo de mediação. Se for realmente verdade – o que agora importa pouco -, os gringos e seus aliados sabotaram o final da rodada de diálogos, afundaram os Acordos de Minsky e, simplesmente, forçaram a ofensiva russa.

MINHA AVALIAÇÃO

O governo Putin, uma vez confirmada a existência de bases da OTAN, dos EUA, bases de armas biológicas e controladoras de satélites estacionários, não arriscaria um conflito prolongado, mas aproveitaria a chance única de atingir a OTAN, sem necessariamente receber uma retaliação direta.

Sexta, 25/02/2022

A HIPOCRISIA NA MÍDIA OCIDENTAL

O gabinete de Putin é composto por oligarcas e conservadores. A demência duginista é usada como massa de manobra. E controlada. “Putin é de esquerda”, só se for canhoto como judoca e atirador. O que está em jogo pode ser uma virada geopolítica em escala europeia e global.

Na Ucrânia, a soma de oligarcas, forças neonazistas (na formação de batalhões inteiros), ultranacionalistas (que queriam fazer pogrom contra a minoria russa), sionistas de todos os  tipos e tamanhos (incluindo o presidente Zelensky, seu patrão e o presidente anterior), e a cereja do bolo seria uma infiltração de operadores salafistas e mercenários do Daesh que, gentilmente, o governo Erdogan mandou para a Crimeia – muitos deles veteranos da Síria  e de Nagorno-Karabakh.

Isso sem falar em agentes do Mossad e as bases – reais – da OTAN e a promessa do comediante em fuga de instalar bases nucleares no território ucraniano.

Se eu sei, os colegas da mídia profissional também sabem.  Logo, é censura com bloqueio de informações, pura hipocrisia.

O “HUMANISMO” DA OTAN

Ataques cibernéticos podem acionar o Artigo 5 da OTAN, mas jamais cogitaram ir tão longe na interpretação da guerra eletrônica indireta.

São “humanitários”. Aceitam um confronto informático e concebem como válidos assassinatos em massa através de ataques de drones em áreas densamente povoadas, com populações de maioria islâmica.

CONSELHO DE SEGURANÇA DA ONU – A RÚSSIA VETOU A MOÇÃO DE CENSURA CONTRA A OPERAÇÃO NA UCRÂNIA

A reunião do Conselho de Segurança da ONU é a mais tensa assembleia de condomínio da humanidade. O representante russo diz que a mídia ocidental mente, enquanto a representante dos EUA afirma que são mentiras orquestradas pelo Kremlin. Está ao vivo na RT em língua inglesa – emissora russa que, surpreendentemente, o Youtube ainda não derrubou.

DOIS PESOS E DUAS MEDIDAS

O embaixador da Ucrânia denunciou que foi avistado um navio muito suspeito com bandeira panamenha, que seria embarcação russa, perto de Odessa. Só faltou dizer para a embaixadora dos EUA – uma mulher negra do Partido Democrata – que o Panamá foi invadido em 1989 pelos EUA com as mesmas razões alegadas – mudança de regime, “regime change” -, numa velocidade de ação ainda mais apurada.

Sábado, 26/02/2022

LENIN X PUTIN E O BALANÇO DO CONFLITO RUSSO-UCRANIANO

Acabo de ler a nota do Partido Comunista da Federação Russa. A linha é estalinista, mas reivindica toda a experiência da URSS, logo, não admite o próprio termo-conceito de estalinista. Basicamente segue a linha discursiva do Kremlin, com exceção da figura do Lenin e a formação da Ucrânia moderna, a Rússia de Fronteira. No último 22 de fevereiro, Putin criticou fortemente o outro Vladimir por ter determinado a unidade política na Ucrânia. Óbvio que ele não disse que aquele território fora entregue à própria sorte nos Acordos de Brest-Litovsky e que só ganhou a guerra civil dos brancos graças ao Exército Insurrecional dos Camponeses, ou Machnovischina. Depois, como era de se esperar, Lenin e Trostky traíram os acordos com o Exército Negro e a força político-militar de orientação anarquista foi derrotada.

Mas é apenas isso. O PC da Federação Russa atual entende que houve uma desnazificação da Ucrânia, o que faz sentido em termos históricos, já que a fronteira da Rússia tinha sido invadida em 1918 e depois em 1941. Qualquer alusão ao nazismo ali é anti-Russo e deixa o Estado Maior em alerta máximo.

Para Putin, a Ucrânia ganhou autonomia demais no período soviético e essa herança política em busca de liberdade no tabuleiro do poder europeu inclina Kiev para a lógica de que “o pior inimigo do meu maior inimigo pode ser meu grande amigo”. O comediante (Zelensky, presidente da Ucrânia) só não combinou com a OTAN e os gringos, e nem livrou as forças do país de batalhões nazistas irregulares.

De 0 a 10 eu confio ZERO no Putin. Mas repito: por esquerda estamos diante de um paradoxo de Nova Ordem geopolítica, em que brigam dois tipos de capitalismo.

Para o Brasil e América Latina, diante da subordinação de nossos mercados internos, teremos pressão inflacionária derivada dos especuladores – em contratos futuros – e as sanções contra a Rússia, além da escassez do milho e do trigo da Ucrânia, importante produtor mundial.

Na defesa da libertação do Mundo Árabe e Islâmico, a derrota de Zelensky e da OTAN é um ponto positivo.

Para o arranjo mundial, especialmente nas transações, é possível diminuir o espaço do fator dólar, e fugir da tutela dos Estados Unidos sobre o Swift. Também é um ponto positivo.

A GUERRA TERCEIRIZADA PELA RÚSSIA (NÃO PARECE SER O CASO DESTA OFENSIVA NA UCRÂNIA)

A maior empresa privada militar russa é a Wagner (Wagner PMC para quem for procurar). É o longo braço no Kremlin que apoia operações onde é difícil estar, e que também assegura investimentos russos em países africanos. É um padrão de emprego como as PMCs dos EUA, que seguem a política externa do seu país de origem. Contrata mercenários do mundo inteiro, com restrições nacionais e de convicção (não deve aceitar salafistas), saindo mais barato para os cofres do Estado.

Onde termina a Wagner e começa a FSB ou GRU, só o Estado Maior sabe.

A Rússia é um tipo de capitalismo comandado pelo Aparelho de Segurança e Defesa. Os U$A tem sua própria oligarquia financeira de 12 bancos. Não é a mesma coisa, mas repito mais uma vez: esquerda no caso do governo russo, só se os atiradores de elite forem canhotos.

PAN ARABISMO, EIXO DA RESISTÊNCIA E O PROBLEMA DA ESQUERDA NA GUERRA DA UCRÂNIA

Tenho origem árabe, apoio a libertação da Palestina desde pequeno e fui formado na causa por um avô libanês e pan-arabista filho de mascate. Não tem nada de “esquerda” nisso, é como uma libertação nacional, em um cenário semelhante ao da África Austral na década de 80 do século XX.

Quem defende o Bilad al-Sham e o Eixo da Resistência, odeia a OTAN, sionistas e salafistas. E tem tudo isso do lado de Zelensky. Está desenhado, de novo.

Obs.: minhas convicções ideológicas no campo mais à esquerda e na formalização teórica diz que são dois tipos de capitalismo em disputa. Mas, para a diáspora árabe-persa, ainda nos cabe a medíocre tarefa de expulsar europeus invasores, seus mercenários e apoiadores de nossas terras.

MENTIRA E CENSURA NO BRASIL

O Jornal Nacional mente sobre o desligamento do Swift.

Assisti a edição do JN, da Rede Globo (26 de fevereiro) afirmar, através de um suposto especialista, que “todas as transações externas da Rússia passam pelo Swift”. Mentira, já que a Rússia mantém relações extra-Swift com China e Irã.

Outra mentira: que o Irã foi desligado do Swift de 2012 a 2016. O país segue desligado, por isso só pode operar na rubrica de OFAC, isto é, precisa de autorização especial para comprar medicamentos e alimentos.

É torcida e propaganda, não tem nada de jornalismo nisso. Pena, porque a Globo, no cenário doméstico, acaba sendo um racha da direita contra o Bolsonaro.

NEONAZIS E ANTISSEMITAS

Leiam com a máxima atenção. Isso vem antes de Zelensky. Em uma ocasião, Benyamin Netanyahu e o ex-presidente ucraniano Petro Poroschenko se encontraram em Tel Aviv e em outros lugares da entidade sionista. Não esconderam nada, a não ser a surpreendente maneira de “combater o Antissemitismo onde não existem semitas, e que quem defende os eurojudeus ucranianos são neonazistas”. O ex-presidente ucraniano, no limite do sincericídio, citou com orgulho o fato de que um terrorista de extrema direita da Irgun tenha nascido em Odessa.

REFORÇANDO DEFINIÇÕES

Nem o Putin, nem seu Estado Maior e, menos ainda, o ministro da Defesa russo Sergei Shoygu são de esquerda, nem social democratas como a maioria do setor no Brasil. O próprio partido comunista na Federação Russa é pequeno, e tem menos força de pressão do que a Igreja Ortodoxa Russa. Isso é fato.

Outro fato também é que assim como a extrema direita ucraniana apoia o Maidan e o prefeito de Kiev, e Zelensky, a extrema direita russa apoia Putin e joga suas vísceras na islamofobia na região metropolitana de Moscou.

O conflito não é democracia X totalitarismo e nem esquerda X direita. Mas sim coloca uma nova ordem no tabuleiro mundial. A OTAN, se estabelecida na fronteira leste da Rússia, faz deste país o próximo alvo de revolução colorida. Por mais que as reivindicações domésticas sejam legítimas, aliar-se com o inimigo estratégico nunca é bem visto.

A guerra é isso, e a tendência é de um planeta com uma nova ordem geopolítica, Bipolar nas grandes alianças e, talvez, com espaços nas franjas do Sul, na disputa por recursos e modelos de desenvolvimento na América Latina e África.

Na Ásia, o pivô é o Mundo Árabe e Islâmico e o país mais forte e desenvolvido, o Irã, em luta contra os invasores europeus desde 1979. Ali a guerra de agressão é incessante desde 1920 e não tem data para acabar.

Para esta parcela do mundo, qualquer derrota da entidade sionista ou de seus aliados é vista como vitória. A Chechênia também entende assim.

Domingo, 27/02/2002

O EQUÍVOCO DO CONSELHO DE SEGURANÇA DA RÚSSIA

O Conselho de Segurança da Rússia apostou em uma guerra rápida e não em um conflito congelado de médias proporções. Por quê? Porque justamente a “guerra por procuração” seria através das linhas da OTAN na Romênia e Polônia. Uma espécie de “Linha Ho Chi Mihn” às avessas. Por isso talvez o conflito não tivesse estacionado no limite de Donbass.

Mas ocorre o inverso. Justamente diante da capacidade de combate da Ucrânia, a OTAN dobrou a aposta e parece que vai segurar a logística ucraniana em todos os níveis, sempre e quando consiga operar por países membros com fronteira com a Ucrânia.

Resultado: uma corrida para derrubar Kiev o quanto antes – do contrário, Putin e seu estafe vão pagar o preço político de um conflito prolongado, de maior intensidade.

SOBRE O EMPREGO DAS FORÇAS CHECHENAS NA CAMPANHA DA UCRÂNIA

A primeira guerra da Chechênia foi de libertação nacional. Apesar do emprego massivo de forças russas e a destruição de Grozny, as montanhas da República da Ichkeria garantiram um cessar fogo com o governo Yeltsin. Junto com o acordo de paz, vem a emergente liderança de Akhmat Kadyrov e toneladas de recursos com rios de dinheiro.

O Norte do Cáucaso lavou a alma nesse empate com sabor de vitória.

Infelizmente, recalques históricos e manipulação salafista possibilitaram uma segunda guerra, amplamente apoiada pelos esgotos da inteligência da OTAN, que perdurou até 2009. Dessa vez foi guerra civil entre nacionalistas chechenos federais, russos e células salafistas multinacionais. A Chechênia ganhou de novo, e Putin mandou mais toneladas de recursos, infraestrutura e dinheiro, muito dinheiro, não só para os chechenos, mas para todo o Norte do Cáucaso.

Essa é a geração de atletas do Daguestão, por exemplo, de onde saiu Khabib Nurmagumedov e outros tantos. Recursos, esporte, empregos e um pacto de se manter na Federação Russa.

Em 2004, o então presidente da Chechênia, Akhmat Kadyrov, foi assassinado em um desfile público. Hoje seu filho é o presidente da República Federal e tem raiva, muita raiva, dos aliados e responsáveis pelo assassinato do pai. As Forças da Guarda Federal da Chechênia e o Batalhão Kadyrov têm contas a acertar com a OTAN.

Como um giro histórico e mitológico, Imam Shamil vai “milagrosamente” ajudar ao tirano Nicolau II e mandar para o inferno os amigos dos takhfiristas.

A ESCALADA DO CONFLITO

A União Europeia se comprometeu a mandar caças para os pilotos ucranianos operarem. Mas teriam de ser caças do padrão soviético, portanto, viriam dos países do Leste Europeu.

Se Putin queria evitar uma guerra prolongada por procuração, onde Ucrânia luta com a estrutura da OTAN e União Europeia, então o pior cenário vai começar, caso as forças russas não consigam tomar Kiev e Kharkiv.

Segundo a União Europeia, acabou o “tabu da ajuda militar”. A Rússia respondeu com a mobilização de forças nucleares em alerta máximo. A parte ocidental da Europa, além de se comprometer publicamente com envio de material bélico, está fechando as redações e transmissões do jornal Russia Today, da emissora Sputnik e das plataformas da TV RT.

O mesmo se dá no bloqueio do espaço aéreo para a aviação russa, incluindo os aviões privados de líderes empresariais e oligarcas do país.

As reuniões do Conselho de Segurança das Nações Unidas foram mais do mesmo. Veto russo, neutralidade da China, Índia e, surpreendentemente, dos Emirados Árabes e, depois, uma avalanche de repúdios e condenações lideradas pelos EUA. Dois pesos e várias medidas.

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