Don Vito Corleone, se cartola fosse no futebol brasileiro, teria condições inestimáveis de desenvolvimento de sua força de trabalho, incluindo as suas consagradas formas e métodos de convencimento.  - Foto:ingames
Don Vito Corleone, se cartola fosse no futebol brasileiro, teria condições inestimáveis de desenvolvimento de sua força de trabalho, incluindo as suas consagradas formas e métodos de convencimento.
Foto:ingames

Dijair Brilhantes, Anderson Santos & Bruno Lima Rocha

Um dia a máscara iria cair – ou as desventuras da politicagem futeboleira na Província do Eucalipto dominada pela Jabalândia

Pelos lados da Azenha, as coisas não vão bem. O novo início da gestão presidencial do senhor Paulo Odone de Araújo Ribeiro, vai de mal a pior. Os resultados dentro de campo não chegam a serem surpreendentes. O elenco fraco e modesto, não atingiu bons resultados, perdeu o estadual para o rival Internacional (nos pênaltis, é verdade), e a Copa SANTANDER Libertadores para o Universidad Católica (obs. outrora um dos berços do neoliberalismo latino-americano através de convênios junto a Escola de Economia de Chicago, daí o termo de Chicago Boys) nas oitavas de final. Obs nervoso: Ai como dá urticária ver um nome de banco associando-se com a paixão do Continente, que traz no nome uma homenagem aos “Libertadores” de uma América então ainda dominada por espanhóis endividados…como diziam os chilenos, “eso es cosa de Juan y Pueblo, no de patrícios”.

Voltando apenas à bola (ôps, mas está cheio de deputado, economista da FEE e da Fazenda Gaúcha metido a CEO e o escambau nos vestiários), quando oposição, Paulo Odone tinha um discurso inflamado. O motivador mexeu com a paixão do torcedor gremista. Evocando a “imortalidade eterna”, alimentou os fantasmas da Batalha dos Aflitos e ia se dando bem. Foi eleito presidente do clube pela terceira vez no final de 2010, através do conselho deliberativo, já que no estatuto do clube consta uma cláusula de barreira que obriga um os candidatos a atingirem o mínimo de 30% dos votos, para irem para um segundo turno. Nas urnas, depois que eméritos e beneméritos conselheiros reduzem as margens de manobra, é onde o sócio-torcedor pode votar. Odone eleito pela massa que lota o Olímpico, prometeu fazer o Grêmio voltar a ser vencedor.

Mas um dia a máscara iria cair. Odone não cumpriu o prometido, além dos fracassos do time em campo, fora das quatro linhas não é diferente. O mandatário tricolor fez o clube pagar o “mico” do ano no caso Ronaldinho, com quem negociou durante mais de 40 dias, e chegou a garantir sua contratação com direito a caixas de som no gramado do Olímpico. Deu a cara na mídia, expôs-se publicamente e tentara capitalizar em cima do retorno de quem saíra do clube brigado com a direção. Não deu certo.

A reação vem aos poucos, e nem sempre da forma mais adequada. No twitter e em redes sociais de tricolores rio-grandenses, a ira contra o dublê de cartola e deputado (Como será que ele faz? Como é possível dar triplo ou duplo expediente? Quem conhece a lida da política sabe que é impraticável, mas….) o torcedor gremista sente que foi usado pelo presidente para promover-se publicamente. O castelo de cartas cai quando a massa se inflama, e muitas vezes de forma equivocada. No primeiro protesto contra a direção a tensão leva a Brigada Militar a “baixar a porrada” e esta – o Corpo Auxiliar de Polícia Imperial, anti-farrapa – como de costume, repudia qualquer manifestação popular. O cacete cantou, a borracha queimou e a relação umbilical cartola e torcida estremeceu.

Odone precisa mais da massa de “alma castelhana” do que a torcida dele necessita. Deputado estadual reeleito em 2010 e presidente do PPS em Porto Alegre (obs ansioso: é verdade gente, Odone pertenceria a uma legenda “socialista”…ai São Sepé, que tempos vivemos!) parece ser mais um que aproveita os status de presidente de um grande clube para ter sucesso na carreira política. Pena que não é o único.
Torcedor tem que deixar a visão da política corriqueira de lado, reforçando aquele pensamento tacanho de que: “enquanto o sujeito estiver nos beneficiando não importam os meios para isso”. Afinal, como podemos ver em vários casos (alguém ainda lembra do Eurico Miranda?), os fins que aparecerão em poucos anos costumam ser bem melhores para o cartola e/ou político que para os torcedores/eleitores.

Esta coluna e este portal manifestam-se contra a cartolagem politiqueira no futebol e entende ser necessário um veto onde políticos no exercício do mandato ou candidatos a estes postos no Executivo e no Legislativo não poderiam acumular funções dirigindo clube de futebol profissional. Mas, será que alguém na CBF ou no moribundo Clube dos 13 vai dar bola para isso?!

De novo a tal da janela

O Brasileirão mal começou, e já voltou o assunto da “maldita” janela de transferências de jogadores que vem do exterior. É incompreensível que a mesma só abra em agosto. Todos os anos é aquele jogo de bastidores tentando a antecipação das inscrições dos jogadores contratados. No final da história, a CBF as antecipa, e o Imperador Teixeira fica com crédito junto aos dirigentes dos clubes. Depois, parodiando a interpretação de Marlon Brando na obra de Mario Puzzo reinterpretada para o cinema através do diretor Francis Ford Coppola, “ele irá pedir um favorzinho em troca”.

Só para lembrar, o Corinthians está repatriando vários jogadores, depois de o Andrés Sánchez ter dito em alto e bom tom que é amigo do Ricardo Teixeira e da Globo “apesar de gângster”, não temos dúvida a janela será aberta ainda em junho. É fato inegável, o futebol ganha devido à capacidade destes atletas que estão voltando, mas não precisava ser assim.

Esta é a triste sina do modus vivendi de nosso futebol. O “jeitinho” brasileiro que fará uma edição da Copa do Mundo, mas que ninguém sabe de que forma.

Dijair Brilhantes é estudante de jornalismo, Anderson Santos é jornalista e mestrando em comunicação social na Unisinos e Bruno Lima Rocha é editor de Estratégia & Análise

Deixe um comentário

O seu endereço de e-mail não será publicado. Campos obrigatórios são marcados com *