Bruno Lima Rocha – artigo originalmente publicado na Revista Manutenção (www.revistamanutencao.com.br)
Trata-se de um tema recorrente. Como este analista estuda o tema há pelo menos duas décadas, vamos resgatar textos de forma a gerar um sentido conjunto e atual. A este respeito, abordamos a censura dos conglomerados na agenda “econômica”, quase sempre com inclinação para a especulação e operando com conceitos de neoliberalismo vulgar. Vamos colando as peças de modo a desmontar a inversão de sentido. Porque aplicação não é investimento, e rentismo não produz sequer um parafuso. A economia a serviço da vida tem de se livrar da parasitagem, forçando o sistema financeiro a operar como fomentador do crescimento, do desenvolvimento e da produção.
A hipótese central: as editorias de economia como porta-vozes da especulação
Infelizmente, é difícil observarmos o contraditório dentro das agendas de “economia” na mídia profissional brasileira. Reconheço que os conglomerados se posicionam contra a direção política do protofascismo de linha chilena governando o país na dobradinha Bolsonaro e Paulo Guedes. Mas, como em jogada ensaiada, atacam o primeiro e poupam o segundo, não tanto pela lealdade ao Chicago Boy de raiz, mas na defesa de um modelo econômico subalterno e periférico. O “consenso” da mídia opositora do trumpismo tropical se dá também ao operar como porta-voz dos parasitas, indo de encontro justamente do desenvolvimento capitalista no Brasil. Para qualquer país latino-americano, a dependência e o colonialismo interno, são tão presentes como o Comando Sul dos EUA ou os investimentos diretos de capitais chineses no século XXI.
Vejamos como opera a censura prévia instaurada.
Criticar a cobertura midiática supostamente especializada da economia não é um debate novo. O tema é algo redundante, justamente em função disso mostrando-se relevante para os investigadores da comunicação social. Também não é novidade o uso de eufemismos e do emprego do jargão “técnico” como forma de mascaramento de situações factuais dos agentes econômicos.
Como hipótese, aponta-se que a maior parte da cobertura jornalística em economia oficia mais como porta-voz do capital financeiro do que como intérprete de seu acionar. E, por optar pela angulação da cumplicidade, os especialistas, colunistas e fontes da indústria da comunicação quase nunca explicitam questões que seriam indiscutivelmente importantes para a compreensão, por parte da população em geral, dos bastidores de lutas por poder e capital articulados em larga escala. (https://estrategiaeanalise.com.br/teoria/o-jornalismo-econ%C3%B4mico-como-porta-voz-do-capital-financeiro,34b93bc7f5c4bb0aecde15787e434a78+01.html)
A defesa recorrente do “pensamento único”
Escrevo esse texto no auge da segunda onda da pandemia de coronavírus. A Covid-19 escancara a necessidade de no mínimo, a retomada de um pacto de tipo neo-keynesiano e a necessidade de planejamento central alinhado com arranjos produtivos regionais e locais. O desgoverno protofascista tenta tornar absoluta a diferenciação de riqueza e pobreza e a forma predatória de exploração intensiva. A relação com os preços internacionais de petróleo e derivados e a crise hídrica comparada com a do Chile não formam nenhuma coincidência.
Ao tentar moldar um espaço diminuto para os instrumentos de política econômica e o permanente favorecimento do capital financeiro, os conglomerados de mídia ajudam na subordinação das sociedades.
O pensamento único não é neutro, nem mutável; além disso, não há outro como ele. Traduz em “termos ideológicos com pretensão universal os interesses do capital internacional” (Ramonet) daqueles que são denominados mercados financeiros, isto é, os grandes acumuladores de fundos. Tem sua origem nas instituições econômicas internacionais – entre outras, Banco Mundial, FMI, OCDE, GATT e depois OMC, Banco Central “independente” – que usam e abusam do crédito e da reputação de imparcialidade que lhes são atribuídos. Pretende submeter os candidatos eleitos às suas Tábuas da Lei, à única política possível. A que seria incontornável (pensamento pensável, obs. do autor) e tem o aval dos ricos. O pensamento único sonha com um debate democrático destituído de sentido uma vez que deixaria de ser juiz entre os dois termos uma alternativa. Ceder a esse pensamento é aceitar que, por toda parte, a rentabilidade tome o lugar da utilidade social, é encorajar o desprezo pelo político e submeter-se ao reino do dinheiro. (https://estrategiaeanalise.com.br/teoria/da-contra-informac%C3%A3o-ao-pensamento-%C3%BAnico-neoliberal:-conceitos-de-cr%C3%ADtica-%C3%A0-ind%C3%BAstria-da-m%C3%ADdia,420757fce1d843aa90021fac9ed9aee5+01.html).
O pensamento único descrito por Halimi é composto pelas premissas válidas, os pensamentos pensáveis e as bases de elaboração de hipóteses em concordância com os poderes de fato. Estes poderes, os mesmos que são proprietários dos instrumentos de produção da indústria da mídia, permitem a reprodução dos debates que geram divergências contornáveis e, através de distintas maneiras, abafam as divergências sistêmicas, nevrálgicas por suas próprias premissas.(https://estrategiaeanalise.com.br/teoria/da-contra-informac%C3%A3o-ao-pensamento-%C3%BAnico-neoliberal:-conceitos-de-cr%C3%ADtica-%C3%A0-ind%C3%BAstria-da-m%C3%ADdia,420757fce1d843aa90021fac9ed9aee5+01.html)
Apontando linhas conclusivas
Nesta seção, apontamos linhas de conclusão sobre a hipótese da grosseira manipulação jornalística a favor dos parasitas financeiros e a ausência do contraditório no debate econômico. Vamos desconstruindo os mitos.
O mito do “trabalho criativo”
“Não há economia sem materialidade, por mais que a carga informacional sobre uma mercadoria seja enorme, por vezes sendo quase impossível de quantificar. Ao mesmo tempo em que dificulta pensar categorias estanques – como trabalhador braçal e trabalhador intelectual – se torna possível e identificável o 4º setor. É a tecnificação do saber profissional criando uma nova classe de produtores: baseada na criatividade do trabalhador polivalente como forma de extrair a força de trabalho fazendo, por exemplo, quatro ou mais funções, além daquela para o qual formalmente foi contratado; e não controlando tanto os tempos e movimentos (base da linha fordista), mas dando “liberdade” de produzir em ambientes interativos e onde a criatividade pode ser exercitada “em qualquer das 24 horas de um dia corrente”. (https://estrategiaeanalise.com.br/teoria/capital-informac%C3%A3o-e-economia-digital:-as-m%C3%BAltiplas-faces-constitutivas-da-globalizac%C3%A3o-corporativa-do-capitalismo,aa22ebefb7d99b84f55735fe51f56b2c+01.html)
O mito da “especulação honesta”
Em tese, o ato de especular deriva das informações fragmentadas e do risco. Desse modo, um gerente de operações de um Fundo de Investimento (hedge fund) teria a capacidade de antecipação, vendendo títulos e ações na alta e comprando-os na baixa. Nesse jogo, a aleatoriedade é a regra para evitar as fraudes. Logo, o acionar fraudulento é a combinação de vendas e compras em conjunto, manipulando o chamado comportamento de manada, quando, em tese, todos os investidores se moveriam na mesma direção. (https://estrategiaeanalise.com.br/teoria/o-jornalismo-econ%C3%B4mico-como-porta-voz-do-capital-financeiro,34b93bc7f5c4bb0aecde15787e434a78+01.html)
O mito da narrativa rentista como sendo “natural”
Os meios de comunicação de massa exercem influência sobre os indivíduos, auxiliando a formação de opiniões e decisões destes e pautando os assuntos que as pessoas debaterão durante o dia, inclusive nas discussões relativas aos pleitos eleitorais. Além da faculdade de legitimação, a mídia atua como mediadora entre as experiências coletivas e as individuais, contribui com a atividade do consumo, integra um novo conjunto de instituições produtoras e emissoras de sentido nas sociedades modernas e ocupa o posto de arena dos debates políticos. (https://estrategiaeanalise.com.br/teoria/pol%C3%ADtica-e-m%C3%ADdia-no-brasil:-intersec%C3%B5es-para-uma-an%C3%A1lise-hist%C3%B3rico-estruturante,ae4b12e76ce57da3645aa9a913fc7d99+01.html)
A mesma analogia deve ser feita para todo o âmbito do debate econômico. Repete-se a farsa fiscalista, a panaceia que o “dinheiro pode acabar”, ou a psique coletiva plantando se o (“mercado” está calmo ou nervoso). Superar estes mitos e essas falsificações absurdas é uma tarefa fundamental na defesa do desenvolvimento e de uma sociedade com emprego direto e trabalho vivo.