No país da inversão de valores, a esquerda oficial aposta nos canais republicanos que não se comportam como tal. Já os bucaneiros do mercado financeiro, agentes indiretos dos corsários do mercado, agitam os bastidores e manejam aos que mandam de fato com a corda no pescoço. Ah se os HDs de Daniel falassem. - Foto:br yahoo news
No país da inversão de valores, a esquerda oficial aposta nos canais republicanos que não se comportam como tal. Já os bucaneiros do mercado financeiro, agentes indiretos dos corsários do mercado, agitam os bastidores e manejam aos que mandam de fato com a corda no pescoço. Ah se os HDs de Daniel falassem.
Foto:br yahoo news

Bruno Lima Rocha, 10 de março de 2009, Vila Setembrina do Rio Grande

O Brasil estaria à beira de um ataque de nervos se o ambiente de arapongagem coletiva fosse percebido pela maioria da população. Por sorte ou azar dos brasileiros, as carências cognitivas impedem a compreensão do ambiente de espionagem política e empresarial. Não é o caso deste veiculo eletrônico e seus leitores. Aqui, concordando ou discrepando, o conceito de John Le Carré, “espiocracia”, é perfeitamente assimilável.

Digo isto porque, por obrigação profissional, li a matéria de capa da revista Veja, “Sem Limites”, datada de 11 de março de 2009. Não se trata nesse artigo de retomar ou criticar o produto jornalístico assinado por Expedito Filho e com reportagens de Alexandre Oltamari e Diego Escosteguy. Cabe apenas o comentário que nessa indústria de bens simbólicos e informação, uma pauta desta envergadura passa, logicamente, pela chancela da hierarquia do veículo e da empresa. Mas, o eixo do texto é outro.

Vivemos duas situações limite. Os brasileiros tendem a elogiar o vale-tudo absoluto no combate a impunidade de elite. Discordo. Obter provas de forma ilegal seria o mesmo que aprovar o assassinato e a tortura na repressão dos traficantes do Rio. Outro problema, decorrente do primeiro, é a inversão dos valores. O delegado federal Protógenes Queiroz passa de investigador a investigado. Alega-se que montaram as provas de maneira ilícita. E, antes que a PF divulgasse seu relatório conclusivo a respeito do suposto desvio de conduta, este funcionário público já foi julgado por parte da mídia.

Vejamos quais são as “acusações” de fundo? Utilizar o Sistema Brasileiro de Inteligência (Sisbin), de forma colaborativa, para apurar supostos crimes executados por operadores políticos, jurídicos e econômicos? Trabalhar de forma compartimentada em um ambiente hostil e vigilante por natureza? Nada disso é “crime”, ao contrário, é característica da função. Agora a matéria insiste em afirmar que Protógenes tinha dossiê privado ao esconder cópias de provas em casa? Sejamos realistas. É no mínimo prudente considerar que o delegado federal retinha cópias dos arquivos sigilosos em locais seguros – e não em repartições do Estado – para resguardar o seu trabalho investigativo. Com certeza não seria o primeiro e nem o último policial honesto a fazê-lo. Entendo que estamos debatendo o fato de menor importância. Isto porque, se as provas obtidas na Operação Satiagraha são legais, o importante para a nação é o julgamento e a punição dos criminosos e não de quem os investigou.

Artigo originalmente publicado no blog de Ricardo Noblat

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