Introdução
É com grande alegria e algum pesar que envio este boletim. Alegria pela divulgação deste cartaz acima. Não pela imagem, mas pelo significado que terá este curso livre, oferecendo o inverso da pirâmide no conhecimento de política e comunicação no Brasil contemporâneo. Quando se fala de política e análise de mídia, somos bombardeados todos os dias por meia dúzia de conceitos furados regados com outra meia pataca de preconceitos que só confundem. É a versão pós-moderna do lacerdismo, com a diferença que Carlos Lacerda era corvo mas gênio. Se tu estás cansado da mesmice e da pasmaceira ampla, geral e irrestrita, venha conhecer nosso trabalho. Te asseguro que ainda que discordes de tudo o que ouvir, cada palavra irá lhe servir para o resto da vida. Indo além do raciocínio utilitarista, se tu fores um neoinstitucionalista, jornalista chapa branca e/ou neoliberal inveterado, tua capacidade de crítica às idéias e modus operandi de analistas do lado de cá da calçada irá ampliar e muito. Está feito o convite.
Bem, os motivos dopesar, e nãosão poucos,constam na primeira nota abaixo. Boa leitura, e atenção, porque não há mais tempo para esmorecer.
Bruno Lima Rocha, politólogo com ofício de periodista
Halliburton comete atentado contra a inteligência dos brasileiros
A Polícia Federal chegou à brilhante conclusão do caso do furto de informações sigilosas da Petrobrás. Segundo o delegado da SRRJ do “FBI tupiniquim”, tudo não passou de uma Operação Calango. Para quem não sabe, calango é o segurança privado que usa uniforme. Valdomiro Jacinto Caetano, delegado à frente da pior Superintendência da Polícia Federal, declarou à mídia o fim do mistério. Curiosa coincidência, pois sob a guarda desta mesma superintendência já sumiram quilos e quilos de cocaína, além de dinheiro
Percebam como o absurdo declarativo forma uma narrativa midiática que dá uma aparência plausível para um leigo. Palavras complexas e estupidez ilógica. A ABIN afirmou haver acionado sua contra-inteligência após a suspeita de espionagem industrial. Ou seja, afirmou, pela negativa, que a Halliburton opera no Brasil sem vigilância permanente. Mais, porque e o que faz esta empresa no Brasil? Não existe o menor sentido de interesse corporativo nessa novela de 5ª. Qualquer um que tenha entrado em uma instalação física de transnacional sabe como funciona a vigilância. A segurança patrimonial opera no tripé: orgânica (como bombeiros internos, inteligência e marketing); física com uma empresa e eletrônica com outra. O supervisor responsável lida com três pessoas jurídicas ao mesmo tempo, isto quando ele próprio não atua na função de consultor, com outra pessoa jurídica e coordena tudo, incluindo limpeza e manutenção. Esta babel empresarial é para diminuir custos, mas a atenção é permanente.
Já na gloriosa Petrobrás, o fantasma é a P 36. A plataforma afunda porque os processos gerenciais são uma mescla neoliberal de terceirização extrema e ilhas de competição interna, como se houvessem equipes-empresa atuando na interna, umas contra as outras. O mesmo se sucedeu com a Apple X Macintosh, um delírio nerd-empresarial que abriu a porteira para o corsário Bill Gates. Na empresa criada com a Campanha o Petróleo é “nosso” (será mesmo??) passa igual ou pior. É inexplicável o fato de que material sensível seja transportado em contêineres de porto a porto. O material saiu de Santos no dia 18 de janeiro chegando ao porto do Rio em 28 do mesmo mês. Levou 10 dias para cruzar um percurso de menos de 500 kms pela estrada Rio-Santos. De avião privado leva meia hora! Mais meia hora de Santa Cruz na zona oeste até o edifício sede, ou 12 de helicóptero. Porque viajou de navio? Porque se deslocou por terra depois, indo do Rio a Macaé? Porque as empresas fiéis depositárias, a Halliburton – cujo pátio em Macaé seria o destino do material – e a Transmagno não foram alvo imediato de inquérito administrativo? Não tem cláusula contratual prevendo isso? A Transmagno afirma que o contêiner chegou lacrado, já a Halliburton disse que não. Quem investiga arrumou uma leva de bodes expiatórios na forma de buchada de calango! Para apimentar ainda mais, os equipamentos possuidores de informações sigilosas, após 10 dias navegando na costa do sudeste, chegam ao Rio em um terminal privado. Porque não usaram uma instalação da Marinha?
Poderíamos escrever mais 20 laudas e ainda assim não haveria explicação. A única versão factível é a da terceirização interna, sendo sua conseqüência lógica, a vulnerabilidade defensiva. Qualquer um que faça três seminários de inteligência competitiva sabe disso. É um insulto a inteligência dos brasileiros que lêem jornal – impresso ou eletrônico – admitirem tamanho abuso com a soberania do país. A operação de espionagem na Petrobrás é a seqüência da sabotagem cometida contra a Base de Alcântara. Com calango ou sem arigó, esse formato de rotina de circulação de bens e serviços internos é tão seguro como uma peneira.
Termino esta nota bastante irritada propondo a seguinte linha de tirocínio:
– Segundo a AEPET este não foi o primeiro furto nem tampouco será o último. Ou seja, os segredos industriais e a pesquisa científica da Petrobrás, da Coppe e de outros centros de excelência são tão devassados como a biodiversidade da Amazônia. Mais de uma centena de “institutos de pesquisa e missionários” operam na selva brasileira, patenteando quase tudo e roubando o que podem. O Centro de Inteligência do Exército (CIEx) prende dezenas de “missionários” por ano e termina soltando. O mesmo passa no ramo do petróleo. Não há defesa de inteligência, estes contratos são absurdos e o Brasil serve de fonte de informação para o mercado branco da inteligência do petróleo.
– O mais sincero seria o Conselho de Administração da Petrobrás tomar medidas como contratar a KBR para fazer e manter a todas as instalações da empresa, a segurança física estaria a cargo de alguma PMC operando no Iraque; a Pinkerton fará os enlaces com outras empresas privadas na prospecção em países “complicados” como a Colômbia ou então no Golfo do México; e para concluir a palhaçada entreguista, a Kroll ficaria com a supervisão de tudo. Pronto, assim não se gastaria mais tempo digitando incógnitas nem a PF passaria mais uma vergonha na sua pior Superintendência Regional (SR).
– Ah, para não dizer que não fui “proativo”, os gênios do neoinstitucionalismo brasileiro poderiam aproveitar a possível derrota dos Republicanos nas eleições do EUA e desde já convidar a Dick Cheney para fazer parte do Conselho de Administração da maior empresa do país! Que tal?!
Se o Haiti é aqui, em parte, o Iraque também é. Conforme havia dito há mais de um ano e meio, a Ciriana é aqui. Já que virou piada – de péssimo gosto – de repente, o próximo filme de George Clooney possivelmente terá como enredo a incrível história de um trajeto que pode ser feito de avião em meia hora e gasta 10 dias de navio para cumprir a mesma rota! Steven Sorderberg vai dirigir e Brad Pitt cumprirá o papel do calango injustiçado. Julia Roberts atuará como a delegada da PF em Macaé, a mesma que tomou o ferrolho do chefe e disse que só o Superintendente declara a respeito do inquérito que ela própria preside! E para completar a desgraça, o filme vai ser produzido com dinheiro do Estado, através de isenção fiscal.
Piadas a parte nos resta uma pergunta: O helicóptero que caiu era da Petrobrás ou era terceirizado? Ah, era da BHS. E, para os vende pátrias de plantão, os sistemas de segurança vêm da CHC Helicopter Corp; transnacional com sede em Vancouver/Canadá e com sub-sede européia em Aberdeen/Escócia. Ou seja, os aviônicos que deram pau no helicóptero que caiu são o produto de uma joint-venture, onde em geral a empresa brasileira é testa de ferro para burlar a legislação que proíbe a presença de corporações transnacionais em mercados internos como a aviação civil. Como se percebe, é coisa tão segura como o contêiner de posse da Halliburton. E, tudo isso não passa de neurose pós-guerra fria.
Porca estupidez de um país rico em alegria e empobrecido de inteligência e capacidade cognitiva.