Ilustração representando os quatro trabalhadores enforcados em Chicago. Origem do 1º de maio. - Foto:http://www.wilsonsalmanac.com/images2/nov11_haymarket_exec_sm.jpg
Ilustração representando os quatro trabalhadores enforcados em Chicago. Origem do 1º de maio.
Foto:http://www.wilsonsalmanac.com/images2/nov11_haymarket_exec_sm.jpg

O texto pretende apresentar, de forma resumida, a origem e o significado do 1º de maio.(Este texto é uma adaptação de parte da Dissertação "O Movimento Operario em Alegrete: a presença de imigrantes e estrangeiros (1897-1929)".

Por Anderson Romário Pereira Corrêa
Alegrete (RS), 21 de abril de 2010.

O 1º de maio, dia internacional dos trabalhadores, é data de maior significado político na cultura e identidade de classe. Este texto tem a intenção de conhecer a origem do 1º de maio e seu significado na formação do movimento operário internacional.
Michelle Perrot escreve que a “invenção do 1º de maio” está relacionada a dois fatores que, dependendo da corrente ideológica, destaca-se um ou o outro. Os operários do final do século XIX preocupavam-se em estabelecer uma data como marco fundamental de unificação internacional da luta dos trabalhadores. Esta preocupação era compartilhada por trabalhadores dos Estados Unidos, por franceses e de outros paises. Os debates apontavam a importância de serem aproveitados elementos da cultura popular para a escolha desta data. Vários fatores apontavam para a escolha de um dia que culminasse com a Primavera. Já existia uma tendência cultural em comemorarem-se o 1º de maio como dia do renascimento (festejavam-se as boas colheitas, etc.).(PERROT,1988, p.130)
Nos Estados Unidos, o 1º de maio é inaugurado em 1886, pelos “Cavalheiros do Trabalho”, e já tinha suas vítimas: a violência dos confrontos com a polícia, naquele dia, resulta em nove mortos em Milwoukee e seis em Chicago. O processo dos “oito mártires de Chicago”, entre os quais, quatro são enforcados, em 11 de novembro de 1887, tem uma repercussão real, visível nos jornais e no imaginário popular. (Idem.)
A II Internacional, em Congresso em Paris, no dia 20 de julho de 1889, discute a proposta da escolha e uma data fixa para um dia de protesto internacional, para reivindicar as 8 horas de trabalho. Leva-se em consideração que havia sido decidida uma manifestação para o 1º de maio de 1890, pela American Federation of Labour, em seu Congresso de 1888. (Idem.)
De acordo com a revista “Solidariedad”, uma série de protestos tem inicio no dia 1º de Maio de 1886, na cidade de Chicago nos Estados Unidos. Estes protestos culminam com a prisão e condenação à morte dos operários organizadores das manifestações que reivindicavam oito horas de trabalho diário. Os oito trabalhadores chamavam-se: Spies, Flelden, Neebe, Fisher, Schwab, Lingg, Egel, Parsons, dos quais quatro morreram na forca. Os trabalhadores do mundo inteiro decidiram que 1º de maio seria um marco na luta por melhores condições de trabalho e de luto pela morte dos “mártires de Chicago”. (REVISTA SOLIDARIEDAD, 1988, p.08)
Eric Hobsbawn escreve que, além da reivindicação das 8 horas de trabalho, em cada país, em cada localidade, acrescentavam-se pautas específicas aos protestos. O “ritual” consistia em um dia de “Greve geral” internacional, com simbologias, bandeiras, conferências etc. Porém, segundo Hobsbawm, “o desfile público dos trabalhadores como uma classe consistia o núcleo do ritual.”(HOBSBAWN, 1997, p.293)
Segundo Silvia Petersen, em 1891, aparecem as primeiras notícias do 1º de maio no Brasil. Em 1893, evidenciam-se algumas manifestações em cidades do Rio Grande do Sul. (PETERSEN, 1991, p.30-52) Apresentam-se alguns exemplos de comemorações do 1º de maio, para estabelecer algumas comparações, assumindo os riscos das generalizações. Ao tratar da comemoração do 1º de maio de 1905, em Porto Alegre, Petersen descreve que no evento ocorre utilização de banda de música, bandeiras desfraldadas, festa campestre, conferências, baile, ato político deliberativo. (PETERSEN, 2001, p.163) Edgar Rodrigues publica o texto: “O 1º de maio na História do proletariado paulista”, texto este encontrado pelo autor no jornal A plebe, 1º de maio de 1918. Segundo o texto, a primeira comemoração de destaque do 1º de maio em São Paulo ocorre em 1898. Ocorre passeata pelas ruas do centro da cidade com bandeiras vermelho e pretas dos anarquistas e banda de música. No ano seguinte, a comemoração é feita com comícios e passeatas. O mesmo ocorrendo em 1901. Nos anos de 1902 e 1903, não há paralisação do trabalho, mas há conferências e comícios. Em 1904, diz o texto, é melhor o nível das manifestações operárias. Em 1905, pelo dia, há comícios e à noite um baile. Em 1906, são feitos comícios em praça pública e em salões. Em 1908, é promovido um comício e à noite um festival com a representação de peças de caráter social. Destaca-se no texto reproduzido por Edgar Rodrigues que: “No ano de 1911 é que foi legalizada a data de 1º de Maio, passando a figurar na folhinha como feriado nacional.” Faltam exemplos nos quais as comemorações degeneravam em conflitos com as forças repressivas dos patrões e do governo. Em 1906, um congresso já alertava que o 1º de maio era um dia de luta e de luto, não de festas. Seria um dia em que os trabalhadores internacionalmente lembrariam aqueles operários que morreram lutando pelos direitos adquiridos e pelos que ainda faltavam adquirir. (RODRIGUES, 1992,p.61)
Silvia Petersen faz um estudo sobre o 1º de maio, que, segundo ela, possui algumas características:
– De 1891 a 1894, acontece uma transição nas comemorações do 1º de maio no Brasil, em uma fase na qual o movimento operário e o 1º de maio eram liderados por intelectuais, profissionais liberais e, até mesmo, militares e, predominantemente, composto de brasileiros, para um momento em que predominavam estrangeiros e com vinculação mais orgânica com os operários, por sua própria condição social ou por atuarem como “intelectuais da classe”;
– As transformações ideológicas que ocorrem nas comemorações do 1º de maio vão de um socialismo heterogêneo a um anarquismo também heterogêneo;
– da presença significativa do intelectual, passa a presença marcante do imigrante;
– Desenvolve-se o xenofobismo da classe dominante contra os operários imigrantes;
– mudanças na comemoração, passando de uma atividade festiva para atividades de protesto;
– passam a acontecer prisão e deportação de militantes. (PETERSEN,1981, p.51)
No final do século XIX e inicio do Século XX existiam duas correntes que disputavam o significado e a simbologia do 1º de maio. Enquanto o dia era hegemonizado pela Social-Democracia, com seu centro irradiador nos Partidos Social-Democratas europeus e ligados a II Internacional (alemão, italiano, Frances, português e espanhol) as atividades do primeiro de maio eram festivas. Quando passou a hegemonia dos anarquistas, a partir do inicio do século XX, suas referencias eram os protestos de Chicago e o assassinato dos operários em luta pelas oito horas de trabalho. O dia deixou de ser Festivo e passou a ser de protestos e greves. Um dos aspectos mais interessantes é que no hemisfério norte, tanto nos Estados Unidos quanto na Europa, o 1º de maio é uma data característica do inicio da Primavera (ver Perrot). Para certas culturas, a Primavera é a data do renascimento, ressurreição. O 1º de maio em sua origem possui este caráter místico e messiânico de certas culturas. Depois da morte dos trabalhadores em Chicago, o 1º de maio faz lembrar aquela frase que diz: “Por mais rosas que os poderosos matem nunca conseguirão deter a primavera!”

BIBLIOGRAFIA:
HOBSBAWM, Eric. A produção em massa das tradições; Europa, 1879 a 1914. In: a Invenção das Tradições. Organização de Eric Hobsbawm e Terence Ranger. Rio de Janeiro: Paz e Terra, 1997.
PERROT, Michelle. Os excluídos da história: operários, mulheres e prisioneiros. Rio de Janeiro: Paz e Terra, 1988.
PETERSEN, Silvia Regina Ferraz. Origens do 1º de maio no Brasil. Textos para Discussão/1. Porto Alegre. Ed. Universidade, 1981.
PETERSEN, Silvia Regina Ferraz. “Que a União operária Seja Nossa pátria!” História das Lutas dos operários gaúchos para construir suas organizações. Porto Alegre; Editora Universidade; 2001.
REVISTA SOLIDARIEDAD. 1º de mayo de lucha. p.08; Año 02; Nº 04; Mayo 1988. (R.O.Uruguay).
RODRIGUES, Edgar. A nova Aurora Libertária (1945-1948). Rio de Janeiro. Achiamé, 1992.

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