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Vila Setembrina dos Farrapos, março de 2003;

1) Introdução temática e da base teórica

A Introdução deste trabalho parte de um pressuposto de questionamento, profundo e franco, realizado por qualquer pesquisador ao longo de seminários temáticos, encontrado em autores e obras abordados durante a pesquisa para este texto. O rigor necessário é acompanhado da (ousadia( também mandatória para realizar tal obra. Assim, é a própria construção das ciências sociais na América Latina, o tema geral do trabalho e diz respeito à questão central nessa realização.

 

Estariam as elites conformadoras das ciências sociais no continente, alargando seu papel e penetração política dentro do próprio Estado, através de suas formulações enquanto simultaneamente ocupam postos-chave no país? Estariam estas mesmas elites mais como reprodutoras de pensamento sociológico (e de forma mais ampla das chamadas ciências humanas) gerado nos países centrais, incorporando bases e matrizes teóricas cujas demandas e precedentes são típicas de outras sociedades bem diferente das latino-americanas? E, através destas, viriam temas com alguma semelhança, mas com existência real totalmente distinta, tal é o caso dos temas étnicos, no Brasil, citamos particularmente a temática do negro? Por fim, veriam a estas elites, dentro de parâmetros dos países centrais, as convulsões sociais e as relações reais de tensionamento entre classes (em sentido mais amplo) como uma "anomalia", dotando-se esta intelectualidade de capacidade prescritiva visando a "solução" de determinados problemas?

Estes questionamentos são os centrais do artigo, e é a partir destes que se estrutura a base teórica. Antes de entrarmos nela, entretanto, é necessário abordar os temas específicos do trabalho. Entendendo que ambos se relacionam, estes são: a existência e o desenvolvimento de ciências sociais subordinadas aos países centrais e com matrizes teórico-epistemológicas daí derivadas. Para este tema, as obras citadas respectivamente de Guerreiro Ramos e Otávio Ianni nos fornecem o eixo de análise, observando nestes autores suas reflexões e apontamentos do tema, e também o quanto foram repelidos, em seu momento, pela (hegemonia( do campo no período. O segundo tema, que reconhecemos ser um pouco mais difuso, trata-se: do apontamento e busca de soluções nacionais (o ser nacional, a realidade nacional, as problemáticas nacionais), a partir do saber das ciências humanas e sociais, para os problemas de fundo dos países latino-americanos. Para este tema faremos um breve recorrido pelo desenvolvimento das ciências sociais no México e da obra de Sílvia Sigal, a respeito do papel dos intelectuais e o poder na Argentina (centrado este trabalho na década de 1960). Na Conclusão, apontamos uma possível linha contínua entre ambos blocos de temas, tomando por base nossa própria referência teórica e poucas mas precisas afirmações teóricas de Celso Furtado que expomos a seguir.

 

Embora aborde um período contemporâneo, da globalização e quase unilateralidade mundial, nos pareceu de maior precisão, assumir para nossa crítica a procura de uma nova episteme elaborada pelo sociólogo português Boaventura de Souza Santos. Sua contemporaneidade não invalida a crítica regressa ao momento histórico amplo que abordamos (quase que inteiramente centrado no pós 2ª (guerra e da bipolaridade do século XX). A primeira crítica que incorporamos diz respeito à suposta generalização universal da ciência dita moderna. Segundo o autor português, este universalismo é posicional, trata-se da capacidade do ocidente central de taxar e classificar como local, particular e contextual a todas as formas de conhecimento que com ela rivalizam (Santos, 2002, p.14). Seguindo este raciocínio, é o poder de taxar, de dar o nome, de localizar, de gerar uma convenção a respeito de X conhecimento ou Y tema, que equivale para os meios científico-acadêmicos a mesma relação de centro-periferia que se vê em outras áreas. Seria, segundo Santos (p.15), a capacidade de um conhecimento tornar o outro em matéria-prima ou recurso para sua realização, o que faz de um científico e moderno e o outro particular e local.

Reconhecendo como verdadeira a afirmação de Santos (p.16), são os cientistas sociais, de formas mais ou menos relutantes, herdeiros e portadores dos paradigmas científicos hegemônicos. Fica uma dúvida: a ciência social que abordamos neste trabalho, é ela mesma reprodutora deste paradigma, geradora de uma contra-hegemonia ou teria as condições potenciais de gerar uma nova hegemonia? Embora Santos tenha formulado estas questões no tempo presente, entendemos que elas valem para o período que estudamos no trabalho.

 

A dicotomia entre Centro-Periferia, 1( e 3( Mundo, se verifica também no interior das ciências humanas e sociais. Observamos especificamente nas obras que são abordadas neste artigo, vivia-se um momento cujo tema do desenvolvimento, da independência-interdependência, das possibilidades de autodeterminação nacional dos países latino-americanos eram temas centrais para boa parte dos cientistas sociais. As formas e buscas para atingir este objetivo diferiam profundamente, mas estavam dentro destes marcos. Boaventura de Souza Santos aponta hoje a dicotomia entre ciência-mercenária (e/ou consultoria-mercenária, dentro do paradigma hegemônico e centralizada por esta hegemonia) X ciência-ação (p.18). Fazemos uma analogia entre um rigorismo científico com supostas intenções neutrais e cujas matrizes epistemológicas vinham de países centrais e a busca por uma episteme e metodologia aplicável e capaz de apontar solução para as grandes questões nacionais (como é o caso da obra de Guerreiro Ramos que abordaremos no próximo tópico).

 

Segundo a classificação contemporânea de Santos, haveria uma divisão entre Centro -Semi-Periferia – Periferia, substituindo a classificação do período bi-polar, entre 1(, 2( e 3( mundo. Vamos reconhecer, desde nosso ponto de vista, a existência de países latino-americanos com bom nível de desenvolvimento industrial e científico, posicionando-se nesta escala, de cima para baixo, Brasil, México e num período recente Argentina. Feito este comentário, citamos ao cubano Roberto Retamar (apud Santos, p.20) quando este afirma (Não há ninguém que conheça melhor a literatura dos países centrais do que o leitor da periferia.( O sociólogo português faz uma analogia com os cientistas sociais da semi-periferia, afirmando serem estes os melhores conhecedores das bases teórico-epistemológicas e daquilo que é produzido nos países centrais.

Se hoje reconhecemos ser esta uma afirmação verdadeira, então se conclui que o esforço das ciências sociais (se não de toda, de boa parte dela) no período do Estado-desenvolvimentista, não se fez concretizar. Nos parece lógica a analogia entre dependência econômica, crise de soberania e desenvolvimento científico autônomo, ciências humanas e sociais incluídas. Um fator lógico como, quem financia impõe parcial ou totalmente o tema estudado, é uma afirmação mais que satisfatória e suficiente. Como afirma Santos, a correlação entre dependência e (ciência moderna( é fator de muito epistemicídio a favor do poder imperial (p.14). Uma vez que nossa realidade e trabalho abordam justamente uma área de saber científico em países da periferia do ocidente chamada América Latina, este passa a ser um tema central.

Por fim, nossa base de análise se centrará sobre os temas apresentados pelos próprios autores estudados. Reconhecemos que os temas mais gritantes daquele momento histórico, ao menos para os cientistas sociais abordados, são os relacionados com a modernização institucional, desenvolvimento industrial, criação de um universo científico próprio e soberania nacional. É a partir das afirmações de Santos que faremos a crítica ao alcance que estas idéias e intenções políticas tiveram no momento de sua realização. E ainda sob este ponto de vista, faremos a crítica da conformação de uma elite intelectual e suas preocupações mais prementes.

2) Uma sociologia brasileira e latino-americana

Tomando por base a obra clássica de Guerreiro Ramos, (Introdução Crítica à Sociologia Brasileira (1957), vemos uma série de críticas, comentários, muitas vezes em forma de recorte ensaístico e artigo de batalha. Polemizando contra seus crítico-opositores, tecendo alianças, afirmando pressupostos para compor um campo de simpatia, um conjunto de temas, que relativizados com o tempo e período histórico de sua produção, bastariam para todo o tema pretendido neste trabalho. Ressaltamos, de forma descontínua e de acordo com nosso interesse, a temáticas que nos pareceram mais contundentes e gostaríamos de aprofundar.

O fundamento complementar é a obra de Octavio Ianni (1971), (Sociologia da Sociologia Latino-Americana(, ao nosso ver tão ampla e contundente quanto a primeira. Uma das diferenças entre as obras, consideramos ser a motivação da crítica e a afirmação da sociologia válida para apontar os problemas identificados, por respectivos autores, como os de maior envergadura.. Na sua abertura, Ianni aponta duas grandes correntes sociológicas no continente latino-americano. Uma corrente ele observa como sendo posta (fora-da-lei(, justo por ser a que melhor contribuiria (para o conhecimento das condições de existência social das diferentes classes sociais na América Latina( (p.1). Sua produção aponta para reconhecer e interpretar o modo de acomodação, tensão e negação recíproca entre as classes. No que diz respeito da estrutura, aponta as dimensões de apropriação econômica e dominação política, nos distintos Estados e regiões do continente (p.2). O elogio metodológico também se encontra, pois Ianni afirma ser esta corrente crítica tanto na produção – a interpretação dos problemas sociais – como nos métodos de pesquisa empregados (p.2).

O contraponto de Ianni é bastante contundente. Afirma ser a corrente hegemônica uma produtora de conhecimento sobre os problemas sociais propostos pelas classes dominantes. Entendemos que o emprego da categoria de classe dominante e não setores de elite econômica e/ou política é empregada constantemente, objetivando ao nosso ver, ao menos uma análise também estrutural do binômio dominação política e apropriação econômica. Retornando a crítica, a finalidade desta corrente é colaborar com o status quo, e assegurar a manutenção das condições sociais vigentes. Observa por fim, que o pressuposto (científico( desta corrente é que a sociedade seja normalmente estável, sendo as crises e convulsões vistas como uma (anomalia( (p.2). Assim, para a sociologia vinculada à classe dominante, o tensionamento e negação recíproca de atores coletivos que mobilizam e polarizam as classes, em especial os setores das classes despossuídas, seriam uma “doença daquela sociedade”1. Nas duas primeiras páginas de seu livro, aponta serem estas duas correntes as que geram a contradição principal, sobre a qual irá discorrer ao longo de sua obra.

Já Guerreiro Ramos (1957) parte do pressuposto que não se produz conhecimento sociológico sem uma compreensão objetiva da sociedade nacional. Esta compreensão é fruto de um processo histórico, gerador de uma objetitividade distinta daquela visada nas ciências ditas duras (da natureza e físicas), e onde se interpenetram objeto e observador. A objetividade nas ciências humanas tem natureza múltipla, e sempre se afirma em função da perspectiva da produção dos autores, considerando o leque e complexidade desta abrangência (p.1). É desta condição que deriva o pensamento sociológico produzido.

Ramos afirma que a sociologia então praticada no país é fruto de uma indução de processos e de tendências na sociedade brasileira. A disciplina, ainda carente das pressões reais que possibilitem o fato da tomada de consciência das condições dadas para a própria produção sociológica, torna-se incapaz de efetivar uma interpretação objetiva de nossa sociedade (p.18). A razão disto, segundo Ramos, é a lógica da situação colonial, onde historicamente o país vem alterando apenas em grau, mas sem nunca alterar a natureza mesma da condição de colônia. Vale um comentário nosso; poderíamos estabelecer um diálogo deste autor também em termos de semi-colônia, ou Semi-Periferia, país periférico dotado de desenvolvimento e autonomias relativas comparado às condições de sua região, como afirma Santos. Esta condição colonial é um complexo de situações e relações, somadas à exploração econômica, a dependência, a assimilação, a aculturação e a associação com o colonizador.

Guerreiro Ramos aponta a necessidade da intenção do sociólogo em romper com sua dúbia condição, para somente assim produzir um conhecimento sociológico voltado para sua sociedade, a partir de sua própria realidade. Na América Latina, segundo o autor, o conhecimento produzido pelos sociólogos passa muito mais por informar aos nativos da produção (científica( produzida na metrópole – isto considerando a condição de colônia do Brasil, segundo o próprio Ramos – do que gerar o conhecimento para e a partir da própria terra (p.19). Isto deriva de uma dupla dominação, sutil e complexa, onde o intelectual não se identifica e não se posiciona na condição do colonizado. O acesso ao idioma do colonizador (o bilinguismo), gerando o culto pelo falar bem, falar bonito; a duplicidade psicológica de colonizador-colonizado (e/ou de colonizado aceito e com trânsito na metrópole, ousaríamos dizer que dotado de habitus da metrópole) não permitiria, em definitivo, a este intelectual se posicionar a partir de uma identificação com a condição objetiva e dotada de mecanismo complexa que ele mesmo sofre, a de dominação colonizadora (p.18).

Gostaríamos de observar a extrema vitalidade de ambas afirmações, tomando como parâmetro os pressupostos teóricos apontados por Santos, por nós utilizados na Introdução. Citando a Guerreiro Ramos, podemos fazer a primeira premissa. A de que na constituição das elites produtoras das ciências sociais latino-americanas em geral e brasileiras em específico, variou o grau de colonização, mas não a natureza de colônia e de produtores de conhecimento a partir de uma condição de duplicidade. A segunda premissa também passa por Ramos, e se dá sobre uma base de intenção. É a carga de intencionalidade o primeiro passo (objetivo( para alterar a condição também objetiva do posicionamento e da identificação do sociólogo com o seu objeto de análise (sua própria sociedade). A terceira premissa, passa por Ianni. Se o sociólogo – ou o intelectual membro de uma elite produtora das ciências humanas – parte de uma base que a sociedade está em equilíbrio e suas condições vigentes são dadas; se este mesmo intelectual observa aos problemas sociais (preferíamos afirmar questões sociais) a partir de uma perspectiva das classes dominantes e dirigentes, toda e qualquer convulsão e tensionamento será vista como anômala, e seu receituário será o de cura para esta anomalia. Os métodos de trabalho, as premissas e pressupostos partirão deste mesmo propósito, corrigir uma anomalia, acomodar as tensões de acordo com a perspectiva deste intelectual. Sendo que este trabalhador especializado, já está hegemonicamente posicionado a partir das classes dominantes, alçado à categoria de técnico do status quo, especialista em prescrever esta acomodação.

Estruturalmente, no período do Estado-desenvolvimentista e da bipolaridade, ambos autores afirmam haver a relação contínua de situação colonial do Brasil, e da estrutura complexa de dominação política e apropriação econômica. Como parte das elites locais, ou sendo mais preciso, na constituição de sua própria elite intelectual com funções neste Estado semi-colonizado, os intelectuais das ciências humanas teriam uma posição no mínimo dúbia (ao menos enquanto produtores de saber e conhecimento sobre sua própria sociedade) e só romperiam com esta duplicidade se exercessem a intenção de romper com a própria condição. Toda a produção, metodologia e escolha de temas derivariam desta condição e destas tensões:

– colônia X nação (Ramos)

– crítica X hegemonia dominante (Ianni).

A continuidade da crítica de Ramos se debruça sobre o fenômeno do sociólogo brasileiro produzindo a partir do referencial da metrópole. O autor tipifica, para a época de sua obra, os seguintes fenômenos: simetria conceitual e sincretismo a partir do referencial dos países centrais; dogmatismo na aceitação de argumentos de autoridade (desde o centro emitidos e por eles reproduzido) e/ou na reprodução de textos de autores consagrados; dedutivismo , fruto do dogmatismo, tomando os pressupostos estrangeiros como ponto de partida explicativo para os fenômenos locais-nacionais, assim a contingência histórica2 fica abstraída substituída esta por categorias absolutizadas e geradas fora desta mesma contingência; alienação sendo vinda do fato dos estudos aqui produzidos não serem fruto de intencionalidade, de fortalecer ou promover a autodeterminação do país dependente (obs. nossa, contradição que o autor coloca como essencial e prioritária); inautenticidade como resultante das categorias listadas anteriormente, uma vez que o sociólogo brasileiro não é produtor das categorias que utiliza, e pouco maneja estas mesmas categorias e processos empregados (Ramos, 1957, pp.19-23).

Tal listagem, tipifica e aponta com vigor, o fenômeno da dupla condição (de colonizado com mentalidade gerada e voltada para a metrópole), da maioria dos produtores de estudos sociológicos daquele momento histórico. Redundante seria afirmar, segundo o próprio, que o mesmo recebeu críticas de vários lados, encaixando o perfil em muitos de seus colegas. Polêmicas à parte, somente as condições de intento de progresso, intencionalidade de busca de autodeterminação (mesmo que restritas ao plano econômico) nacional, é que gerariam as condições de possibilidade para o emergir de uma (sociologia em mangas de camisa(.Seria absurdo taxar esta premissa de (estruturalista(, mesmo porque Ramos ressalta permanentemente o papel da perspectiva e da intencionalidade (profanamente poderíamos chamar de vontade política), como essencial na produção científica. Esta premissa tem fundamentos de romper com a estrutura da natureza das relações de dependência, a variação de grau na natureza colonial permanente em nosso país. Uma vez que este autor não ressalta a perspectiva de classe como contradição prioritária, é então a intencionalidade de autodeterminação nacional o fator que precede a possibilidade de uma produção sociológica brasileira e com autenticidade.

A divisão de correntes da sociologia latino-americana, já no plano teórico-científico, passa, segundo Ianni, pela intencionalidade do ator (neste caso, o produtor científico brasileiro ou de algum outro país da região). O que posteriormente, com olhos de hoje, poderíamos constatar como a formação de uma elite de cientistas sociais (com passado ensaísta e alçado à condição de científica pela incorporação de métodos e premissas de países centrais), elite esta surgindo e se desenvolvendo dividida, de acordo com as contradições mais gritantes naquele momento histórico. Estas contradições em vários países (o nosso, em parte, inclusive),entre uma oposição direta de uma parte desta (elite( para com os mandatários de regime de força (fração de classe dirigente) à frente do Estado-nacional.

Ianni discorre com precisão a respeito da institucionalização definitiva da sociologia em nosso continente. Começa pela periodização convencionada, cujas distinções entre fases pré-científica, de institucionalização e propriamente científica são como um artifício descritivo, que muitas vezes reduziriam o pensamento criador da ciência (Ianni, 1971,p.18). Se o autor afirma que o ato da descoberta é um ato de imaginação criadora (p.20), perguntamos como este pode ser exercido e desenvolvido, se os argumentos de autoridade classificam como ensaísticos, especulativos, pré ou para-científicos e de filosofia social (p.19) a modelos desvalorizados? E como podem jovens na profissão (ao menos jovens na época), desenvolver uma inteligência criadora se aquilo que os baliza metodologicamente os impede de exercer responsavelmente a imaginação sociológica? Reiteramos a dúvida, de como se faz possível romper com a dependência científica se as regras de (ciência(, o poder de taxar de local-parcial-ensaístico e/ou especulativo provêm (e na época provinham) de categorias, modelos, métodos e premissas alienígenas da realidade latino-americana? Caso ocorresse a intencionalidade do produtor, mesmo que dotado destes modelos e métodos, a contradição entre vontade e instrumental de realização seria gritante.

Seguindo além, na última fase de tornar este saber científico definitivamente, entra o tema do sociólogo como técnico. É este o trabalho que irá, em última análise, validar ou invalidar uma configuração social (p.20). Posteriormente, é este técnico, funcionário com responsabilidades em projetos governamentais ou privados, a implementar determinadas medidas e gerenciar sua execução. Enfim, a sociedade não abrindo mão do instrumental sociológico, o qualifica como tecnico-científico, o profissionaliza, ressaltando assim a preocupação com o aumento das tensões e antagonismos complexos dos países latino-americanos. Entramos em um problema de relação-integração entre sujeito e objeto, e também de produtor de conhecimento e destino da produção (lembrando a categoria de ciência-consultoria empregada por Santos). Compreendemos portanto que o tipo de produção derivada da integração sujeito-objeto varia tanto conforme o tipo de estudo e o tipo de ator que o encomenda (e também o executa), assim como a carga de intencionalidade de contratante e contratado. O objeto e o tema escolhido reflete esta intenção, tanto dos produtores dotados de alguma autonomia (supondo isto em um país que passou pela reforma universitária) como da composição de centros/redes de centros de pesquisa e excelência (como a CLACSO – Conselho Latino-Americano de Ciências Sociais3

Nos parece óbvio que o período, o momento histórico cujos textos aqui citados de Ramos (1957) e Ianni (1971), tenham sido de intensa disputa e vontade política de poder estudar os temas latino-americanos, através de categorias de rigor mas próprias, geradas desde a realidade onde se quer incidir sobre. É óbvio que sendo este artigo a respeito das ciências sociais na América Latina e sua institucionalização, ficam automaticamente excluídos os conhecimentos e categorias de rigor gerados com esta mesma carga de intenções (incidir sobre a própria realidade), mas que não pertencem ao universo acadêmico-oficial e muitas vezes estatal (que é este sobre o qual discorremos). Ainda assim vale a lembrança que o desejo de incidir sobre uma determinada realidade empregando métodos e categorias de rigor (neste caso sociológicas,mas poderiam ser de outra natureza, inclusive das ciências físicas e materiais) é o exercício de vontade política, aplicável a qualquer coletividade humana dotada desta vontade e de relativa capacidade para sua execução4.

Considerando o momento histórico vivido, a institucionalização das ciências sociais acompanhava um momento de crescimento econômico, de desenvolvimento para romper com a dependência, de (motivação nacionalista, suscitam as transformações de super-estrutura em nosso país( (Ramos, p.33). Este mesmo autor ressalta antes a importância da historicidade no pensamento, chegando portanto o momento histórico de romper com a dependência, se institucionalizando em uma economia expansiva, uma geração de sociólogos profissionais em sintonia com a intenção de conhecer e transformar a própria realidade. Ou seja, seria a contradição maior na forma de contribuir com a autodeterminação e desenvolvimento, romper com o binômio de ciência-dependência científica.

No que diz respeito à “cultura da dependência”, Ianni aponta algumas características limitadoras da sociologia latino-americana de então: o caráter externo de grande parte da problemática apresentada; implicações teóricas inerentes à adoção, de problemática muitas vezes mal conceitualizada, secundária ou simplesmente externa; interpretação insatisfatória, superficial ou errônea de nossas sociedades, fruto da adoção de problemáticas externas e/ou de falta de espírito crítico; e por fim, as relações mesmo entre ciência e política, conforme expressas na produção sociológica (p.40). Segundo este autor, estas características seriam também resultantes da flutuação teórica de acordo com o (prestígio acadêmico( de intelectuais em voga nos países de capitalismo central. Uma afirmação quase impressionista, revela a fundo uma (cultura de dependência(, onde o posicionamento duplo se expressa desde a fonte de estudo, o apresentar de temas e problemáticas, o instrumental teórico-metodológico utilizado e a execução posterior.

 

Para não cairmos num universo de redundância, onde apresentaríamos uma série de argumentos destes dois autores, além dos já apresentados, apenas para ilustrar um ponto de vista assemelhado entre Ramos e Ianni (ao menos no texto destas obras), e por nós compartilhado, gostaríamos de tecer alguns comentários, fruto de raciocínio lógico, e que podem contribuir para o tipo de estudo onde este artigo se enquadra. No processo de inauguração, fase ensaística pré-científica, institucionalização e alçamento à categoria de profissionalismo científico, e todas estas etapas, ambos autores afirmam premissas para a construção de uma ciência autóctone e independente.

Primeiro e antes de nada, a intenção, a vontade política de exercer esta colaboração científica para o desenvolvimento nacional. A intencionalidade pode ser um corretor dos problemas de perspectiva apresentado a esta elite. Explico, é a posição dúbia dos intelectuais da colônia, o fato de muitos serem dotados de habitus da metrópole, não os posiciona a partir do ponto de vista e de vida cotidiana do objeto. Sendo o objeto a sua própria sociedade, uma certa “miopia” exercem os poderes coloniais por sobre o produtor de pensamento científico-sociológico. Seria então a intencionalidade o primeiro fator para gerar a perspectiva apropriada, a intenção também de estar no esforço de autodeterminação, e não apenas como reprodutor de uma ciência desinteressada, de matriz ocidental e por condições de hegemonia, auto proclamada universal (conforme as premissas de Santos que incorporamos). Dentro deste universo, as transformações estruturais gerariam as condições mínimas para que esta intencionalidade se manifeste, e a partir desta, instrumental teórico e metodologia de pesquisa apropriada.

O que diferenciaria a interpretação de Ianni para a de Ramos, é a carga de contradições que ambos priorizam. Ramos ressalta a questão da dependência e o rompimento com a natureza de condição de colônia (onde se varia, historicamente, apenas o grau e não a natureza das relações de submissão); Ianni não nega estas condições mas entra no tema da complexificação social da América Latina, no efervescer e da tensão entre as classes despossuídas e elites locais-nacionais possuidoras e aponta dois movimentos simultâneos: a dominação política e a apropriação (exploração) econômica. Também posiciona a esta elite econômica e dirigência política como alinhada com a dependência, e questiona qual o papel do sociólogo como (técnico(, a serviço de quem está o instrumental sociológico gerado, mesmo que autóctone e apropriado pelos latino-americanos.

 

Por fim, nesta parte do artigo, chegamos ao ponto rupturista, ao menos de ruptura de episteme. Mesmo que também fruto da época, do momento histórico vivido (como, aliás, todo o pensamento), Ramos afirma uma sociologia militante, uma sociologia a serviço e como instrumental de autodeterminação (p.88). Questiona a transplantação de estruturas políticas (assim como fez com as teorias sociológicas importadas) e as divide entre àquelas predatórias (como a base institucional que fez a independência dos países latino-americanos) e as acelerativas (como classifica a Comissão Econômica para a América Latina e Caribe, CEPAL5, órgão de consultoria da Organização das Nações Unidas, ONU). Ianni de sua parte, afirma concluindo a necessidade do estudo da sociologia da dependência. Nesta área, observa a necessidade de aprofundar o modo como se constitui e desenvolve a dependência estrutural (p.183), e avança em direção aos estudos sobre o acionar imperialista. É o imperialismo que produz as condições de dependência estrutural, e simultaneamente, dialeticamente, cria as condições de sua negação (p.183). Se pelo raciocínio lógico de ambos autores, o qual compartilhamos nesta premissa, é a intencionalidade e a vontade política que geram as condições prévias de busca por um instrumental apropriado, é por tanto a intenção de opor-se ao imperialismo e compreender os mecanismos de nossa dependência o gerador as condições de perspectiva do sociólogo enquanto técnico-científico dotado desta tarefa.

 

Assim, engajamento e posição individual de acordo com os interesses coletivos, seriam os passos necessários para a criação de uma ciência autônoma e nacional. O posicionamento interno, em suas próprias sociedades, destas elites (não apenas a nacional, mas em dois exemplos latino-americanos), veremos em parte na segunda metade do artigo, que é o tema a seguir.

3) Acercamento e afastamento dos poderes centrais

Esta segunda parte do artigo visa expor o posicionamento de duas elites intelectuais latino-americanas, a argentina e a mexicana, especialmente dos produtores de pensamento sociológico. Nos referimos a este posicionamento tanto nas estruturas de poder formal, como de grau de institucionalização e autonomia universitária. Assim, a estabilidade levaria a uma maior profissionalização, mas a função técnico-científica estaria a serviço das premissas expostas por Ianni acima. Resultante de tudo isto, o produto destes intelectuais, que são os estudos e pesquisas a respeito de suas sociedades.

Já na parte conclusiva, arremataremos com trechos breves de Celso Furtado, quando este economista expõe a base central de nossa argumentação: o posicionamento de uma elite somado às premissas teóricas influencia de modo decisório a existência ou não de teorias e projetos de execução de políticas públicas, macro-econômicas e de desenvolvimento.

Dos casos pelos quais passamos rapidamente, Argentina e México, observamos alguns temas de fundo que afloram destes exemplos históricos. Tomando por base as afirmações da parte 2 deste artigo, reconhecemos a duplicidade de papel e de perspectiva do intelectual latino-americano. Estando este duplamente posicionado, bilíngue em relação ao colonizador, com habitus da metrópole; reconhecendo também que este conceito remete à uma estrutura que também é estruturante, ainda que não totalizante, apontamos algumas questões:

– Seria neste caso, a estabilidade do sistema universitário, uma certa neutralidade do mesmo, características ressaltadas como positivas e necessárias pela maioria dos autores, também uma forma de manter esta dubiedade fora do alcance das pressões nacionais?

– Não seriam os conceitos de rigor e profissionalismo levados à confusão, como uma certa defesa de um campo intelectual com grau de autonomia, ou ao menos de campo periférico, onde estas contradições do produtor de ciência humana e suas matrizes teórico-epistemológicas (importadas, exógenas), estariam a salvo das pressões advindas das contradições de Centro-Periferia?

– Supondo que uma contra-hegemonia intelectual seja gestada no seio de uma rede nacional e autônoma de universidades. Supondo o reconhecimento desta ameaça da parte do Estado, agente desta dubiedade como política central e submissa aos desígnios centrais. Não seria mais que óbvio esperar a perda desta autonomia e elevados graus de repressão de acordo com o nível de ameaça representado por esta contra-hegemonia?

 

Entendemos estas questões como fundamentais para a compreensão da institucionalização ou não das ciências sociais em alguns países latino-americanos. Nos exemplos argentinos, a diferença é gritante. Ainda que não venhamos a nos aprofundar nestes processos, vemos dois fatores de sobrevivência da autonomia universitária e da consequente estabilidade necessária para o desenvolvimento cumulativo destas ciências.

A primeira é posicional, do papel dos intelectuais nos postos-chave do Estado argentino e mexicano. Ainda que no país vizinho foi a geração de 1870, de grandes ensaístas e intelectuais uma das mais importantes da república, os intelectuais não chegaram a se afirmar como fração de classe dirigente. O mesmo não se pode dizer do México e muito menos do caso brasileiro. Tanto aqui como no país vizinho dos Estados Unidos da América, os intelectuais vêm assegurando seu papel de dirigentes da república, em distintos níveis. No México inaugurado pelo regime do Partido Revolucionário Institucional (PRI), o Estado, o Partido e a construção social se tornam necessidades centrais para este modelo de dominação. A dicotomia e o afastamento entre os intelectuais, o corpo universitário priista, viria a se dar a partir dos anos 1960, voltando depois a aproximar-se, novamente com a valorização e dotação de verbas para este mesmo setor. Poderíamos ousar dizer que o movimento do Estado de aproximar-se, pode hipoteticamente, gerar uma acomodação do tensionamento entre as classes dominantes e dirigentes e esta fração de classe que uma vez revalorizada, torna-se dirigente também.

A segunda questão aborda um tema de fundo, permanente desde as fases ensaísticas, tanto do pensamento histórico como do sociológico. Nota-se tanto no México como na Argentina, que o afastamento em relação aos poderes centrais e os intelectuais de sociologia, é também o fruto de um novo período de estudos. A obra clássica de Pablo González Casanova, La democracia en Mexico, inaugura e abre a perspectiva para demandas de estudos não mais sobre o (ser nacional( mas sim sobre a realidade nacional. Substitui a abstração por pesquisa teórica aplicada na realidade, munida de dados empíricos. Enfim, de realidade lida e construída a partir da vontade de compreender a própria sociedade. O mesmo ocorre com os intelectuais argentinos. É a aproximação com o nacionalismo popular (ainda que de cunho peronista de esquerda), que faz a metodologia de pesquisa voltar-se para a (descoberta( do país interior. O (ser nacional( passa a ser redescoberto na intelectualidade argentina defensora da autonomia universitária, pelo corpo intelectual que seria o próprio partido da reforma. Veremos a seguir estas duas questões de forma um pouco mais precisa.

A obra de Sílvia Sigal (2002), (Intelectuais e Poder na Argentina. A década de sessenta( (tradução nossa), é a que tomamos como referência. Esta argentina radicada na França apresenta como problema central de pesquisa a representação do discurso dos intelectuais do país, a reconversão dos temas gerais e do sujeito coletivo, para o retorno aos interesses individuais. Aprofundando, os defensores e portadores-geradores dos discursos da realidade nacional, interpretação concreta da busca do (ser nacional( (e sua consequente emancipação), seriam atendidos pelo espaço que a democracia legal os concede. Assim, reconverteriam seu discurso de Povo, Nação e Revolução para os interesses do indivíduo numa sociedade liberal: a Lei, os Direitos Humanos e a Consciência.

O que distinguiria o processo argentino para outras sociedades do ocidente (que abordamos como Periferia ou Semi-Periferia, ou seja, de ocidente periférico), foi a adesão de intelectuais de sólida formação marxista aos temas nacionais, afiliando-se ao nacionalismo popular em sua versão peronista de esquerda em sua maioria. Uma outra marca deste processo foi a adesão desta geração de intelectuais à uma opção rupturista, e muitas das vezes não apenas em discurso, mas de fato. A associação de intelectuais ao seu povo, sem reticências (segundo a autora), e, por conseqüência, aos seus projetos de emancipação. A representação do político na Argentina, seria tão ou mais concreta do que a própria política efetiva. A violência como linguagem política, também foi largamente incorporada por estes intelectuais.

No que diz respeito da universidade argentina, e das ciências sociais propriamente ditas, a questão chave seriam as garantias da Reforma de Córdoba e a consequente estabilidade que geraria profissionalização e institucionalização. Um paralelo torna-se imperativo de ser feito com o sistema político. Estabilidade institucional tanto no Legislativo como no Executivo (p.1), estabilidade para o exercício da profissão de técnico-científico de humanidades. O retorno da democracia em 1983, a derrota do peronismo nas urnas e o fato de tanto a União Cívica Radical (UCR) como o Partido Justicialista (com hegemonia do peronista de direita) apresentarem espaços em postos-centrais em seus partidos e governos eleitos, inauguraria assim uma nova fase da relação entre intelectuais e a política no país vizinho. Se a (nova fase( é a incorporação e a estabilidade, por associação lógica, a fase anterior, anterior mesmo ao regime de 1976, é a instabilidade e afastamento dos intelectuais das estruturas formais de poder.

Uma vez afastados do poder central, a autora pergunta, qual foi o papel do político para os intelectuais argentinos (p.2)? E, como e porque a uma fração destes, conservadores é certo, lhes cabia a difusão de uma determinada visão da história argentina que ganhava proporções de programa de governo (p.2)? Uma primeira conclusão que se pode ter é que o papel de reconstrução permanente da história do país, ganhando contornos de programa de ação político (não apenas de governos, mas de regimes, partidos e organizações político-militares), é um papel central para os intelectuais argentinos. A construção de mitos unificadores e a elaboração de identidade coletiva, para todos os distintos matizes da política argentina, a função de grupos de escritores em um país alfabetizado, estas seriam e são formas da sociedade compreender e fazer a releitura de si mesma (p.3).

Assim, o modus operandi de grande parte da intelectualidade argentina é a dotação de um sentido político a algo vagamente especializado como o manejo do discurso e da cultura. Ganha assim um caráter misto entre o cultural e o político (p.9), isto permite apontar fatores explicativos para o itinerário ideológico e político de grupos de intelectuais deste país. Pela negativa, deduz-se o impacto e a rejeição entre os intelectuais de uma motivação anti intelectual como a peronista do primeiro governo ((alpargatas sim, livros não() e o mesmo ocorrendo no interior deste campo periférico, com a metodologia de maior precisão e científica de Germani, sua (objetividade( e inclusive as polêmicas de financiamento externo para pesquisas. A progressão desta dicotomia levou a uma associação já preconizada por Ramos, a dos métodos com os intuitos, das premissas teórico-epistemológicas e a sociedade colonial onde se produz. Tal enfrentamento, de contornos políticos mas com uma pauta teórico-epistemológica e de funcionamento da Universidade, chegaria ao seu auge em 1966 (às vésperas do golpe de Onganía), quando o movimento estudantil combate simultaneamente aos subsídios privados para pesquisas e o cientificismo preconizado pelos professores (p.84).

Esta disputa dos sessenta tem suas raízes nas afiliações dos intelectuais, não somente a partidos políticos, mas também às formas de tentar construir uma Nação ou uma Civilização. A dicotomia se dá entre civilização liberal (incluindo aí os primeiros partidários da reforma) e o nacionalismo. Este, o nacionalismo, se subdivide entre popular e reacionário. Como a idéia de destino também tem origem em uma reconstrução histórica, é este revisionismo histórico função essencial do conjunto da intelectualidade (p.11). Poderíamos, forçosamente, enquadrar no campo de civilização liberal a primeira e segunda geração de sociólogos argentinos, especialmente também por sua condição de não-peronistas e banidos no primeiro governo. Não por coincidência, a chamada fase de ouro da Universidade de Buenos Aires (UBA, diríamos de importância quase que da mesma dimensão da Universidade Nacional Autônoma do México, UNAM) foi entre 1955 (ano da derrubada do primeiro governo peronista) e 1966, ano do golpe de Onganía; quando as universidades sofrem intervenção e professores são demitidos. Uma vez atingida a fase “científica” das ciências do homem, superando a Sociologia acadêmica (parcial e temporalmente) a dita por Germani “para-sociologia Argentina” (apud Sigal, p.90), o intelectual ítalo-argentino apregoa começar do zero, inaugurando na sociologia um esforço sistemático, mas também deixando de lado não apenas uma tradição ensaística, mas como um conjunto de conhecimentos. O “curioso” descarte é citado como deixando de lado inclusive as influências que a dita fase pré-científica, ensaística, teve sobre o próprio pensamento sociológico. A autora faz uma analogia entre o peso de Sartre para a França, Gramsci para a Itália e Mariátegui6 para o Perú (p.91), como um exemplo das influências que ocorreram por toda América Latina.

O processo de institucionalização da sociologia na Universidade argentina, foi consequência também do fim do governo peronista. A fase científica marca também um traço comum entre a intelectualidade de formação marxista, da esquerda acadêmica que obviamente não estava dentro da tradição anti intelectual. Não estudariam mais o ser nacional, ao menos não naquela fase (embora o fenômeno se repita conforme veremos a seguir), mas sim a busca da realidade nacional (p.93). O chamado momento pós-peronista inaugura portanto uma possibilidade de estudar a este mesmo fenômeno, o populismo peronista sob o signo nacional-popular (p.94). O objeto de estudo viria a aproximar a perspectiva entre intelectuais, na medida que se politizavam e posteriormente com seu espaço institucional fechado pelo anti peronismo de Onganía e seus (objetos de estudo(: a realidade do país, a capacidade mobilizadora do populismo, a autenticidade das massas e suas reais condições de vida e sobrevivência.

Podemos deduzir esta soma de fatores como efeito mobilizador da própria intelectualidade e seu objeto de estudo. A UBA fechada pelo regime militar de 1966, a capacidade associativa se eleva a uma prática de (universidade das catacumbas(, onde se realizam mais de dois mil (2.000) grupos de estudo com uma média de oito a dez participantes em cada um deles (p.70, KLIMOVSKY apud SIGAL). A batalha epistemológica da maioria da esquerda e do movimento estudantil era contra o (cientificismo( e do financiamento externo (e privado) às pesquisas e investigações sociológicas. A motivação maior desta mesma jovem intelectualidade de esquerda é o estudo da realidade acional, e a aproximação em perspectiva com seu objeto de estudo. Compreende-se assim uma boa parte das razões explicativas do engajamento militante que estes mesmos intelectuais tiveram na resultante da realidade nacional somada ao nacionalismo popular. Isto é, a adoção do sujeito coletivo e da missão de ser portador deste discurso e o apoio ou participação direta em organizações político-militares, hegemonicamente da esquerda peronista.

Como um aspecto complementar, gostaríamos de narrar um trecho de aula inaugural ocorrido na Faculdade de Ciências Econômicas da UBA, no ano de 1973, logo após a vitória para presidente de Héctor Cámpora, candidato dos peronistas e em especial de sua esquerda. O encarregado da aula fora um jovem sociólogo, Horacio Gonzalez, membro da unidade dos Montoneros7 da UBA. Esta organização ocupava espaço central na Universidade do peronismo progressista. No regime anterior, o nome da cadeira era Introdução ao conhecimento do Estado e Sociedade. Na hegemonia populista, e também nacionalista de esquerda, o título fora mudado para História Nacional e Popular. O elemento básico era somar a agitação política para 10.000 novos estudantes, baseado em um discurso de revisão histórica, mais apropriadamente seria dizer, em uma interpretação histórica. Dizia o encarregado montonero que (a contradição principal sempre foi entre libertação e dependência, não importando quais sejam os atores políticos em cada momento da história argentina(; em outro trecho do discurso, González retorna, (Ainda que os conflitos anteriores tenham recebido outras denominações, outras identidades culturais ou partidárias, de toda maneira são antecedentes deste conflito maior que se revela nítido no momento histórico que vivemos(. A justificativa da leitura e da validade ou não, de acordo com esta contradição, é o que faz os Montoneros de 1973 afiliarem-se ou não a unitários ou federalistas, aos caudilhos americanistas em contra da elite portenha, a um partido ou caudilho que mobilizasse de fato o país interior (González apud Anguita y Caparrós, 1998, pp.42-43).

Observa-se assim um padrão desta intelectualidade de formação marxista, que uma vez afiliada ao nacionalismo popular, reedita a função de revisionismo histórico. Ou seja, a realidade nacional estudada necessita de um discurso do ser nacional como influência dos fatores de motivação para o câmbio social. Já a dita sociologia científica, está na base de argumentação de Sílvia Sigal, a qual concordamos, só poderia se valer como tal, de acordo com suas próprias pretensões de alguma neutralidade e profissionalismo, em um regime mais estável. Este se veria chegar a partir de 1983, mas ainda que sob o signo de falência do Estado e suas sucessivas crises financeiras (obs. nossa, reconhecemos que este tema já foge muito do abordado aqui neste artigo).

A institucionalização e escolha de temas no caso mexicano vêm de um padrão mais próximo do brasileiro e é o tema onde adentramos agora, ainda que de forma breve. Os três autores que tomamos como base para esta parte do trabalho, Reyna (1979), Castañeda (1989) e Loyo (1982), concordam em classificar de modo linear a investigação sociológica no México. Esta se subdividiria, classicamente em fase pré-científica, científica e de institucionalização. Derivada neste país do Direito e da Antropologia (cuja problemática do indígena e da terra já mobilizara a base da Revolução de 1910 e foi a primeira das ciências sociais em sentido estrito com desenvolvimento), a sociologia iniciaria sua fase chamada de científica a partir de meados da década de 1950.

Mas segundo Reyna (pp.61-63), ainda que com aplicações metodológica modernas, as investigações sociológicas de então pouco ou nada teriam que ver com sua própria problemática nacional. Apontar estas problemáticas, que aliás o regime priista não conseguia nem queria dar respostas, era o mesmo que questionar a legitimidade do regime. O sistema não estava (preparado( para críticas (poderíamos afirmar tecnicamente que o regime era parcialmente fechado para uma oposição sistemática). Neste sentido, a obra clássica de Casanova (1965), (La democracia en Mexico(, inaugura uma fase de metodologia científica e problemática nacional. A resultante desta equação fora um questionamento cada vez mais sistemático do sistema político e do regime priista, desenvolvendo-se em relações de repressão e violência sistemática, culminando com o massacre de Tlatelolco em 1968, onde cifras de estimativas presumem em no mínimo 5.000 estudantes mortos.

Não que a obra de Casanova por si só tenha sido a razão para esta escalada, longe disso. Mas no que diz respeito da sociologia, inaugura sua fase científica, de pesquisa empírica,de apontamento de realidade, questionando a problemática e encaminhando linhas de ação nacionais. Desta obra, também sob incentivo de González Casanova, derivaram estudos de estratificação social, buscando as causas básicas da desigualdade social; assim como da estrutura agrária, setor camponês e a relação das sociedades indígenas com as não-indígenas.

A progressão dos temas e a problemática nacional, levaram ao tema central da década de sessenta ser a dependência (p.72, obs. nossa, vê-se que é um tema recorrente em vários países e é apontado como contradição central por vários autores). Com a acomodação vinda do mandato de (abertura política do PRI( de Luís Echeverria (primeira metade da década de setenta), boa parte das problemáticas nacionais e sociais levantadas pela Universidade passam a ser incorporadas como políticas públicas (e assim reencontram o papel e a proximidade do poder com a intelectualidade e sociólogos mexicanos). Como se dá este movimento de tensão e acomodação entre sociologia e Estado é o que continuamos a ver a seguir. Uma das derivações lógicas é a aproximação da academia para temas como Estado e sociedade, passando a ser o mesmo Estado objeto de estudo. É aí que autores como Gramsci recobram sua importância (p.72), servindo como base teórica das relações entre o Estado, o sistema político e a sociedade de classes.

Retornando um pouco antes da obra de Casanova, Loyo (1982, p.327) afirma ser necessário para a atividade científica, um espaço institucional propício, dotado da estabilidade e autonomia necessárias para se conformar se não como um campo, ao menos como um setor reconhecido e com parcelas de dirigência do país. Este espaço institucional fora se consolidando e ganhando seu espaço de excelência na Universidade Nacional Autônoma de México (UNAM). Considerando a natureza do regime do PRI, subentende-se que tamanha tranquilidade era também fruto de uma relação cúmplice e dúbia na carga de críticas e no tipo de estudo realizado pela intelectualidade mexicana. Indo de encontro a esta afirmação, Loyo (p.336), nos diz que fora a repressão executada pelo Estado e o regime, a partir de movimentos autônomos de trabalhadores do ano de 1958, culminando com a violência sistemática, que mudara a posição dos intelectuais. Até então este setor veria ao Estado mexicano como em essência, herdeiro do processo insurrecional de 1910.

Ambos movimentos teórico-epistemológicos e políticos, levou ao movimento estudantil e a vida acadêmica em um determinado momento, a desqualificar tudo aquilo que não fosse derivação do marxismo (p.337). A politização e a sindicalização de categorias de trabalhadores e estudantes universitários levou a disputa ao nível teórico também (p.331), e ao mesmo tempo a confrontação e violência física tornavam instáveis as possibilidades de trabalho e pesquisa desde um ponto de vista mais científico e acadêmico.

Mais uma vez a pauta teórico-epistemológica vê-se marcada, segundo Loyo, pela obra fundamental de Casanova (já várias vezes citada, aqui novamente, p.335), isto porque, segundo a autora, o trabalho contemplaria a temática do poder e da dominação. Vista sob uma ótica mais ampla, não necessariamente enquadrando os estudos advindos na ciência política, história, sociologia ou antropologia (p.334). Isto difere, e muito, do enquadramento mais rígido que na época seria feito nos EUA e na Europa ocidental (ou seja, no Centro). A evolução das pautas teórico-epistemológicas, somadas às medidas repressivas e duras do governo de Días Ordaz (o presidente quando do massacre de 1968), levou a um tensionamento contundente entre a intelectualidade e o Estado, o PRI e o regime (p.336).

 

O mandato seguinte, o de Echeverría, seria o oposto, levando a um processo de distensionamento e acomodação desta oposição dos intelectuais para com o Estado. O movimento do presidente foi de relaxamento dos níveis repressivos, maior tolerância à crítica nos meios acadêmicos, fundos e financiamentos para centros de pesquisa, margem de manobra para oposição política e para o sindicalismo independente (isto é, independente dos braços sindicais do PRI). No mandato seguinte, a política econômica recessiva não viria acompanhada de um nível maior de repressão política. Assim, a acomodação destes setores de intelectuais, apesar das contradições sociais, se completaria.

 

Castañeda (1989) aborda em seu texto uma observação interessante a respeito das capacidades de intervenção do pensamento sociológico no México. A primeira área é próxima e também abordada (inaugurada seria melhor) pela antropologia, que é o tema indígena e o camponês. Nesta área, coube à sociologia um papel de racionalização política da problemática nacional (p.409). Mais uma vez reitera-se o papel da obra de Casanova, La Democracia en Mexico, onde se reafirma (e com dados, estatísticas, pesquisa empírica) o caráter dual da sociedade mexicana, o de processo revolucionário não concluído e a concentração de poder no Executivo (p.420). O que ressalta a obra é a nova totalidade articulada por González Casanova; não a totalidade abstrata, mas os conceitos e categorias que permitiriam compreender (ou melhor, interpretar e incidir sobre) a realidade mexicana. A noção de fundo é a de estrutura. Um problema de fundo solucionado é o do compromisso do universitário para com a transformação do país (p.421). O engajamento profissional somado com a identificação de um dos problemas estruturais, a centralidade do Executivo mexicano, este por sua vez agente e executor de colonialismo interno (tipo domínio de enclave) que é resultante de uma dependência estrutural, levaram a toda uma geração de jovens sociólogos e de áreas afins a buscar um rompimento com o modelo vigente. Mais uma vez a episteme ganha conotações de importância política dentro do âmbito acadêmico-científico.

A institucionalização das ciências sociais veio junto de um esforço do Estado mexicano em tecnificar-se para solucionar sua crise (p.427), expandindo também sua política social. A transformação por dentro do Estado necessitava de uma vigorosa crítica e esta mesma foi fornecida pelos ex-opositores de 1968. A nova legitimidade não seria mais apenas a defesa da ordem pública, mas o reconhecimento da crise e do papel do Estado (lembramos, ainda que sob regime priista) como um agente externo da própria crise e uma das formas de intervir para solucioná-la. O marxismo acadêmico, avançado epistemologicamente, sofre acomodação de seu antigo tensionamento, passando a dialogar com o Estado nacional, inaugurando uma nova esfera pública (p.428). Os anos 1980 viriam a ser a década da crise financeira (chamada de década perdida, a da crise da dívida, mas “menos perdida” que a de ’90), com a política sendo transformada em técnica (p.429) e as elites das ciências sociais e do homem, após se verem valorizadas para superar a contradição marcada em 1968, caem em segundo plano num ambiente (tecnificado( (segundo os parâmetros de Ramos que esta técnica seria importada).

O traço comum aos três autores citados é ressaltar a obra de Casanova como portadora de uma nova totalidade. Escapando assim do que consideramos um falso dilema, que é a dicotomia entre a pesquisa e a prática política. Neste caso, a problemática nacional de concentração de poderes, sociedade dual, estrutura e dependência seria a contradição central para a geração de sociólogos de 1968. A episteme apresentada a partir deste posicionamento, forçara ao Estado mexicano a recuar e abrir-se. Ao incorporar a este setor, automaticamente muda a contradição central, embora a escolha dos problemas se mantenha semelhantes.

4) Apontando conclusões de episteme através de Celso Furtado

Conforme vimos ao longo do trabalho, o argumento central por nós levantado é que a afirmação de uma base teórico-epistemológica autóctone, é considerada como pré-condição para o desenvolvimento da produção técnico-científica nacional. De sua parte, a institucionalização das ciências sociais, necessita de uma relação de acomodação e estabilidade institucional para com o Estado, isto válido para os países latino-americanos. Se e quando o grau de crítica e de levantamento de problemáticas e possibilidade de execução de soluções apontados pelas ciências sociais, se contrapõem com os poderes de fato constituídos (a ordem colonial, as classes dominantes locais), justo a estabilidade institucional (que para tal, necessita ser contínua) é posta em risco.

Observamos também que a temática da dependência, e até mesmo da dependência estrutural é um central e recorrente na etapa do Estado-desenvolvimentista, que é justo a abordada pelos autores nos textos base do artigo. Ninguém teria mais autoridade para relacionar dependência com a episteme necessária para superá-la (ou sequer compreendê-la) do que o economista brasileiro Celso Furtado. Justo por isso, e para não escapar da redundência, apontamos rapidamente dois pressupostos teóricos de Furtado.

O primeiro que ressaltamos é (clássico(, diz respeito à própria formulação da categoria dependência e suas formas de análise econômica. Em (Desenvolvimento e Subdesenvolvimento, Elementos de uma Teoria do Subdesenvolvimento( (FURTADO in BIELSCHOWSKY, 20008), o economista trata e discorre das condições necessárias para compreensão do fenômeno histórico latino-americano. Podemos realizar um diálogo imaginário com Santos, quando este afirma a condição de força, a correlação que permite ao ocidente universalizar sua própria experiência. O mesmo vale para a economia. Furtado diz textualmente que (a teoria do desenvolvimento que se limite a reconstituir em um modelo abstrato – derivado de uma experiência histórica limitada (grifo nosso) – as articulações de uma determinada estrutura, não pode pretender elevado grau de generalidade( (p.241). Ou seja, é necessário um processo de pensamento derivado de um determinado momento histórico, próprio da sociedade (ou da região geopolítica) sobre a qual se quer incidir sobre.

O subdesenvolvimento, como fenômeno derivado da condição colonial e pós-colonial, tem de ser visto como um fenômeno específico, e necessita de um esforço de teorização autônomo (p.262). As simples analogias da parte dos economistas, de receituário balizado pelas experiências das economias desenvolvidas, resultam em soluções inaplicáveis para a superação da condição de subdesenvolvimento (p.262). Vê-se que a carga de críticas feita por Ramos é reeditada por Furtado, tanto na formulação teórica como na execução de programas derivados destas mesmas formulações.

Dentro de um universo de ciências sociais e humanas abertas, incluindo aí a economia, podemos observar que esta crítica continua e permanecem mais de quarenta anos depois. Furtado em entrevista a revista Caros Amigos, reafirma a questão do pressuposto e do problema teórico de cientistas sociais e economistas munidos de referencial teórico inaplicáveis para nossa realidade. As soluções aplicadas em nível de macroeconomia teriam suas origens, segundo Furtado (2003), na incapacidade dos economistas em compreender um sistema econômico brasileiro com algum grau de autonomia. O (possibilismo( do receituário econômico de matrizes no Centro, não abre perspectiva de mudança (p.30). De outra parte, a própria reflexão fica distante da execução, se reflete e não se desdobra em ação, não há repercussão contundente a partir do esforço reflexivo (p.31). Mais uma vez,, observamos um possível diálogo entre ciência-ação (Santos) e o que apregoa hoje Furtado. A identificação do objeto da economia, que segundo ele não é o nível econômico, mas o social, levaria a uma outra condição de formulação teórica e possibilidade de incidência sobre a realidade nacional.

Concluímos portanto que as ciências sociais e humanas na América Latina, tem em seu processo de institucionalização e na sua fase científica em diante, duas contradições centrais ressaltadas ao longo de todo o trabalho. A primeira é a temática teórico-epistemológica, onde a intencionalidade e a perspectiva do cientista pode habilitar ao rompimento da dependência científica e da dupla identidade (colonizador e colonizado). A segunda é quanto ao nível das relações desta elite intelectual com os poderes dirigentes e dominantes do país. Esta será tão ou mais tensa quanto mais contundentes forem as críticas e inábil for o Estado de absorver tanto estas críticas como a mão de obra científica que a formulou.

 

São as contradições de fundo de um país, que quando aplicadas na política científica e acadêmica, filiam ou não este setor. Seja como elite que é fração de classe dirigente, ou setor de intelectuais de fora e em oposição aos próprios setores dirigentes e classes dominantes de um país. Ao elencar a contradição e posicionar-se perante a mesma, o cientista social obtêm sua perspectiva e proximidade/afastamento do objeto. Aponta assim sua capacidade e/ou vontade política de incidir sobre a sua própria realidade.

 

 

5) Bibliografia

ANGUITA, Eduardo, CAPARRÓS, Martín. La Voluntad, tomo II, 1973-1976. Norma Editorial, Buenos Aires, 1998.

CASTAÑEDA, Fernando, (La Constitución de la Sociología en Mexico( in BOLIO, Francisco (org.) Desarrollo y Organización de las Ciencias Sociales en Mexico. CIHI-UNAM/Miguel Angel Porrua Grupo Editorial, Cidade do México, 1989.

FURTADO, Celso. (Desenvolvimento e Subdesenvolvimento( in BIELSCHOWSKY, Ricardo (org.)Cinquenta anos de pensamento na CEPAL. Record, São Paulo, 2000.

FURTADO, Celso. (Entrevista com Celso Furtado(, Caros Amigos, No. 71, fevereiro de 2003, São Paulo.

IANNI, Octavio. Sociologia da Sociologia Latino-Americana. Civilização Brasileira, Rio de Janeiro, 1971.

LOYO, Aurora. (Ciência Política e Sociedade no México, 1951-1981" in LAMOUNIER, Bolívar (org.), A Ciência Política nos anos 80. UnB, Brasília, 1982.

MARIÁTEGUI, José Carlos, cap.III (pp.102-119), in LÖWY, Michael (org.), O Marxismo na América Latina. Perseu Abramo, São Paulo, 1999.

RAMOS, Guerreiro. Introdução Crítica à Sociologia Brasileira. Editorial ANDES ltda., Rio de Janeiro, 1957.

SANTOS, Boaventura de Souza. (Introdução Geral à Coleção( in Democratizar a Democracia, os caminhos da democracia participativa. Civilização Brasileira, Rio de Janeiro, 2002.

SIGAL, Sílvia. Intelectuales y poder en Argentina. La década del sesenta. Siglo Veintiuno de Argentina Editores, Buenos Aires, 2002.

Notas

1 Nunca é demais lembrar, no Brasil, a “questão social foi e continua sendo um caso de polícia”.

2 Ao negar a matriz histórico-estrutural, o intelectual colonizado parte da idéia de normatização oriunda dos países centrais. Nega sua própria trajetória pois não se enxerga nela, mas côo um elemento de fora. Como se sabe, a “civilização” ocidental chegou de caravela e não veio a passeio nem com razões altruístas. Não existe império nem imperialismo humanista, qualquer missão civilizatória é um conjunto de explorações econômicas e genocídios culturais e físicos.

3 Ver a página oficial da CLACSO na rede: clacso.org

4 Apenas para manter-nos no intervalo histórico entre 1957 e 1971, muitas organizações político-militares, partidos de intenção rupturista, e também conspirações de direita, estruturas orgânicas no interior do aparelho de Estado, poderiam dotar-se de (técnicos), para validar e/ou ajudar a gerenciar a aplicação e conseqüência social de seus projetos políticos. O técnico prestar serviços não significa, necessariamente, uma associação direta entre saber acadêmico a serviço de projetos estatais ou privados dentro das normas democráticas. Aliás, a instabilidade política é mais normativa na maioria dos países latino-americanos do que a “estabilidade”, premissa prescritiva de regimes liberais de países de capitalismo central, não verificada em nossa realidade.

5 Ver a obra, coletânea de textos clássicos cepalinos organizada por BIELSCHOWSKY (2000), com apoio da própria CEPAL e do Conselho Federal de Economia do Brasil.

6 Por vezes, a história do pensamento social parece adquirir padrões sutis, mas muito perceptíveis. Os “Sete ensaios de interpretação da realidade peruana”, de 1928, inauguram uma série de temas de fundo que dizem respeito a todo o continente. A temática do indígena seria para os países andinos análoga da questão do africano para o caso brasileiro. E, no caso desta parte do trabalho que citamos, também José Carlos Mariátegui contesta aos estudos de cunho restauracionistas do passado incaico e parte para estudar a realidade de seu momento da herança inca. É interessante observar polêmicas semelhantes em épocas distintas. Estes conceitos são repetidos no prólogo de Mariátegui ao livro (Tempestade nos Andes), também de ordem que poderia ser classificada de (pré-científica(, de autoria de Luis Valcárcel (apud Mariátegui in LÖWY, 1999.)

7 Organização político-militar inserida na esquerda peronista argentina. Foi a maior organização política com braço militar da Argentina. Surgira de origem católica, se fundira com as Forças Armadas Revolucionárias (FAR, peronista de origem marxista) em 1972 e a partir deste momento passa a ter hegemonia absoluta na esquerda daquele país. Para maiores informações ver Anguita y Caparrós, 1998).

8 Este texto trata-se do Capítulo 4, da obra clássica de Furtado de 1961, do mesmo título, Rio de Janeiro, Editora Fundo de Cultura. Na coletânea que sacamos este texto, a origem é da edição argentina de 1971.

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