Esta Nota não vai abordar diretamente a crítica da mídia. Inicio um debate me atendo em outra crítica, a do campo, bem amplo, dentro do conceito Bourdieuano, do chamado campo universitário no Brasil. Recordo quando no final dos anos ’80, antes do 2º turno entre o Caçador de Marajás e o líder sindical que “nunca foi de esquerda” e fizera a campanha eleitoral de Fernando Henrique para o Senado no ano de 1978, havia uma visão hegemônica das universidades públicas brasileiras.
Então, o sistema de educação não sofrera ainda a expansão da segunda metade da década posterior e vivia a ressaca dos Acordos de MEC-USAID. Estes acordos aplicaram o sistema de créditos – quebrando com as turmas e a serialização – e deram o aval para a primeira expansão do sistema universitário brasileiro. Na segunda metade da dita década perdida – se os ’80 foram “perdidos” o que dirá dos ’90! – a pauta das universidades era por autonomia e paridade na votação.
A paridade contra o maldito sistema eleitoral de 70% de peso votante para professores; 15% para estudantes e 15% para os técnicos administrativos, nunca foi derrubada. Já a McDonaldização do Ensino Superior, através do controle dos proprietários de empresas de educação sobre o Conselho Nacional de Educação, essa sim aconteceu. Chegando ao limite, o sistema privado necessita de recursos públicos, como os fundos de filantropia, a expansão do crédito educativo e a compra das vagas pelo Prouni.
Junto com a McDonaldização, chegara às instituições de ensino superior uma expansão louca da pós-graduação – como alternativa ao desemprego – e também por algum avanço na pesquisa científica, além do dever de alimentar com mão de obra docente superior às redes privadas e uma autonomia enviesada na base da captação de recursos. Eis que crescem e chega como solução uma fórmula legal de licitar e apresentar as universidades públicas como prestadoras de serviço. O formato é mais que conhecido, é o das chamadas “fundações de apoio”, onde há pouco ou nenhum controle.
Apenas como dado redundante, vale lembrar que somente a FATEC da UFSM gerencia mais de 400 projetos com relativa autonomia do coordenador de cada um destes “empreendimentos”. Dinheiro rápido, reputação acadêmica no lixo! Antes dos escândalos de Fatec, Fundae, Finatec e também a Faurgs (é a abertura da tampa da caixa….), associava-se a fraude apenas a alguns professores de economia também envolvidos com o mercado financeiro. O caso mais notório e escandaloso foi quando da prisão de Salvatore Cacciola no esquema da desvalorização do R$, quando ficaram de bois de piranha os bancos de investimento Marka e FonteCindam. No imbróglio caiu um ex-diretor e então presidente do BC, conhecido professor de economia do berço neoliberal da PUC-RJ, que também atuava em empresa de consultoria, a Macrométrica. Sim, quem se lembrou do economista Francisco Lopes, acertou.
Os ventos do capitalismo financeiro, dinheiro rápido, líquido e sujo, em geral saídas estas divisas dos cofres públicos gerenciados pelo Estado, soprou para os lados da hierarquia acadêmica. Os gigantes do Estamento começam a ser acusados de formação de quadrilha. Ninguém compra lixeira de quase mil reais, isso é lavagem com lixo de luxo! Voltaremos a este assunto tão santamariense como gaúcho e brasileiro nas semanas seguintes.
Esta nota foi originalmente publicada no portal do jornalista de Santa Maria (RS) Claudemir Pereira