O texto aponta a disputa pela construção da identidade e da memória coletiva que é travada nos diferentes lugares da memória e que, estas referências às experiências passadas, (vividas e ou herdadas) constituem a Cultura Histórica de um povo.
Por Anderson Romário Pereira Corrêa.
Alegrete, 03 de março de 2009.
O objetivo deste texto é demonstrar que o Campo da História, “lugar” onde está em disputa a construção e manutenção de identidades através da memória, é dividido em três macro setores: História (acadêmica ou cientifica), História Escolar e os demais “lugares da memória”. Os três setores que compreendem o Campo da História configuram o que pode ser chamado de “Cultura Histórica”, que é a maneira como os indivíduos e a sociedade compreendem o processo de auto -construção e reconstrução no transcorrer dos tempos.
A História acadêmica ou cientifica é a história construída com rigor metodológico e teórico que caracteriza-se por um conjunto de procedimentos metodológicos. Astor Antônio Diehl (2001:23) define os princípios metodológicos do pensar histórico: “O pensar histórico terá plausibilidade cientifica se for baseado no principio da fundamentação argumentativa e conseguir ratificar sistematicamente suas pretensões de validade.” Para o autor, a perspectiva da plausibilidade é composta por: teor das experiências, teor das normas e teor dos sentidos. As pretensões de validade (verdade) e/ou plausibilidade podem ser possíveis em três perspectivas diferentes, mas seguramente interligadas. São passos operativos da pesquisa histórica: Heurística, critica, interpretação e narração.
Oldimar Cardoso (2008) afirma que a História Escolar é a história com finalidade pedagógica para os jovens. Por muito tempo pensava-se que a História Escolar seria apenas uma reprodução na Escola das pesquisas desenvolvidas pela História Acadêmica ou Cientifica. Segundo Oldimar, sabe-se que a História Escolar possui uma dinâmica própria, e que, além disso, trabalha também com a construção do conhecimento (a construção do saber não está exclusivamente na academia). Não se pode esperar que jovens pré-adolescentes e adolescentes construam pesquisas “acadêmicas” no Ensino Básico. Desta forma, as pesquisas escolares podem explorar diversos tipos de testemunhos em sala-de-aula. É de fundamental importância a utilização de pesquisa oral para abordar a memória, a história do tempo presente e das mentalidades.
Le Goff (1990) refere-se aos “Lugares da memória”, conceito criado por seu colega historiador Pierre Nora. “Lugares da memória” são “Lugares topográficos, como os arquivos, as bibliotecas, os museus; lugares monumentais como os cemitérios e as arquiteturas; lugares simbólicos como as comemorações, as peregrinações, os aniversários ou os emblemas; lugares funcionais como os manuais, as autobiografias ou as associações: estes memoriais tem a sua história”. Também não podemos esquecer que os verdadeiros lugares da história são àqueles constituídos pelos sujeitos que são os agentes criadores e denominadores da memória coletiva: “Estados, meios sociais e políticos, comunidades de experiências históricas ou de gerações, levadas a constituir os seus arquivos em função dos usos diferentes que fazem da memória”. Em fim, “Lugares da Memória” são todos aqueles espaços e momentos em que faz-se referência ao passado, seja na forma de mitos, lendas, lembranças de experiências. Estes “lugares da memória” são revistas, jornais, emissoras de rádio e televisão, a Escola, a Universidade, as festividades cívicas e populares, museus, memoriais e arquivos.
A articulação destes espaços denominados de “Lugares de Memória” compõe a “Cultura Histórica” de um povo. No “Campo da História”, a estratégia que tem por objetivo a construção e reconstrução das identidades coletivas deve contemplar os “lugares da memória” como um todo, desde a história acadêmica, escolar e os demais lugares da memória.
Bibliografia:
DIEHL, Astor Antônio. Do Método Histórico. 2ª ed. Passo fundo: UPF, 2001.
CARDOSO, Oldimar. Para uma definição de didática da história. Revista Brasileira de História. São Paulo, v.28, nº 55, p.153-170 – 2008.
LE GOFF, Jacques. História e memória. Campinas: Unicamp, 1990.