07 de julho de 2011, da Vila Setembrina, Bruno Lima Rocha
Em 1989 o professor René Dreifuss publicou “O Jogo da Direita na Nova República”, um clássico da análise política brasileira. A obra disseca a trajetória do “Centrão”, o bloco conservador na Constituinte (1987-1988), além das manobras de Sarney e cia. Por ser este autor parte da leitura obrigatória na área, aporto ao termo conceitual empregado nos anos ’80 por Dreifuss um reverencial neologismo.
Já é de rotina receber informações, no formato de denúncias, afirmando haver nichos de corruptos em algum órgão da União. Até aí nenhuma novidade, nem de parte da mídia brasileira, e menos ainda do mau comportamento político de operadores com envergadura nacional. Esta semana nos deparamos com a denúncia de suposto esquema de corrupção no Ministério dos Transportes (MT), no primeiro escalão do ministro Alfredo Nascimento (PR). Simultaneamente, veio a notícia de que o BNDES pode entrar com alguma participação na fusão das redes de varejo Pão de Açúcar e Carrefour, apoiando a família Diniz na troca de sócios.
Se as denúncias forem verídicas, no MT, trata-se de mais do mesmo. De um lado do balcão, os detentores de cargos-chave maximizam negócios, também gerando dificuldades para vender facilidades. Do outro lado, o Estado que segundo os cânones do neoliberalismo deveria ser diminuto em seu poder de investimento, é na verdade sustentáculo de fusões e concentrações. Assim, gera perda de concorrência capitalista, desnacionalizando setores inteiros, mandando divisas embora, possibilitando tanto a cartelização de preços como o desemprego decorrente da racionalização administrativa.
Se há algo surpreendente nisso tudo, não é o Tesouro Nacional bancar a conta sempre. A surpresa está no fato da oposição tucano-democrata chiar enquanto a suposta aliança de centro-esquerda, tenta contemporizar. É um paradoxo atual. Uma direita reclama da outra direita por haver se aliado com seus antigos adversários políticos, estes que em algum passado longínquo já foram de esquerda. No fim, o pior da cultura política brasileira se une ao motor de concentração econômica em todos os governos – como no de Lula com a fusão da Brasil Telecom com a OI e no de FHC, com a criação da AmBev – gerando uma forma contemporânea de conservadorismo e desnacionalização. No novo jogo da direita brasileira, ela tem o dom da ubiqüidade, pois está em todo o lugar, hegemonizando a oposição formal e condicionando os governos a aceitar pactos de governabilidade, pagando o preço que for preciso para isso.
Obs: ao final da tarde do dia em que o texto foi primeiramente publicado, o ministro dos Transportes Alfredo Nascimento, veterano do governo de Luiz Inácio, foi instado a deixar o cargo, pedindo demissão. Aparentemente o Partido da República, PR, segue na base do governo.
Este artigo foi originalmente publicado no blog de Ricardo Noblat