Por Bruno Lima Rocha e Lisandra Arezi – 12 de março de 2009 – Rio Grande do Sul
Numa certa quinta-feira do mês de fevereiro (19.02.2009) a deputada federal Luciana Genro (PSOL), e Pedro Ruas, advogado do partido e vereador de Porto Alegre, apresentaram denúncias – com ausência de provas materiais – atingindo à cúpula tucana durante a campanha de 2006 e os dois anos de governo seguintes. A forma da denúncia, através de entrevista coletiva realizada na capital gaúcha antes do carnaval, exemplifica uma máxima dos tempos que vivemos: um fato político só ganha relevância caso possa ter a forma de fato midiático. Para corroborar o conceito exemplificado, as falas de Luciana e Ruas apontaram à existência de provas, mas não a sua posse. Traduzindo: cantaram o milagre, mas não apresentaram o santo. Com essa manobra, o PSOL defende a bandeira jacobina e republicana, remetendo a salvaguarda das provas à Justiça Federal de Santa Maria da Boca do Monte.
É No antigo entrocamento ferroviário reside a cova funda do gerencialismo tucano no pago; o detalhe é que tudo corre em segredo de Justiça e o próprio vazamento das provas para a liderança da oposição de esquerda parlamentar significa que os arquivos do Poder Judiciário são violáveis e pouco ou nada defendidos. Falando nisso, a edição da revista semanal do Grupo Naspers, a Veja de Mainardi e Azevedo, datada de 11 de março do corrente ano, é a prova viva da fusão entre espionagem política e o hard news brasileiro. Voltando pro rincão do país, o inferno de Yeda passa por uma herança maldita, um modus operandi incorporado tal como foi o Mensalão para a Articulação de Direita: o nome do bicho chama-se Operação Rodin! As provas vivem sob outra cortina de fumaça. Ou foram produzidas durante as investigações da PF aqui no RS, ou são fruto de um resguardo encomendado por gente da cúpula do “novo jeito” durante as jogadas e acertos.
A possibilidade de fração na interna do nexo político-criminal estaria sendo ecoada pela mídia oficiosa da Província. No dia 26 do mesmo mês o plantão Zero Hora deu informações que “os arquivos da denúncia foram entregues ao MPF pelo lobista Lair Ferst num processo de delação premiada. Ele é um dos 33º réus do Caso Detran-RS no processo criminal que ocorre na 3ª Vara de Justiça Federal de Santa Maria. Segundo o PSOL, Lair teria gravado e filmado episódios que indicariam o uso do dinheiro de caixa 2 na campanha e atos de corrupção já no governo. O lobista nega ter feito gravações ou negociado delação premiada com autoridades”.
A Justiça Federal não confirma a existência do material. E também não nega….
O vento bateu e voltou. Corre como resposta no nobre e valoroso Congresso Nacional um início de processo de cassação contra o mandato de Luciana Genro. É a suma da ironia. Primeiro a vassoura janista é tomada pelos punhos da esquerda eleitoral viúva do PT pré-Dirceu no comando do secretariado executivo nacional. Segundo, os aliados da UDN, a materialização do social-liberalismo durante a eleição de 1994 – a mesma do R$ e da retranca vencedora de Parreira e Ricardo Teixeira – tomam um acesso de ira e querem derrubar a deputada do MES. Trata-se do mesmo PSDB que não arriscou o pescoço para Marchar com Deus pela Plutocracia (a banda deles) e tentar derrubar o governo de Luiz Inácio – nem mesmo após o Sr. Mercadante haver sido réu confesso durante histórico e comovente depoimento do fazedor de presidentes Duda Mendonça! Agora vão bater no PSOL porque lá por cima – pelas alturas planaltinas – o fator Daniel Dantas unifica a quase todos sob os interesses de tomar quase tudo.
Para o tucanato, Genro teve uma atitude “leviandade gravíssima” e “absolutamente irresponsável”. Mesmo que seja verdade, o líder do PSDB na Câmara, José Aníbal (SP), muito incomodado com as denúncias, exagera ao afirmar: "Ela está acusando a governadora a partir de supostas provas que instruiriam inquéritos e processos judiciais em andamento e sob segredo de Justiça", afirmou! Logo após, protocolou a representação no Conselho de Ética da Câmara contra a deputada gaúcha, alegando quebra de decoro parlamentar, fazendo falsa denúncia contra a governadora Yeda. Tamanha “indignação” parece piada de mau gosto.
Só a governadora não se defende. Por quê?
"Se a Governadora está sendo caluniada pelo PSOL, por que, na condição de maior interessada, não pede ao Ministério Público Federal que abra o sigilo desse processo?", questionou Luciana Genro. Sinuca de bico com a bola 7 na hora da morte. Se fosse num distrito policial, era a chave de cadeia. Se o malandro topa a acareação, periga de bater nele a suspeita, sendo reconhecido no flagrante. Se não topa, é porque “pode estar devendo”. No reino dos eufemismos, quem morre no final não é o bandido – mesmo quando há suspeita de “ter sido suicidado”.
Após ter sua trajetória e conduta destruída, a chefia do Piratini opta por abusar do mesmo eufemismo, apontando “agenda positiva” e outras armas do linguajar neoliberal. Aod Cunha, também na lista dos acusados, não titubeou e já partiu para o processo. O homem do Banco Mundial sabe que reputação é tudo, até que provem o contrário. Bernard Madoff que o diga.
Março chegou, após o carnaval, incendiando o ambiente político da província de São Pedro. Para carimbar o volume das denúncias e fazer ecoar o berrante da moralidade pública, a revista de Mino Carta bota na capa a professora da UFRGS que nem tem currículo lattes! Ela mesma, “Yeda em cheque!”, figura na capa de Carta Capital, avisando, como um amigo, que “o TSE está de olho”. E está mesmo, dado o volume e abrangência da macro-criminalidade operando na política brasileira, faz-se um governador ganhando no voto ou no tribunal.
Antes se cassavam políticos no Brasil por perseguição de idéias. Hoje a coisa passa por um caso de polícia. Ao sul do Mampituba nada é diferente. No estado dos albergueiros, a tal da transparência, a democracia tão quista, está virando vergonha nacional. Não passa um mês sem uma denúncia contra a governadora Yeda Crusius. É toyotismo nas escolas e roleta russa na Praça da Matriz.