Anderson Santos
Eles criticam o “Partido de imprensa Golpista”, que teriam o intuito de derrubar um “governo dos trabalhadores” atendendo aos interesses do capital oligárquico brasileiro, mas quando o assunto é contrário ao Governo, mesmo que as críticas sejam fundamentadas, a postura é tão autoritária quanto.
Todos que fazem crítica à mídia já devem ter lido em blogs, sites e demais produções opinativas a sigla PiG, “Partido da imprensa Golpista”, para caracterizar os grandes conglomerados nacionais, liderados pelos grupos Globo, Folha, Estadão e Abril, que desde sempre agiria através de matérias e reportagens contra o Partido dos Trabalhadores, principalmente durante o período eleitoral.
É fato consumado através de diversas pesquisas científicas no campo da Comunicação a que objetivos são destinados os discursos dos grupos midiáticos, enquanto empresas de comunicação com suas relações de classe, políticas e econômicas com grandes grupos de outros setores industriais. Em detrimento disso, movimentos sociais são estigmatizados como desordeiros, na ampla maioria das vezes, geralmente sem direito a exercer a tão propalada, inclusive na própria mídia, liberdade de expressão.
Mas se a mídia geralmente fala mal dos movimentos sociais por que só destacamos como autores de críticas ao PiG os jornalistas e blogueiros que se irritam com as críticas ao Governo Lula/Dilma?
O Partido da imprensa Governista
“Valerioduto” (Caixa Dois), suposto “mensalão” para garantir a aprovação de projetos e crises causadas por alguns ministros, que causaram renúncias de nomes fortes como José Dirceu e Antonio Palocci (duas vezes). Só isso poderia ser o bastante para, na prática, se discorrer sobre a guinada do PT na presidência da República – alguém com razão ainda irá lembrar da “Carta aos Brasileiros”, já antes das eleições de 2002, que marcava o pacto para a governabilidade; também das alianças espúrias,…
Ainda assim, há os que defendem o Governo Lula. Até aí tudo bem, mas discordar de alguns fatos contraditórios à história, cada vez mais distante, do PT em suas práticas políticas é exigir demais desse escrevinhador. Ainda mais quando acaba por se colocar a mídia numa dualidade que o mercado oligopólico do setor negaria: o bem contra o mal; a “grande” mídia – com exceções deixadas claramente a largo – contra o povo.
Como se os problemas sociais pudessem ser resumidos a um problema: os grupos dominantes estariam tentando, com amplo apoio da mídia, derrubar o governo aprovado pela ampla maioria dos brasileiros. Mas será que se governa para essa “ampla maioria dos brasileiros” e realmente se está prejudicando os grupos dominantes do país?
Os lucros dos bancos nunca foram tão grandes, as empresas não entraram na crise econômica de forma mais forte graças ao apoio do Governo – e às férias coletivas e demissões em massa. A chamada “mídia burguesa” mal foi tocada durante esses oito anos e meio. Com exceção dos últimos meses do Governo Lula, com Franklin Martins na Secretaria de Comunicação, uma proposta de marco regulatório no setor sempre foi assumidamente relegada.
O ápice, que gerou a criação desse texto, são as críticas ao atraso nas obras da Copa do Mundo e, como quase sempre no Brasil, as possíveis aberturas nos projetos e licitações para superfaturamento e corrupção, vistas na mídia brasileira e que por isso foram denunciadas como forma de o “PiG melar a Copa do Mundo”.
Discordamos num desses espaços, mas nosso comentário foi editado e, de certa forma, nossa opinião foi manipulada. Quer dizer que só podemos aceitar, nos moldes de uma “democracia comunicacional”, as opiniões que vão ao nosso encontro? Achamos que não.
É muito mais que “a imprensa querer melar a Copa”
São representantes desse grupo jornalistas que já passaram pelo PiG e que atualmente estão trabalhando na Rede Record – que, curiosamente, jamais é questionada por eles quanto, por exemplo, às suas fontes extra-mídia: Paulo Henrique Amorim (“Conversa Afiada”); Rodrigo Vianna (“Escrevinhador”) e Luiz Carlos Azenha (“Viomundo”). Além deles, há outros blogueiros, jornalistas e figuras que ninguém se sabe quem são, como “Stanley Burburinho”.
Sejamos justos, por mais que discordemos da posição política de todos. O “Conversa Afiada”, que tanto nos serve de fonte aqui e no programa da Rádio Unisinos FM “Periscópio da Mídia”, faz críticas importantes, inclusive contra figuras praticamente intocadas pela grande mídia, como o banqueiro Daniel Dantas. Além disso, PHA publicou textos críticos contra três ministros do governo Dilma Rousseff: José Eduardo Cardoso, ministro da Justiça, Antonio Palocci, agora ex-ministro-chefe da Casa Civil, e, mais recentemente, contra o ministro das Comunicações Paulo Bernardo.
Só que num texto que chamava a enquete “O PiG quer melar a Copa? Sim e Não!”, Amorim deixava claro nas alternativas que Globo e Folha, dentre outras, estariam disposta a melar a Copa do Mundo como forma de “derrubar a Dilma com o fracasso da Copa”.
Pensando um pouco, qual o motivo que teria a empresas das Organizações Globo para torrar um dos seus programas mais lucrativos, o futebol, num dos maiores eventos esportivos do mundo, em que têm exclusividade na transmissão para o Brasil, ocorrendo aqui, onde provavelmente será protagonista desta transmissão para todo o planeta?
Tentamos escrever um comentário com uma crítica sobre a posição da enquete no mesmo dia, 18/6. Após duas tentativas, o comentário – que recebe uma moderação antes de ir ao ar – não foi postado. Na segunda, inclusive, por motivo de guardá-lo, deixamos num email.
No dia seguinte, percebemos que o site especifica a quantidade de linhas: “O Conversa Afiada não publica comentários ofensivos, que utilizem expressões de baixo calão ou preconceituosas, nem textos escritos exclusivamente em letras maiúsculas ou que excedam 15 linhas”. O primeiro não lembrávamos se tinha essa quantidade; no segundo, deve ter passado em cinco.
Então, na tarde do dia seguinte veio a derradeira tentativa: resolvemos dividi-lo em duas partes, mas sem antes publicar o comentário no site alagoano Sururu Fresco.
Minutos depois só uma parte do comentário foi publicada, a segunda não. Justo a que questionava se a Record também fazia parte do PiG por ter criticado numa série do Jornal da Record, “Cartolas: Jogo Sujo”, a falta de um projeto para a reconstrução do estádio em Salvador. Além disso, deixávamos clara a nossa posição política, bem longe de PiGs, direitas e até mesmo da atual gestão do Governo federal.
Duas horas depois de publicado, o título do post no Sururu Fresco, “A questão não é se ’o PiG quer melar a Copa”, aparece como comentarista, feito num retângulo que o diferencia graficamente dos demais:
“[…] o fato esportivo. Ontem, PHA abriu uma enquete no Conversa Afiada se os seus leitores achavam que “O PiG quer melar a Copa”, com duas alternativas de respostas para lá de tendenciosas, mas que por ser de um blog opinativo […]”.
Cortaram justamente a parte em que afirmo que “por ser de um blog opinativo não precisa ser considerado como estranho”. Afinal, ninguém escreve opinião que não tente convencer os outros, que não seja direcionada.
Não teve como não vir à minha mente uma das punições ao Conversa Afiada por conta de comentários sobre o banqueiro Daniel Dantas: haveria manipulação neste espaço por parte de quem produz o site ou fui alvo de ferozes “petistas”?
Ah, além disso, dois outros comentários, que passaram o limite das 15 linhas foram publicados normalmente. Será que não se admite críticas com fundamento e ironia parecida com as que PHA e cia. fazem ao Partido de Imprensa Golpista?
É por essas e outras, sentidas na “pele”, que não temos como deixar de tratar desses espaços, por melhores informações que nos tragam – e que não deixam de ser utilizadas como fontes quando tal, como PiG 2, o “Partido da imprensa Governista”.
Segue abaixo o comentário que se tentou publicar no Conversa Afiada
“Discordo do posicionamento da enquete, que acaba por apagar a incompetência dos nossos políticos em realizar obras públicas, independentemente de partidos ou grupos políticos. Acho exagero colocar na conta do PIG a incompetência de realizar obras públicas no tempo previsto e com o dinheiro previsto.
Ou ninguém lembra que o Panamericano 2007 gastou dez vezes mais o que estava previsto, e que só saiu com dinheiro público a toque de caixa – seis meses antes – e que alguns espaços desportivos não ficaram adequados a ponto de não ter definição de alguns esportes (acho que foi o caso do beisebol).
A própria Record em que você trabalha, meu caro Amorim, na série “Cartolas: Jogo Sujo”, apontou ontem os problemas na obra de Salvador. Você também a considera parte do PiG? Assim como a todos que criticaram a vinda desses eventos aqui por imaginarmos a “tradição” brasileira de deixar td para última hora e gastar mais que o necessário como tende a ocorrer?
Ah, eu estou longe de ser do PSDB, DEM ou qualquer outra coisa parecida. Estou no oposto dessa margem política, critico a mídia nos espaços que tenho à disposição, mas não dá para achar que vivemos num Brasil maravilhoso após o PT assumir o Governo. Seria incoerência tratar sem ser de forma crítica através do que vemos e ouvimos por conta do histórico do partido”.