06 de maio de 2009, Bruno Lima Rocha, Grande Porto Alegre
Depois de sofrer seguidas derrotas, chegou o momento do PT do Rio Grande do Sul amarrar um mínimo de unidade interna. E, se algo pode frear o processo de unificação em torno de um chefe político – Tarso Genro – é a política nacional para a candidata de Lula. O problema está na agenda de trabalho, no campo de alianças e nos discursos de legitimação que justificam quem subirá no palanque de quem em 2010. No caso do PT gaúcho, esta unidade impõe necessariamente um calendário pré-eleitoral estadual e um jogo de acompanhamento das lideranças sindicais do rincão. Assim, empurra os correligionários de Diógenes Oliveira para as marchas de rua, fazendo coro na luta contra a gestão de Yeda Crusius (PSDB) e seus aliados. É nesta confluência que se dá o choque de interesses.
O calendário dos petistas gaúchos se viu emparedado pela Direção Nacional e o tema saltou para a mídia. A polêmica visível foi entre Tarso e José Dirceu, sendo que o primeiro acusa um “atropelamento” da agenda estadual. O recurso discursivo de Tarso cala fundo na base dos petistas gaúchos. Ao acusar de intromissão do “centro do país”, o tema mobiliza corações e mentes, incluindo os cansados e desiludidos. Desse modo, pode-se recuperar um pouco da auto-estima perdida, e abrir caminho para uma aliança de tipo “mal menor”, como nas prefeituras de Canoas (com o PP) e de Santa Cruz (com o PTB).
O epicentro gaúcho é a tentativa de costurar um acórdão com o PMDB em escala nacional, incluindo o Rio Grande. Segundo José Dirceu, o PT deve tentar dialogar com o seu maior aliado em nível nacional (e grande rival nas eleições locais), “sem pré-condições e sem ilusões”. Isso por aqui ainda é difícil. Que o partido de Simon é uma federação de caciques e oligarquias estaduais todos sabemos. Também é de entendimento público que esta legenda não se comporta de maneira programática. E, como até as pedras da Rua da Praia sabem, o PMDB do RS governou ombro a ombro com FHC durante seus oito anos de Planalto, incluindo a gestão do deputado Eliseu Padilha como ministro dos Transportes. E, mesmo diante de todas essas evidências, o PMDB é o maior aliado de Lula no país, ocupando postos-chave e sendo decisivo na crise política de 2005. É hora do PT do presidente retribuir em todo o país, incluindo a Província de São Pedro. Eis a “revolta”.
Na verdade, trata-se de puro pragmatismo dos dois lados. Pela racionalidade da política eleitoral do estado, o PT do RS deve se afastar do PMDB. Ao mesmo tempo, para tentar permanecer no Planalto, o movimento deve ser o oposto. Esse é o jogo e não é nada ideológico.