O jornal Valor Econômico, em sua edição de hoje, ressalta um discurso do empresário mineiro José Alencar. Por sinal, este industrial é vice-presidente da república e ministro da Defesa. A fala ocorreu na convenção do recém-criado Partido Republicano Brasileiro (PRB), com vinculações diretas com o conglomerado de comunicações e religião, Igreja Universal e com a orientação ideológica do professor Mangabeira Unger (ex-guru de Ciro Gomes).
Disse o vice-presidente: “Não vamos fazer discurso de que todo brasileiro tem direito a isso e aquilo; não precisamos da política para viver, mas para trabalhar pelo país”, provocou Alencar, um dia depois de o presidente Lula anunciar, durante almoço com empresários em São Paulo, que ficaria satisfeito se, no fim do seu mandato, todos os brasileiros estiverem fazendo as três refeições diárias a que tem direito.”
José Alencar chama para si e sua fração de classe, a dos empresários brasileiros ainda operando no setor produtivo, o foco das atenções. E aproveita para marcar posição contra a política econômica de arrocho anti-produtivo. O curioso é observar que a disputa entre o capital financeiro e o produtivo, é raras vezes vista na história do país e da América Latina. A tal da burguesia nacional-progressista foi ardorosamente buscada pelo PCB ao longo de toda a sua história e pelo PT nos últimos 10 anos. Parecia, ao menos aos olhos da direção petista e seus aliados do PSB e PC do B, que este homem era Alencar. E era, tanto que o próprio investiu milhões de reais, do próprio bolso, na campanha de Lula em 2002.
Só não contava o empresário com a absoluta falta de espaço para gerar mais crescimento econômico. Ou seja, a contradição entre o capital financeiro, o controle e domínio dos bancos sobre a economia, é mais forte do que a contradição e a luta de classes, no interior do governo Lula. E ainda tem gente que diz que o governo está em disputa?! Pode até estar, mas é entre os desenvolvimentistas, sejam de classe dominante como Alencar, ou auxiliar da alta classe média, como Mangabeira Unger e o demitido professor Carlos Lessa, e os monetaristas do Fed, FMI e Banco de Boston, sob a batuta de Meirelles e o bisturi de Palocci.