Se os hondurenhos se puserem em marcha, este acontecimento pode vir a implicar num grande salto da história daquele país.  - Foto:honduras en resistencia
Se os hondurenhos se puserem em marcha, este acontecimento pode vir a implicar num grande salto da história daquele país.
Foto:honduras en resistencia

25 de setembro de 2009, da Vila Setembrina do Continente de Tiaraju, Bruno Lima Rocha

Há momentos na trajetória de um país que a tomada de decisão é fundamental. No caso de Honduras, apesar e além de todas as alianças e manobras diplomáticas realizadas pelo presidente deposto José Manuel Zelaya Rosales, havia um fator estratégico. O país sofreu um golpe, através de um exército fiel e leal a Escola das Américas que o treinou, e subordinado aos poderes instituídos sob controle da oligarquia local. Todo golpe de Estado é sinônimo de violência e perigo. Para recuperar partes de este poder, havia que correr riscos, inclusive de vida. E, Zelaya, quando cruzou a fronteira e refugiou-se na embaixada brasileira em Tegucigalpa, chamou para si esta carga.

Muitos analistas duvidavam da capacidade do político de carreira do Partido Liberal de Honduras (PLH) em aceitar o desafio que lhe fora imposto. Os dois primeiros blefes de que retornaria ao país sem sequer passar da fronteira com a Nicarágua reforçaram este ponto de vista. Confesso que estava cético também, e errei.

Em situações limite, a qualidade da liderança política também implica em sua pré-disposição pessoal para jogar duro. Não tenhamos ilusões, ninguém faz política no exílio sem infra-estrutura, recursos e segurança individual. Dada a procedência dos militares hondurenhos, a possibilidade de ser assassinado era e é uma constante. Durante os oitenta e seis dias que peregrinou pela América Central e indo aos foros diplomáticos adequados, Zelaya contou com logística e um aparato de inteligência operando para ele. Mesmo um ex-presidente deposto passa dificuldades e todo aparelho político – ainda mais no exílio – custa caro. Essa constatação reforça a tese do apoio direto ou indireto de governos e administrações latino-americanas. Certamente para isso, contou com aliados diversos e muitas vezes disputando liderança na mesma região. Tal é o caso entre Brasil e Venezuela.

Oscilando entre grupos, Zelaya joga um pouco como franco-atirador na política, embora pareça mais fanfarrão do que é. Primeiro sinalizou estar favorável ao Acordo de San José, coordenado pelo presidente da Costa Rica, Oscar Arias. Neste texto, constava a anistia para os golpistas e o abandono da convocatória de uma Assembléia Constituinte. Logo após, vociferou estar contra o texto e o “consenso” para o retorno.

Na maioria das vezes, líderes de tradição oligárquica, mesmo com apoio popular, não arriscam a desintegração da ordem social para recuperar uma parcela do poder político. A pauta central das entidades e organizações que compõem a Frente Nacional de Resistência Contra o Golpe é a nova constituição e a pulverização do poder concentrado na oligarquia hondurenha e as suas sócias majoritárias, transnacionais de mineração ou bananeiras como a estadunidense Chiquita, ex- United Fruit (leia aqui as denúncias). Manuel Zelaya sabe que está sentado sobre uma bomba relógio.

O fato é que Honduras está próximo de um conflito em larga escala, podendo resultar numa rebelião popular sem precedentes. E, milagrosamente, dessa vez o Brasil e sua diplomacia se comportaram a altura de quem quer ser líder na região.

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