Por Bruno Lima Rocha

A crise política da ex-esquerda é mais profunda do que imaginávamos. Trata-se de típico fim de etapa e crise de hegemonia do PT. Vimos esse ciclo encerrar-se com o anarquismo nos anos ’30, com o PCB após o golpe de ’64 e agora é a vez do PT. Substituir uma hegemonia de esquerda por outra não é tarefa simples e pode implicar em mais uma década de reorganização. Até lá, vamos ver ex-companheiros ficarem cada vez mais parecidos com antigos adversários, tornando-se antagonistas do povo e inimigos de classe de quem se organiza debaixo para cima.

No país da chantagem política, o gesto surpreendente de coerência restante da bancada do PT faz a ex-esquerda ficar contra as cordas. Para satisfação da UDN, o pacto lulista pode terminar de forma melancólica e com uma razoável parcela da elite empresarial presa. E agora Luiz Inacio? Plantou com quem não deveria andar junto e termina colhendo o bagaço do latifúndio próximo. Tivessem ido até o fim com a CPI do Banestado e com as operações Chacal e Satiagraha e não sobraria nem pena de tucano. Agora, os novos entrantes na jogada vão pagar o preço completo. Não deixa de ser bem feito.

Que bela síntese do dilema do pelego, ceder ao patrão para não ficar pior que está ou enfrentar para fortalecer a própria base e – na forma de risco calculado – acumular forças? As esquerdas sempre se dividiram a este respeito e também no limite deste cálculo. Quando o cálculo é só de curto prazo, o chamado “pragmatismo político” sem projeto vira a versão do leninismo piorado (o que já é ruim fica horroroso), como por exemplo na conta de chegada do Mensalão: – Quanto vocês cobram? Agora, com crescimento econômico retardado e fim de ciclo no capitalismo periférico, as escolhas de conveniência vão cobrar seu preço, e bem alto, com ou sem impeachment.

O Brasil na berlinda

A argumentação política para o pedido de impeachment é pífia. A abertura do processo de impeachment em cima de decretos de ampliação orçamentária no exercício de 2015 é golpe fruto de chantagem política. Nesta mesma semana, o congresso ampliou a base fiscal e agora o presidente da Câmara acata um pedido de impeachment baseado no mesmo princípio.

Se o PSDB, DEM, Solidariedade e PPS virarem sua posição no Conselho de Ética e apoiarem Cunha, então a maré virou e estará tudo nas mãos de Temer e demais caciques do PMDB. Na base jurídica isso não anda de forma alguma. Estamos em terceiro turno, em seu segundo tempo e se produz um novo alinhamento. Para o governo, a necessidade é alinhar voto a voto e correr contra o tempo.

Temos visto a berlinda de Eduardo Cunha (PMDB-RJ) e o jogo de duas mãos – Cunha fica e o impeachment não anda ou Cunha sai e anda o impeachment. Que horror, base neopentecostal, bancada BBBB e ex-esquerda entre a PF e a coalizão de direita (aliada a banqueiros, latifundiários, industriais clientes e só não fecha com os donos da mídia por discrepância ideológica destes últimos).

Já que virou literalmente vale tudo, o PSDB tem de fechar um acórdão de saída para Cunha e negociar a transição de poder, ou então ter a cara de pau de virar seu voto na Comissão de Ética, tal e qual o PT virou o próprio – no caso, contra Cunha. Se isto não ocorrer, a possibilidade de vitória da UDN pode ser um vôo de galinha.

 

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