Pistola semi-automática Glock 19: os dispositivos semi-automáticos já são em si armas de destruição em massa de uso pessoal desenhadas para matar gente. - Foto:landcombatcb.blogspot
Pistola semi-automática Glock 19: os dispositivos semi-automáticos já são em si armas de destruição em massa de uso pessoal desenhadas para matar gente.
Foto:landcombatcb.blogspot

Tucson, Ciudad Juaréz e a proibição dar armas de assalto

A pistola semi-automática Glock 19 que Jared Loughner supostamente usou no violento ataque em Tucson, Arizona, é, segundo o web site de Glock, “ideal para um uso versátil por suas dimensões reduzidas” e “adequadas para portar de forma oculta”. O site também diz que “Os carregadores modelo da pistola Glock compacta e subcompacta têm capacidade para disparar em uma quantidade convincente de vezes”, entre quinze, que é o convencional, e 33 vezes. O assassino pôde matar seis pessoas e ferir treze, como o fez, porque tinha uma arma semi-automática oculta e “o carregador de maior capacidade”. Ao tentar recarregar a arma, uma valente mulher desarmada impediu-o.

Jared Loughner demonstrou que 33 é um número convincente de disparos, como diz Glock. Mas a deputada democrata de Nova York, Carolyn McCarthy, não precisa que a convençam. Seu esposo Dennis McCarthy foi cravejado de balas no trem de Long Island no dia 07 de dezembro de 1993, quando Colin Ferguson sacou uma pistola semi-automática do bolso e metodicamente começou a dar passos no trem tarde e disparou a esmo contra os passageiros. Também matou seis pessoas e feriu dezenove, entre eles o filho de McCarthy, Kevin. Como Loughner, Ferguson foi derrubado enquanto recarregava sua arma. Em ambos os casos, o ato de recarregar a arma gerou uma pausa na matança, permitindo que cidadãos desarmados interviessem.

 

Carolyn McCarthy chorou a perda de seu esposo e cuidou de seu filho gravemente ferido até a sua recuperação. Tanto o filho, como a congressista Giffords, recebeu um disparo na cabeça. Depois Carolyn McCarthy decidiu ir mais além para tratar de fechar a ferida que havia no país. Pressionou o congressista de Long Island, o republicano Daniel Frisa, para que apoiasse a Proibição Federal de Armas de Assalto, de 1994. Frisa negou-se. McCarthy tinha sido enfermeira durante 30 anos e republicana toda sua vida. Isto fez com que sua ira se convertesse em ação, migrando para o Partido Democrata, pelo qual se candidatou ao Congresso como rival de Frisa e o venceu nas eleições de 1996. Manteve-se no Congresso e, desde então, tornou-se uma das defensoras mais firmes de que se elaborem leis de porte de armas tomando por base o bom senso.

 

A lei de 1994 proibia categoricamente certa quantidade de armas, além dos carregadores de maior capacidade, como o utilizado por Loughner. A lei perdeu vigência em 2004, durante o governo do Presidente George W. Bush. Em resposta à matança de Tucson, McCarthy colocará em consideração um projeto de lei sobre Dispositivos para carga de munição de alta capacidade. Em uma carta dirigida a outros membros do Congresso na qual buscava apoio para o documento, McCarthy escreveu que o projeto de lei “proibirá a transferência, importação ou posse de carregadores de pistola de alta capacidade fabricados com posterioridade à promulgação da lei”, e, portanto, “a dificuldade cada vez maior para obter estes dispositivos diminuirá seu uso e salvará vidas em definitivo”.

 

A proibição destes carregadores de munições é um começo. No entanto o fato é que as pistolas em si – dispositivos semi-automáticos – já são armas de destruição em massa de uso pessoal desenhadas não para caçar animais, mas sim para matar gente. É necessário que se tenha um controle destas armas. Ao controlá-las, reduziremos a violência não só nos Estados Unidos, como também do outro lado da fronteira, no México.

 

Em Ciudad Juárez, a apenas 500 quilômetros de Tucson, em frente a El Paso, Texas, funcionários mexicanos declararam que houve mais de 3.100 assassinatos em incidentes de violência por drogas no ano passado, ano em que se registrou o maior número de mortes até a data. Em maio de 2010, o Presidente Felipe Calderón falou ante uma sessão conjunta do Congresso dos Estados Unidos e pediu que se restabelecesse a proibição de armas de assalto. Segundo funcionários de polícia dos Estados Unidos, cerca de 90 por cento das armas confiscadas em México em atividades ilícitas são compradas nos EUA.

 

Susana Chávez, a poetisa e ativista contra a violência da Ciudad Juárez que popularizou a frase “Nem uma morte a mais”, foi sepultada na semana passada no México justo quando se preparavam os corpos da vítima mais jovem da matança de Tucson, a menina de 9 anos Christina Greene, e do juiz federal John Roll, para o enterro no Arizona. Um mês antes, a ativista contra a violência Marisela Escobedo Ortiz levou um tiro na cabeça enquanto realizava uma vigília para exigir que o governo encontrasse os assassinos de sua filha de 17 anos, Rubi Frayre Escobedo.

 

O grupo estadunidense Prefeitos na Contramão das Armas Ilegais acaba de publicar os resultados de uma pesquisa bipartidária que revelou que 86% dos norte-americanos e 81% dos proprietários de armas apóiam que em todas as vendas de armas se averiguem os antecedentes dos potenciais compradores. O grupo tem um web site, Close de Loophole.org. As exibições de armas, o fácil acesso às armas semi-automáticas, somado a possibilidade de comprar carregadores de maior capacidade são uma receita para os massacres que ocorreram nos últimos anos nos Estados Unidos e com uma freqüência muito maior no México.

 

Depois da matança de Tucson e em meio de pedidos a ambos partidos de que trabalhem juntos e de forma civilizada, este é o momento em que Democratas e Republicanos devem se unir para aprovar uma proibição permanente das armas de assalto e garantir mais segurança a todos.

 

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Denis Moynihan colaborou na produção jornalística desta coluna.

@2010 Amy Goodman

 

Texto en inglês traducido por Mercedes Camps, editado por Gabriela Díaz Cortez y Democracy Now! en españolspanish@democracynow.org

Texto em espanhol traduzido por Rafael Cavalcanti Barreto, revisado por Bruno Lima Rocha.

Amy Goodman é âncora do Democracy Now!, um noticiário internacional que emite conteúdo diário para mais de 650 emissoras de rádio e televisão em inglês, e mais de 250 em espanhol. É co-autora do livro “Os que lutam contram o sistema: Heróis ordinários em tempos extraordinários nos Estados Unidos”, editado pelo Le Monde Diplomatique do Cone Sul.

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