20 de Janeiro de 2016, Bruno Lima Rocha

Escrevendo de modo mais solto, vou aportar alguns conceitos e categorias por aqui e na sequência, vamos formatando nesta série iniciada de artigos para aumento da difusão. Estamos em período de Fórum Social Mundial – Fórum Social Temático – e o presumido – suposto – contraponto do Fórum Econômico Mundial de Davos. Logo, as energias apontadas para este tipo de evento se desgastam junto do equivocado entusiasmo – já em fase de franco declínio – com governos de turno, cabendo debater a ideia de longo prazo.

Em 2001, quando da primeira edição do Fórum Social Mundial em Porto Alegre, era possível fazer uma leitura do governo municipal do PT na capital rio-grandense assim como da Frente Ampla em Montevidéu, capital do vizinho Uruguai. O mesmo se dava na política de governos estaduais, estando o Rio Grande do Sul (RS) no penúltimo ano de governo Olívio Dutra, com uma hegemonia de governo entre a social-democracia cristã (Articulação de Esquerda) e o pós-trotsquismo “responsável” da Democracia Socialista (DS). Nosso Continente fervia com a perspectiva chavista na Venezuela – ainda no começo de seu governo – antes dos golpes e contragolpes de 2002 e 2003 e da ascensão do MAS (Movimento Ao Socialismo, na sigla original, Instrumento Político dos Povos Originários de Bolívia) com o líder cocalero Evo Morales à frente. O reforço da dependência do capitalismo periférico e a ausência de autonomia estratégica dos movimentos populares e classistas, vem levando em maior ou menor grau, a um retorno da direita política como forma expressa da agressiva direita ideológica, pró-ocidental e notoriamente colonizada.

Não se trata agora de aportar críticas sobre críticas apenas para faturar politicamente em cima de um desastre amplamente previsível e ainda não completamente consumado. Mas, é preciso afirmar que a ausência de uma teoria de poder popular de longo prazo e, obviamente, a subsequente ausência de estratégia de construção permanente deste poder, faz com que o jogo do liberalismo sob ares de democracia opere como canto de sereia para os possibilistas de sempre. Sei que venho repetindo isso há tempos, mas infelizmente, superar o refluxo que está chegando por direita é fundamental para os próximos cinco a dez anos de nosso Continente.

Um exemplo desta dependência e a confusão conceitual e proposital entre “crescimento econômico do capitalismo periférico” e o “desenvolvimento social com o protagonismo das maiorias” se evidencia no exemplo que segue. Infelizmente a América Latina perdeu uma chance histórica de virar a mesa da herança colonial garantindo setores da economia sob o controle coletivo, através de trocas subsidiadas e de base não monetária. Qualquer geógrafo, urbanista, estudioso ou tecnocrata das cidades e metropolitanos vai afirmar a necessidade de garantir cinturões verdes ao redor das manchas urbanas e com isso frear tanto a especulação do solo citadino como também a permanência de famílias vinculadas à produção primária perto de centros de abastecimento e distribuição.

O caso do estado do Rio de Janeiro é exemplar, pois mesmo dentro das regras do jogo do capitalismo periférico, trata-se de um enorme potencial de consumo de alimentos e a franca opção pela pobreza no campo e a especulação imobiliária nas áreas próximas da capital e metrópole fluminense. Em última análise estamos vivendo inflação de alimentos porque em grande parte esta cadeia está dolarizada e sem proteção. Produzir grãos para se tornarem commodities em escala mundial não garante a mesa de ninguém mais farta e barata. Voltando ao modelo já defendido por vários setores, tal proteção (dos produtores familiares e de preferência coletivizados) aqui defendida não implica em garantir “posições dentro do aparelho de Estado”, levando á degeneração ideológica simplista do “vale tudo para assegurar o mínimo”. Esta difusão vulgar de Gramsci faz tanto estrago na esquerda como a tese do patrimonialismo e herança ibérica faz pela difusão midiática do argumento da direita. Estou afirmando que qualquer projeto de desenvolvimento é uma disputa de modelo e como tal este tem de assegurar zonas de produção protegidas da economia monetária, transferindo recursos conquistados na lei ou na marra, para manter o controle sobre os territórios e focar na produção primária onde todo o controle da cadeia esteja sob a decisão coletiva, da semente nativa à distribuição subsidiada.

O caminho mais fácil é apenas responsabilizar os governos de centro-esquerda, os mesmos que optaram por aprofundar o modelo de exploração colonial e negociando com o pior de nossos países. Sim, esta gente é muito responsável por ampliar a primarização das economias latino-americanas. Mas também é preciso ir além da denúncia e ver o sistema como um todo. Toda base produtiva não monetária é um bastião embrionário de socialismo e como tal deve ser defendida.

Repito aqui o que já afirmei em outros espaços. A defesa dos territórios também inclui a capacidade produtiva onde, supostamente, seria viável desenvolver em pequena escala outros modos de produção desde que aliados com uma ampla luta reivindicativa.

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