30 de junho de 2011, da Vila Setembrina, Bruno Lima Rocha
No Velho Mundo, a chamada crise das sub-primes, ou como dizem os espanhóis, “a fraude com nome de crise”, retoma o conceito do Sul da Europa como semi-periferia. Há algo em comum entre Espanha, Portugal e Grécia. Estes três Estados perderam quase toda capacidade de decisão soberana, condicionando a democracia a um jogo de faz de conta. A partir dos convênios e pacotes firmados junto ao Fundo Monetário Internacional (FMI), sob recomendação do Banco Central Europeu (BCE), restará entre pouca e nenhuma margem de manobra para cada Poder Executivo e blocos parlamentares de sustentação.
Surpreende também a desinformação. Porque, como diz John Kenneth Galbraith, “em economia a maioria sempre se equivoca”. Lá foi pior. O que houve não foi o excesso de gasto público como garantia de um patamar mínimo do Estado de Bem-Estar Social. Na Europa o sistema financeiro formal entrou na jogatina dos ativos podres da bolha imobiliária dos EUA. A contaminação de bancos de correntistas levou aos líderes europeus a convocar uma política de salvação, retirando reservas dos tesouros nacionais e aumentando o endividamento público para os maiores bancos não quebrarem. O sistema financeiro de moeda única é subordinado ao BCE, e este impõe “políticas de austeridade” como garantia de pagamento das dívidas dos Estados, mantendo assim o fluxo de dinheiro público para as empresas bancárias.
Como nos explica o economista Vincenç Navarro (vnavarro.org), o alvo são os caixas estatais e sua capacidade de endividamento. Os maiores bancos da Europa causaram a “crise”, ganharam com a fraude e são os grandes interessados na imposição dos “pacotes de auxílio”. A Grécia, hoje falida e beirando uma rebelião popular, foi assessorada por um lobo a tomar conta do galinheiro. Durante o governo do partido ND, conservador, a Goldman Sachs prestou uma assessoria em operações de câmbio reverso e outros produtos heterodoxos. O desastre era inevitável e a fatura vinda do BCE e FMI foi assinada pelo PASOK, atual governo de centro-esquerda.
A desfaçatez não para aí. O próximo presidente do BCE, a tomar posse em 1o de novembro, é Mario Draghi. O ex-presidente do Banco Central da Itália também foi vice-presidente da Goldman Sachs Europa, suspeito de ser um dos responsáveis pelas operações fraudulentas de swap e maquiagem dos balanços fiscais do Estado grego, de janeiro de 2002 a janeiro de 2006. Ou seja, como afirma a Rede ATTAC (attac.org), dessa vez os lobos querem o galinheiro todo.
Este artigo foi originalmente publicado no blog do jornalista Ricardo Noblat